quinta-feira, 7 de abril de 2011

Registros fotográficos do nascimento de uma família

Renata Xavier

RIO - Nos jornais e revistas, uma fotografia atinge milhares de pessoas, mas essa imagem é efêmera: no dia seguinte, a notícia já é outra. Já num casamento, as fotos atingem um pequeno grupo de pessoas. Mas elas são a história de nascimento de uma família e, 50 anos depois, ainda terão um valor inestimável para esses indivíduos. Foi essa visão que me fez trocar o fotojornalismo pela fotografia de casamentos, em 2004. E é sobre o meu trabalho que eu vou contar aqui, a partir de amanhã, e por 15 dias, inaugurando a coluna "Diário de carreira".

Minha história profissional começou em 1997, nas aulas de linguagem fotográfica da faculdade de Cinema. Queria contar as histórias do cotidiano, ser uma cronista visual. Em 2001, ingressei no fotojornalismo, trabalhando para O Globo e para a Editora Abril. Mas durante o período que trabalhei no Globo, vi alguns casamentos fotografados pela fotógrafa Marizilda Cruppe. A visão que eu tinha da fotografia de casamento até então era daquelas fotos posadas, sem emoção. Mas nestas imagens havia tanta felicidade, tantos momentos especiais... Estava vivenciando aquilo, pois planejava meu casamento. E, em 2004, troquei o fotojornalismo pelos casamentos.

Trabalhamos com expectativas e sonhos, nosso trabalho é eternizar bons momentos, mas não basta um "click" de uma ação, tem que ter poesia, tem que passar uma mensagem. O fotógrafo deve pensar rápido e em poucos segundos decidir o ângulo, a luz, o corte na imagem, a objetiva, o diafragma, a velocidade, deve interagir com o que acontece à sua volta. Não adianta colocar no automático e apertar o botão. Dessa maneira fica-se no óbvio, só se consegue obras do acaso. Se você quer encantar as pessoas, tem que pensar, decidir, estudar.

O desafio do fim de semana passado foi um casamento na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, com festa no salão Victória do Jockey Clube. Os noivos eram um casal muito simpático e apaixonado: Lícia e Felipe. Claro que houve aquele nervosinho bom, mas tudo deu certo e eles tiveram uma cerimônia e festa impecáveis. Só teve um problema: onde fazer as fotos de família?

Para quem é fotógrafo e conhece o salão Victória, sabe que não há um local com um fundo bonito para essas fotos na parte externa. Normalmente, produzimos as fotos de família fora do ambiente da festa porque é mais rápido e os noivos e sua família ficam mais à vontade, sem ter que se preocupar com os convidados olhando ou interrompendo para parabenizá-los e sem prejudicar o andamento da festa.

Eu não queria que Lícia e Felipe tivessem um fundo escuro ou sem graça para essas imagens que são tão importantes. Antes do casamento conversei com a noiva e com a decoradora Tissi Valente explicando a situação e propondo a montagem de um fundo com o mesmo padrão da festa. As duas toparam a ideia.

Assim, foi feito um painel de tecido com a mesma padronagem usada na decoração da festa. O clube, por sua vez não autorizou deixar o painel montado no local das fotos - tivemos que deixá-lo guardado e colocá-lo lá apenas na hora das fotos, para em seguida guardá-lo novamente. Mas valeu muito a pena! Em 15 minutos conseguimos fotos lindas de toda a família!

Comentário de Marcelo Carnaval, repórter fotográfico

"A responsabilidade de fazer fotos de família é, de fato, muito maior do que fotografar para jornal. É horrível a ideia de perder uma foto que esperam que você, só você, tenha. E para marcar um momento único na vida deles. Lembro do caso de um laboratório que teve de indenizar um fotógrafo, porque perdeu todo o material de um casamento que ele tinha feito."

Comentário de Jacqueline Resch, sócia-diretora da Resch Recursos Humanos

"O que mais chama atenção no depoimento da Renata é a emoção com que ela fala de sua nova escolha. Na verdade, ela não mudou de profissão, mas orientou sua opção para o registro de situações - os casamentos - que para ela tem um significado muito especial - o nascimento de uma família, como ela define. Nada pode funcionar melhor do que unir o propósito pessoal com o profissional e percebe-se claramente que ela está segura e satisfeita com a decisão tomada."

Fonte: O Globo

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