O duro olhar dos homens
e o dos touros espreitam
a mansa tarde com rancor.
(Garibaldi Otávio, poeta pernambucano.)
Jornalistas não sabem como tratar os bandidos
Absurdo na capa do UOL de sábado, 20 de março, dois dias antes do julgamento do casal:
Caso Isabella -- Nardoni pode ter pena maior do que madrasta; veja acusações.Janistraquis, que não é advogado mas tem o curso primário completo, ficou perplexo:
"Considerado, o site já promoveu o julgamento, condenou e estabeleceu a pena; como se pode denominar um comportamento desse tipo?"
Não sei, mas uma coisa é certa: o UOL não praticou bom jornalismo com a "chamadinha" espúria.
Aliás, falta bom senso quando a imprensa trata de questões policiais ou jurídicas. Nos telejornais a coisa é dolorosamente azabumbada, como diz o considerado Ilacir Ferdinando Meirelles, advogado em São Paulo:
É inadmissível a "intimidade" de repórteres e apresentadores com autores de crimes, alguns dos quais hediondos. O caso mais recente é este do assassinato de Glauco e o filho Raoni, mortos por um perigoso drogado que poderia ser chamado de assassino, criminoso, bandido, marginal, etc. etc.
Entretanto, recebe de jornalistas profissionais um tratamento familiar e se transforma em Cadu, também chamado, com singeleza e candura, de jovem, estudante, rapaz, universitário... Alguns telejornais chegam ao cúmulo de se referir a ele como "suspeito", embora tenha confessado o crime e até baleado um agente da Polícia Federal ao tentar fugir para o Paraguai.
O dr. Meirelles está coberto de razão; quem trata bandido como cidadão respeitável é o PT.
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Fascismo
A Anvisa, organismo que bem poderia ser presidido por Mussum, se este ainda participasse do grupo com Didi, Dedé e Zacarias, pois a Anvisa, organismo fascistamente atrapalhado, se me permitem, agora quer proibir a venda de antibióticos sem receita médica, como se fosse Valium ou Prozac.
A agência, que seria burlesca se não fosse calamitosa, informa que "no mundo inteiro é assim". Acontece que o Brasil não tem um médico em cada esquina para expedir a receita; e se a bobagem for oficializada, o doente vai pagar, além do preço do antibiótico, o absurdo da consulta médica, para não perder o dia na fila do posto de saúde. Depois ainda ficam aborrecidos quando a gente reclama e diz que este é um país de m...
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A causa de Glauco
O considerado Marco Antonio Zanfra, assessor de imprensa do Detran de Santa Catarina, despacha de seu bem aparelhado QG na Praia da Joaquina:
Este "Erramos" da Folha dá o que pensar -- COTIDIANO (23.MAR.PÁG. C7) Título da reportagem "Rapaz que levou Nunes até a casa de Glauco é indiciado" grafou incorretamente a palavra "casa".
A gente fica imaginando de que forma a palavra foi escrita, para merecer gritante correção: kasa? caza? kaza?
(Na verdade, escreveram "causa", mas eu não perderia a oportunidade de me divertir com mais esse erro absurdo do maior jornal do País...)
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Ô dificuldade!!!
Chamadinha na capa do já mencionado UOL:
Gisele Bündchen chega com o filho, Benjamin, a São PauloJanistraquis tem a impressão de que assim poderia ficar um pouco melhor:
Gisele Bündchen chega a São Paulo com o filho Benjamin******
Amor ao livro
O colunista, que é contumaz amante dos livros, roga ao considerado leitor que visite esta página e confira a entrevista de André Garcia, criador do site Estante Virtual, ao editor Luiz Costa Pereira Júnior, de Língua Portuguesa, revista publicada pela Ed. Segmento.
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Almanaque Brasil
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, de cujo banheiro, em subindo-se nas bordas do vaso sanitário, enxerga-se o armário no qual está absconso o smoking que o presidente vai usar ao tomar posse como secretário-geral da ONU, pois Roldão examinava a edição de fevereiro do Almanaque Brasil quando encontrou panos pra manga:
Página 11 -- "Levado pelo filho Pedro I ao Largo do Rócio (sic), o rei caiu em prantos diante do povo."
(O nome do largo é Rocio e não 'Rócio'. Trata-se da atual Praça Tiradentes, no centro da cidade do Rio de Janeiro.)
