quarta-feira, 5 de maio de 2010

Para especialistas, jornalismo cultural vive crise com o avanço da web

Izabela Vasconcelos, de São Paulo

O jornalismo cultural foi o mais afetado pelo crescimento das novas mídias e redes sociais, acreditam especialistas reunidos no II Congresso de Jornalismo Cultural, em São Paulo. Para eles, os blogs e as redes sociais abriram espaço para que toda sociedade seja crítica, o que desvaloriza o trabalho dos especialistas.

“Num ambiente onde todos podem fazer crítica, o crítico cultural perde seu valor. Isso é curioso porque não acontece em outras áreas, como no jornalismo esportivo, político, mesmo tendo vários blogs sobre o assunto”, avalia Marion Strecker, diretora de conteúdo do UOL.

Ivana Bentes, professora de comunicação e cultura da UFRJ, compartilha a mesma visão. “Esse meio está em crise, porque há uma grande quantidade de mediadores, antes se trabalhava com a escassez da informação. É uma mudança de eixo de poder, isso eu não tenho dúvida”.

Para Carlos Graieb, editor-executivo da Veja, o jornalismo cultural precisa se posicionar melhor. “O jornalismo cultural está numa posição defensiva demais, precisa reafirmar seus valores”, declarou.

Graieb defendeu que é importante dividir a opinião e crítica qualificada, da avaliação amadora. “O que não deve acontecer é desvalorizar o conhecimento acumulado do jornalista”, frisou.

O debate ficou acalorado quando Ivana defendeu como plenamente positivo o aumento dos formadores de opinião na internet, e afirmou que o jornal traz notícia “velha em árvores mortas”. “Agora as pessoas produzem conteúdo. Eu leio os jornais para ver o que eles não deram. O jornal traz notícias velhas em árvores mortas”. E complementou. “Pra mim o melhor suplemento cultural é o Google, onde aparecem vários arquivos, e eu não fico refém da opinião de alguém”, argumentou.

Marion discordou da colega. “É uma maldade dizer que o jornal é notícia velha em árvore morta. É o mesmo que dizer que os livros que já foram escritos não são relevantes”.

A diretora de conteúdo do UOL afirmou que o uso do Google requer cautela. “O Google não é bonzinho, não está aqui para resolver os problemas da humanidade. Ele traz preciosidades, mas traz tudo. A internet é um mundo maravilhoso, mas tem um enorme número de problemas”, disse.

No final do debate, Ivana ressaltou que não desvaloriza o jornalismo cultural, mas que a internet abriu um novo modelo de economia e difusão de conteúdo, com mais liberdade.

Fonte: Comunique-se

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