segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Vivendo a aventura da vida

* Nicolai Cursino

Acabo de chegar da sessão de ultra-som do meu primeiro filho, Gael, que está a 45 dias de chegar para viver neste mundo. E acabei pensando, o quanto nós todos temos a aprender com ele, mesmo que ainda na barriga da mamãe Tais.

Ele está prestes a se atirar na maior aventura de todas. Prestes a se atirar em um mundo grande, desconhecido, que fala uma língua diferente e no meio de um monte de gente que ele nunca viu. Não fosse pela voz dos seus pais, duas pessoas às quais sua vida e sua sorte está inteiramente confiada, podemos dizer que ele vem completamente sozinho, no meio de seis bilhões de pessoas.

Sua vida está entregue à confiança e à dependência de alguém que a maioria diria que ele não teve nem a chance de escolher.

Sua vida está entregue a tantas coisas muito maiores do que ele mesmo. A condição financeira e emocional de seus pais, o tempo que suas profissões permitem que sobre pra ele, a arrumação dos móveis do seu novo quarto, os dias de frio, de calor, as visitas dos amigos e o barulho à noite dos vizinhos da casa ao lado. Condições às quais ele não pode fazer nada a respeito. Nenhum controle.

E ainda assim ele lutou pelo direito de viver essa aventura. A aventura chamada vida. Resolveu entregar seu coração a passar por dores insuportáveis, por amores intensos, por gargalhadas de perder o fôlego e por lágrimas cheias de soluços.

Ele vai viver tudo isso. Tudinho.

Na aventura da nossa vida, a paixão é indispensável. Apaixonado por alguém, você vai chorar e vai rir, por que não há como separar as duas partes da mesma vida.

Se você se atira numa carreira incerta apaixonado por sua profissão, você vai se frustrar, e vai se iluminar. Você vai se sentir impotente quando não conseguir aquilo que esperava, e vai sentir toda a força do mundo quando conseguir muito mais do que imaginava.

Quando você é apaixonado pela vida, fatalmente você quebra sua cara. Divide-se no meio, fica confuso. Culpa-se por ter errado tantas vezes e metido os pés pelas mãos. Cria dificuldades, magoa pessoas, machuca a si mesmo. O rio segue arrebentando pelas pedras.

E também sente o fogo, o brilho nos olhos, a imensa força. Você se movimenta, conhece lugares, pessoas, desbrava idéias e encanta por onde quer que você passe. Afinal, as pessoas apaixonadas encantam.

Eu me pergunto se você tem vivido com paixão. Ou se ela foi perdida ao longo do caminho. Como o brilho de um diamante que foi se enchendo de poeira.

As decisões em sua vida, o modo como aproveita seu final de semana, o lugar onde trabalha e o que faz hoje todos os dias desde a hora que desperta até a hora que vai dormir.

Quantos minutos são intensos e apaixonados?

Aprendemos a ter medo das paixões. Um dragão descontrolado, assustador e fascinante. Aprendemos que é melhor pensar antes de fazer, evitar conflitos, fugir das dores, ter certeza das coisas. O dragão parece distante, como uma sombra na lua.

E evitamos a grande aventura da vida. Vivemos de um jeito morno.

Quando fechamos os olhos para as coisas feias do mundo, também não vemos o espetáculo das paisagens. Quando fechamos o coração para as dores, também impedimos a entrada da alegria. A porta é a mesma. Quando tapamos os ouvidos para o estrondo, também não ouvimos a melodia maravilhosa de uma música divina.

O que aconteceria com nossas vidas se nos atirássemos nessa aventura agora? Assim como faz o Gael.

Para que a gente possa olhar para trás em nosso último minuto e se dar conta.

Errei, chorei, ri, lutei, conheci, acertei, briguei, machuquei, fui machucado, sonhei, dei certo e dei errado, amei, vivi, intensamente!

Nos versos de Vinícius de Moraes:

“quem já passou por essa vida e não viveu
pode ser mais mas sabe menos do que eu
porque a vida só se dá pra quem se deu
pra quem amou pra chorou pra quem sofreu
quem nunca viveu uma paixão
nunca vai ter nada não ...”

Fonte: Jornal Carreira & Sucesso

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