quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sob efeito da crise, número de desempregados tem maior alta da década, aponta Pnad

Clarice Spitz

RIO - O retrato do Brasil em 2009 era de um país que sofria reflexos da crise financeira internacional no mercado de trabalho. Mostra mais abrangente da evolução de emprego e renda do brasileiro, fornecida pela Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (Pnad), revela que o número de desempregados subiu quase dois dígitos (18,5%) sobre 2008. Se levada em conta a série que exclui a região rural do Norte do país, trata-se da maior elevação da última década. O estudo foi divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entre os mais atingidos, os jovens. A maior parcela dos que estavam à procura de emprego tinha entre 16 e 24 anos. Mais vulneráveis e menos experientes, os mais jovens foram mais afetados pela crise internacional. Do total de desocupados, 42,2% tinham entre 16 e 24 anos. O segmento entre 15 e 17 anos registrou o pior desempenho, passando de uma taxa de desemprego de 20,6%, em 2008, para 23,4%.

A pesquisa também apontou que o cenário permanece bastante desigual entre homens e mulheres no mercado de trabalho. As mulheres eram maioria da população brasileira, mas também "campeãs" de desemprego e derrotadas da renda, ganhando salário em média muito inferior ao de homens. Elas recebiam, em 2009, em média 67,1% do salário recebido pelos homens. Em 2004, por exemplo, essa proporção era menor: 63,6%.

O ano, porém, foi de melhora na qualidade do emprego, com ganho real de poder de compra e abertura de vagas com carteira de trabalho assinada, revela Pnad, maior radiografia do comportamento do mercado de trabalho.

E se a posse de bens de consumo, indicador de qualidade de vida, cresceu e 94 milhões de pessoas declararam ter telefone celular em 2009. O celular já era o único telefone para 41,2% dos domicílios. Por outro lado, o telefone fixo convencional desaparecia de boa parte das residências.

O acesso à internet também continuava em franca expansão. A web que sempre foi domínio dos mais jovens, agora mostrava ser um terreno que desperta cada vez mais o interesse dos maiores de 50 anos .

Desemprego

A crise financeira internacional pesou no mercado de trabalho brasileiro em 2009.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que realiza a pesquisa, a taxa de desemprego no país subiu para 8,3%, depois de alcançar em 2008 o menor patamar dos últimos seis anos: 7,1%.

Entre os trabalhadores escolarizados, o quadro foi pior aqueles com nível superior, médio e fundamental incompletos.

Os setores que apontaram cenário mais obscuro para o emprego foram indústrias de transformação e agrícola e Limpeza urbana e esgoto, atividades recreativas.

Rendimento

A economia gerou apenas 0,3% de postos de trabalho frente a 2008. A taxa praticamente estável foi insuficiente para atender a demanda de pessoas que se lançavam no mercado. Por outro lado, a pesquisa indica melhora qualitativa na criação de emprego. Houve crescimento de 1,5% no número de postos com carteira de trabalho assinada em relação ao ano anterior. Frente a 2004, o contingente de trabalhadores com carteira registrou incremento de 16,7%.

A renda dos trabalhadores também avançou 2,2% para R$ 1.082,00, turbinada pela elevação do salário-mínimo. Apesar do crescimento, porém, o rendimento ainda não conseguiu alcançar o patamar de 1996, quando o país vivia sob efeito da estabilização monetária e do Plano Real.

- Ainda sim houve qualidade no emprego que continuou crescendo. A carteira de trabalho e a contribuição para Previdência tiveram ampliação - afirmou o gerente da pesquisa, Cimar Azeredo.

Desigualdade

Segundo o IBGE, apesar da alta, a taxa do desemprego no país não registrou o mesmo ritmo de países desenvolvidos. Nesse caso, o instituto realizou uma comparação entre a taxa mensal de desemprego, que leva em conta outra metodologia. Nessa base de comparação, a taxa de desemprego brasileiro subiu menos, passando de 7,9%, em 2008, para 8,1%, em 2009. No caso dos Estados Unidos, por exemplo, o desemprego elevou-se de 5,8% para 9,3%. Na França, chegou a 9,1%, em 2009, depois de registrar 7,4%, em 2008.

O Brasil também registrou leve queda na desigualdade entre 2008 e 2009. O Índice de Gini, que leva em conta a renda do trabalho, passou de 0,521, em 2008, para 0,518, em 2009. Pelo indicador quanto mais perto de 1, mais desigual o país.

- A crise foi muito mais assustadora lá fora. Vimos aqui uma sombra de crise - afirmou Cimar Azeredo, gerente da pesquisa.

Se consideradas todas as rendas do trabalhador, que incluem também programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, doações, entre outros, a pesquisa também revela queda na desigualdade a um ritmo mais intenso. O Índice recuou de 0,514, em 2008, para 0,509.

Região Norte

A região Norte registrou indicadores pouco favoráveis em termos de mercado de trabalho e desigualdade. Segundo a Pnad, a região registrou o maior aumento na taxa de desemprego entre as regiões, passando de 6,5%, em 2008, para 8,6%, em 2009. O Amapá foi o Estado com mais alto índice de desempregados (13,1%).

A região também foi a única a apontar aumento da desigualdade. O Índice de Gini, que considera os rendimentos do trabalho, era de 0,479, em 2008, e saltou para 0,490, em 2009, na contramão de todas as demais regiões.

Fonte: O Globo

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