terça-feira, 27 de julho de 2010

Comparecer à empresa nem sempre é sinal de produtividade

Caio Lauer

Diferente do absenteísmo, termo que caracteriza a ausência do colaborador, o presenteísmo é um fator que prejudica na produtividade das corporações e no desenvolvimento de profissionais de todas as áreas de atuação. A pessoa pode até estar presente todos os dias na organização, mas na maioria do tempo não há concentração no trabalho e o pensamento está bem longe dali. É corpo presente e a cabeça ausente.

Esse fenômeno se justifica por algum problema pessoal, familiar ou de saúde, onde o profissional comparece ao trabalho, mas por conta desses percalços, não produz devidamente. A corporação também tem grande influência na questão organizacional, relacionada com a inconsistência e de falha no desenvolvimento de políticas claras de recursos humanos. Essas regras, muitas vezes, são justificadas na falta de envolvimento do profissional nas políticas de gestão da empresa e na ausência de uma visão mais participativa do funcionário. Todos esses fatores se misturam com o mercado competitivo, desgastante e cheio de pressão por todos os lados, e são as maiores causas do presenteísmo.

Os próprios funcionários se boicotam por problemas de saúde, pois podem estar muito mal, mas mesmo assim vão trabalhar por receio da concorrência (perder o cargo ou função). “Existe tanta pressão no dia a dia que causa estresse, cansaço e irritação em situações extremas e que prejudicam na produtividade. Mas, como medo de demissão, mesmo assim o profissional comparece ao trabalho”, aponta Cecília Shibuya, vice-presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV). Para ela, há como mensurar o presenteísmo identificando a freqüência da ida de colaboradores aos ambulatórios e de problemas de relacionamento interpessoal dentro da organização. “Após isso, deve-se cruzar esses fatos com a produtividade, o que é não é fácil de medir de qualquer forma. Mas não acredito que a empresa seja a grande vilã. As pessoas devem administrar vida e carreira”, opina.

A visão do setor de Recursos Humanos está voltada para o entendimento de que são as pessoas quem fazem a diferença. Mas, na medida em que os colaboradores adoecem físico e psicologicamente, o problema não é mais individual. Isso mostra que a companhia como um todo também está ficando doente, pois caso esse problema se replique constantemente, demonstra que os funcionários estão trazendo para dentro do ambiente de trabalho fatores negativos. Isso interfere na produtividade, qualidade de trabalho e cria um bloqueio para que se identifiquem, de fato, com as organizações. “A empresa também deve selecionar gestores que apliquem essa política de forma clara e transparente, estimulando a equipe ao desenvolvimento das atividades e dando a oportunidade de evolução profissional”, observa Beatriz Magadan, diretora da DRH Consultoria (focada em desenvolvimento humano).

A corporação pode perder talentos, caso não seja criado um canal aberto de comunicação. A falta de contato entre colaboradores e companhia, na medida em que esse problema se consolida, pode acarretar muitas vezes em demissões ou afastamento voluntário. O profissional deve se aproximar, se não do gestor – porque muitas vezes pode não se sentir a vontade pela cultura ou clima na organização -, por meio de colegas ou do próprio RH da empresa. É muito importante que busque esse canal para expressar o conflito, seja familiar ou financeiro.

Uma vez identificado o presenteísmo, deve haver o comprometimento de reverter esse quadro. A corporação deve oferecer aplicação de programas de qualidade de vida, ações voltadas ao combate do estresse – convênios com academias, ações que estimulem atividades físicas e alimentação saudável -, e não somente disponibilizar palestras informativas. A identificação permanente da visão que os colaboradores têm da companhia também é fundamental para um alinhamento. A chamada para participação, no sentido de trazer novas ideias, também pode estimular o profissional. “Empresas que tem padrão de relações permanentemente estudados nessa interação com os indivíduos da organização estarão na frente, pois estes profissionais irão perceber esse cuidado. Os gestores irão identificar esse problema em cima de números de queda de produtividade, falta de alcance de metas e resultados buscados”, relata Beatriz Magadan.

Trabalho intrapessoal

Quando há a identificação de que existe um problema que o prejudica no desempenho em sua rotina, o colaborador está um passo a frente. Normalmente, há um nível alto de estresse e fadiga, e tudo é motivo para que não haja a produção devida ou o irrite. “O profissional pode autocombater o presenteísmo praticando atividades que gosta. Tem gente que não sai para almoçar, faz reuniões excessivas, e isso deve sempre ser policiado para que administre o tempo de uma forma que possa se sentir mais feliz”, indica Shibuya.

O trabalho não é o grande vilão. O que deve ser feito é administrar e priorizar as atividades.

Fonte: Jornal Carreira & Sucesso

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