Página 25 -- "Os inventos de Santos-Dumont: Além do 14-Bis, Santos-Dumont inventou outras máquinas voadoras poderosas. A mais conhecida foi a pequena Demoiselle (senhorita, em francês)."
(Não se usa o hífen no nome de Santos Dumont. E demoiselle, em francês, pode ser senhorita ou libélula. E é evidente que a demoiselle de Santos Dumont só poderia ter o significado de libélula.)
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Perguntas de lascar!
O considerado Sérgio Vieira, da revista Reciclagem Moderna, envia recado aos repórteres da TV, na esperança de que dêem a volta por cima e se requalifiquem, para o bem de suas reportagens:
Caros repórteres de televisão que cumprem a árdua tarefa de cobrir enchentes, desmoronamentos, chacinas e tragédias em geral, gostaria de pedir-lhes a gentileza de que risquem de seus repertórios perguntas assim: "Como você está se sentindo?"; "Como é que está a família?"; "O que você vai fazer agora?"; ou a espetacular: "Você está sofrendo muito?".
Meu Deus, o que se espera como resposta de uma pessoa que perde casa, filhos, pai ou mãe? Talvez uma coisa do tipo: "Olha, minha vida está uma merda com essa desgraça, mas estou dando pulos de alegria". A narração do "off" e as imagens que compõem a cena já demonstram que os sobreviventes de tragédias, ou parentes de vítimas, estão num péssimo dia. Por que raios é preciso "confirmar" a situação com perguntas sem o menor sentido?!?!?!?
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Cantinho discreto
O considerado Youssef Ibrahim, advogado veterano e sábio, correspondente desta coluna no Vale do Paraíba, despacha de sua concorrida banca:
Está na capa do jornal Valeparaibano, num cantinho, digamos, “discreto”:
PACIENTES DEFENDEM MÉDICO
É notícia sobre um ginecologista de Taubaté que está sendo acusado de abusar de algumas pacientes. Mas no corpo do texto que vem logo abaixo da chamada é que está a pérola da concordância:
“Um grupo de pacientes do ginecologista de Taubaté investigado por suposto abuso saíram em defesa do médico...”.
Talvez o grupo sejam da Associação dos AdEvogados do Brasil (ADEBRA), seção do Vale do Paraíba. Vai saber...
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Sandra & Evaristo
Janistraquis dedicou longo tempo a examinar os telejornais e concluiu:
"Considerado, todos contêm falhas, algumas tenebrosas, a linguagem é muitas vezes dolorosa, como está registrado no início da coluna. Uma coisa, porém, é certa: Sandra Annenberg e Evaristo Costa, do Jornal Hoje, da Globo, formam a mais competente e divertida dupla do jornalismo televisivo."
O colunista assina embaixo.
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Nota dez
O considerado Sérgio Augusto, melhor jornalista cultural do Brasil, escreveu artigo no Estadão no qual analisa a, digamos, patologia do plágio, esta falha de caráter que vem sempre acompanhada do mais abominoso cinismo:
(...) Nos anos 1980, um repórter da área de cultura de um jornal brasileiro de grande circulação apropriou-se da resenha de um livro sobre David Bowie, editado pela Rolling Stone, e, flagrado o delito, amparou-se numa presuntiva jurisprudência pós-moderna: como nada é original, pois tudo deriva de criações anteriores, num processo de contaminação tautológica sem fim, o plágio não existe.
Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo intitulado Piratas da perna de pau, que faz muita gente boa se lembrar daquele gorro de forma cônica ou semi-esférica mais conhecido como carapuça.
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Errei, sim!
"TEXTO IMPIEDOSO -- Grande momento do obituarista do Jornal da Tarde, de São Paulo, ao lamentar a morte do jornalista Flávio Galvão: '( ... ) No jornalismo, exerceu funções destacadas em O Estado, galgando posições desde a de noticiarista da então sessão Internacional até as de responsável pela coluna diária que editou durante anos sob a rubrica Política em São Paulo'.
Janistraquis, que chegou a conhecer o extinto, deixou-se carpir: 'Considerado, um jornalista da seção Internacional do Estadão e editor da coluna sob a rubrica Política em São Paulo merecia epitáfio mais castiço'. Sustentei que o texto poderia ter sido até mais impiedoso; ao obituarista, bastaria ter escrito rúbrica para o pranteado levantar-se do sepulcro num esgar reprovador.'" (abril de 1994)
Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.
(*) Paraibano, 67 anos de idade e 47 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada “Carta a Uma Paixão Definitiva”.
Fonte: Comunique-se
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