Em sua maioria, os economistas parecem concordar que não dá, hoje, para crescer de forma sustentada acima de 4,5%.
André Lahóz, de EXAME
São Paulo - É no mínimo curioso o momento atual da economia brasileira. Enquanto o público em geral se delicia com as notícias de que o país cresce no ritmo mais acelerado dos últimos 15 anos - ou será dos últimos 25? -, as autoridades econômicas insistem que as coisas não estão tão boas assim. Afinal, dizem, já estamos em plena desaceleração. Não seria normal o contrário - o governo faturar os resultados mais que exuberantes da economia?
Sim e não. Claro que a equipe econômica adoraria tecer loas ao momento do país, mas aí estaria jogando a favor dos que clamam por aumentos mais incisivos na taxa de juro. Foi exatamente esse o pano de fundo da reunião do Conselho de Política Monetária do Banco Central, o Copom, que elevou os juros básicos da economia em 0,75 ponto percentual. Já ultrapassamos a nossa velocidade máxima de segurança na economia? Podemos mesmo crescer a uma taxa anual entre 6% e 7%? Aparentemente, o Copom está alinhado com a imensa maioria dos analistas, que veem risco real de superaquecimento econômico.
Não se trata de uma discussão simples. Parece não haver mais dúvidas de que estamos andando rápido demais. Mas saber exatamente quanto podemos crescer sem gerar inflação ou desequilíbrio externo é mais difícil do que parece. Firulas estatísticas à parte, é virtualmente impossível, apesar de toda a sofisticação dos modelos matemáticos, calcular quanto uma economia - que é a resultante da interação de milhões de produtores, trabalhadores, consumidores e governantes - pode produzir a cada ano. Mas isso não simplifica em nada a vida de quem precisa definir os rumos da nação. Ainda que não saibamos exatamente qual o nosso limite de velocidade, o fato é que ele existe. A partir de certo ponto, as economias realmente entram em superaquecimento.
Na falta de uma resposta mais sofisticada, o que temos mesmo são as opiniões de quem ganha para decifrar a economia do país. Em sua maioria, os economistas parecem concordar que não dá, hoje, para crescer de forma sustentada acima de 4,5%. Não é um número ruim - até recentemente, a barreira do crescimento sustentado não era superior a 3% ao ano. Graças à arrumação da casa ocorrida nos últimos 15 anos e à manutenção de boas políticas macroeconômicas, conseguimos de fato elevar a nossa capacidade de crescimento.
O maior risco, agora, é forçarmos a barra. O país parece encantado com os bons ventos da economia. O consumo não para de crescer, o desemprego está em queda, as empresas computam recordes de vendas. A tentação de acelerar um pouquinho mais, especialmente num ano eleitoral, é enorme. Mas, hoje, isso não seria recomendável. Infelizmente, não fizemos por merecer. É verdade que mantivemos as conquistas obtidas na economia, mas perdemos o ímpeto reformista. Nada de novo foi agregado para permitir um novo salto. Foi esta a mensagem do Copom: devagar com o andor que o santo (ainda) é de barro.
Fonte: Portal Exame
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