sexta-feira, 11 de junho de 2010

Grupos brasileiros encolhem no exterior; cenário melhora

Por Cesar Bianconi

SÃO PAULO, 9 de junho (Reuters) - A crise econômica global do ano passado fez as multinacionais brasileiras reduzirem negócios no exterior, mas as empresas mantêm planos de reforçar presença no mercado internacional à frente, apontou estudo da Fundação Dom Cabral (FDC), divulgado nesta terça-feira.

"Apesar da baixa satisfação com o desempenho no exterior, as companhias brasileiras estão mais otimistas, sobretudo a partir de 2011. Mas ainda esperam que o desempenho no mercado interno será melhor do que fora do país", disse o professor da FDC Jase Ramsey, um dos responsáveis pelo levantamento. Em 2010, a ordem no exterior é "expansão seletiva", segundo ele.

O frigorífico JBS, que não figurava no último ranking da FDC, aparece como o grupo brasileiro mais atuante lá fora, com indicador de internacionalização de 0,616. Um índice de 1 significaria ter 100 por cento das operações no exterior.

A JBS tinha 83,6 por cento de sua receita e 64 por cento dos funcionários no exterior no fim de 2009. Já os ativos do frigorífico fora do Brasil representavam apenas 37,3 por cento do total. "Isso se deve ao crescimento também no mercado doméstico, onde a empresa elevou em 143 por cento seus ativos, principalmente após a aquisição da Bertin", destacou a FDC.

A Gerdau, que nas três edições anteriores do ranking foi classificada como grupo com sede no Brasil mais forte no exterior, caiu para a segunda colocação, com índice de 0,495 -contra 0,570 um ano antes. A produtora de aço tinha pouco menos da metade das vendas e dos empregados no exterior, mas 54,4 por cento dos ativos fora do Brasil no fim de 2009.

A presença expressiva da Gerdau na América do Norte e a atuação no setor siderúrgico, um dos mais atingidos pela crise global, explicam a queda do índice de internacionalização da companhia.

Em termos geográficos, a Vale é a transnacional brasileira mais diversificada, com presença em 33 países, seguida por Petrobras, em 26 países.

No mapa global, América Latina ganhou relevância nos negócios dos grupos brasileiros, enquanto Estados Unidos e Europa -regiões mais afetadas pela crise global- perderam terreno. E África, Ásia e Oceania começam a despertar atenção.

MAIS FUNCIONÁRIOS NO EXTERIOR

No geral, as 23 maiores multinacionais sediadas no Brasil, que têm ao menos 10 por cento de seus negócios no exterior, apresentaram receita e ativos menores em 2009 frente a 2008.

As vendas no mercado internacional desse universo caíram quase 16 por cento no ano passado, para 126,2 bilhões de reais. Já os ativos no exterior apresentaram redução de 12,4 por cento, para 183,6 bilhões de reais.

A desvalorização de 25 por cento do dólar em relação ao real em 2009 teve influência nos resultados, ao reduzir a receita e os ativos quando convertidos em moeda brasileira. No caso dos ativos, a FDC também cita a possível venda de negócios e "diminuições nas participações ou fechamento das subsidiárias que mais sofreram com a turbulência financeira".

Dos itens analisados pela FDC, apenas o número de funcionários em empresas no exterior controladas por grupos brasileiros subiu, com avanço de 13,7 por cento, para 200,7 mil empregados. "Isso pode indicar que as transnacionais continuam crescendo e planejando expansões nacionais e globais", segundo o estudo.

Dados do Banco Central mostram que o fluxo de capital do Brasil para o exterior foi negativo em 10 bilhões de dólares no ano passado, "evidenciando o desinvestimento global das empresas", segundo a FDC.

Em 2006, o investimento direto do Brasil no exterior chegou perto dos 30 bilhões de dólares -cifra que poderá voltar a ser atingida dentro de dois anos, acredita o professor Ramsey.

A FDC enviou questionários a 71 grupos brasileiros. Quarenta e seis deles responderam às questões e 41 relatórios foram considerados válidos, já que cinco eram de empresas sem atividades no exterior ou apenas exportadoras. O estudo é baseado em metodologia da agência de comércio e desenvolvimento da ONU, a Unctad, e não inclui instituições financeiras.

Fonte: O Globo

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