Caseiro relembra noite em que mar de lama destruiu a casa dele, em Teresópolis
Sérgio Vieira, do R7, em Teresópolis
Residência no topo de Santa Rita avaliada em R$ 1 milhão ficou severamente destruída após os deslizamentos de lama e pedra. Máquinas da prefeitura só chegaram ao local na última quarta (6).
A tragédia provocada pelo temporal que assolou a região serrana do Estado do Rio de Janeiro completa seis meses nesta segunda-feira (11), mas os momentos de terror vividos por moradores das principais cidades afetadas pela chuva, como Teresópolis, continuam presentes como um trauma. É o caso da família do caseiro Reginaldo Silva Sebastião, de 29 anos.
Segundo ele, na noite de 11 de janeiro, por volta das 22h, a chuva ainda era tímida no bairro Santa Rita, mas uma grande tormenta começou à 1h do dia 12. Os relâmpagos e trovões apavoraram o seu filho, Jefferson, de três anos, a ponto de sua mulher, Selena Gonçalves, 27 anos, colocá-lo na cama mais cedo que o habitual. A criança, seis meses depois, não consegue esquecer o que passou. Segundo o pai, o menino fala com frequência do desespero por ser salvar.
- Meu filho tem medo de chuva. Ele tem medo quando o tempo fecha para chuva, mas hoje a gente não está mais seguro em lugar nenhum. Quando dá uma trovoada, ele fica com medo. Ele sempre pergunta, quando chove, se a gente está seguro onde a gente está.
Razões para o trauma não faltam. Por volta das 4h, enquanto a família dormia, a casa foi arrastada por uma enxurrada, jogando cada um para um lado diferente do imóvel. Quando todos conseguiram se reunir e se preparavam para sair do imóvel, outra enxurrada jogou a família novamente ao chão.
Durante o relato, Sebastião lembra, visivelmente emocionado, que ouvia seu filho gritando repetidas vezes: “Pai, a gente vai morrer afogado?”. Em outro canto, sua mulher também gritava: “Pode me deixar aqui, só pega o menino, pega o menino".
A ajuda aos sobreviventes do local só chegou três dias depois, quando um helicóptero do Exército levou o caseiro para o hospital. Ele sofreu fraturas e ficou com feridas expostas pelo corpo. A mulher e o filho não se machucaram. Outros parentes de Sebastião, no entanto, não tiveram a mesma sorte. O homem perdeu durante o temporal quatro primos, um tio, vários amigos e vizinhos.
Cidade fantasma
A reportagem do R7 esteve no bairro Santa Rita sete dias depois do desastre. Após caminhada de 2 horas e 15 minutos entre barreiras, riachos, pedras, troncos caídos, postes quebrados, lama e cheiro de animais mortos, o cenário encontrado era desolador.
A destruição que se iniciava já na entrada de Cruzeiro, estendia-se por pelo menos 7 km – principalmente ao longo da margem do rio. Além disso, os poucos moradores que ficaram tinham que conviver com a falta de eletricidade, de comunicação, de água potável e de mantimentos.
O caseiro José Eduardo Silveira de Carvalho relatou na época o drama que viveu, ao ouvir durante toda a noite, pessoas pedindo por socorro.
- Eu ouvia os gritos de socorro, eu ouvia as pessoas pedindo ajuda e não podia fazer nada. Achei que nem fosse conseguir salvar minha família. A água passou e destruiu todas as casas na margem do rio; outras foram soterradas pelos deslizamentos. As que ficaram foi porque Deus não quis derrubar; É só você observar; qualquer casa aqui poderia ter sido atingida.
Seis meses depois, a família continua com medo e vive com falta de infraestrutura. De acordo com Carvalho, suas ainda filhas ainda buscam um lugar seguro para morar. Além disso, serviços de telefonia móvel e de energia são deficientes.
As máquinas da prefeitura chegaram para a retirada das pedras e dos escombros apenas na última quarta-feira (6). Apesar da demora, a expectativa das vítimas da chuva é a de que as condições de vida melhorem daqui pra frente.
Mais de 900 mortos
Entre 11 e 12 de janeiro choveu em 24 horas na região serrana fluminense o esperado para o mês inteiro e o resultado foi a maior tragédia climática registrada no país, segundo especialistas de várias áreas.
Deslizamentos de terra e enchentes mataram mais de 900 pessoas (392 só em Teresópolis) e deixaram quase 350 desaparecidas. Cerca de 30 mil sobreviventes ficaram desalojados ou desabrigados. Escolas, ginásios esportivos e igrejas viraram abrigos. Hospitais ficaram cheios de feridos na primeira semana. Cerca de 15 dias depois da catástrofe, doenças como leptospirose (provocada pelo contato com a urina de rato) começaram a assolar a população. Autoridades então passaram a monitorar casos confirmados e pacientes suspeitos, além de educar o povo em relação à prevenção.
As cidades de Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto, Bom Jardim e Areal foram as mais afetadas e decretaram estado de calamidade pública. Serviços como água, luz e telefone foram interrompidos, estradas foram interditadas, pontes caíram e bairros ficaram isolados durante alguns dias.
Fonte: Portal Exame
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