quinta-feira, 3 de junho de 2010

Leila Navarro fala sobre sua trajetória profissional e suas palestras

Caio Lauer

Palestrante renomada no mundo empresarial e com atuação há mais de 10 anos em organizações de todo o mundo, Leila Navarro está no ranking da revista Veja como uma das 20 melhores palestrantes do Brasil.

Nova colunista do Carreira & Sucesso, Leila já conquistou o Prêmio dos 100 Melhores Fornecedores de RH, na Categoria Palestrante do Ano, em 2005 e 2009. Suas palestras são baseadas em temas como comportamento, liderança, gestão de pessoas, vendas e empreendedorismo.

Autora de 13 livros com foco nas organizações, Leila lançará mais uma obra no mês de agosto. Além das novidades ainda para este ano, a palestrante fala ao Carreira & Sucesso sobre sua trajetória profissional e como alcançou sucesso absoluto com suas palestras em tão pouco tempo.

Você é formada na área da saúde pela Universidade de São Paulo (USP). Conte-nos um pouco deste início e de como sua carreira se encaminhou para o universo corporativo.

Os futurólogos dizem que vamos ter de 8 a 10 carreiras profissionais em nossas jornadas, porque nossa expectativa de vida aumentou muito e, durante a vida, vamos aprendendo e nos conhecendo melhor. Podemos descobrir novos talentos e possibilidades. É muito comum ver executivos ou empresários que iniciaram suas carreiras com 17 ou 18 anos em uma atividade, e conforme foi passando a vida, essa ocupação também foi mudando.

Eu queria fazer medicina, era meu sonho. Na época que fiz a faculdade, as profissões em alta eram advogado, médico e engenheiro. Nesse período, foi lançado o curso de fisioterapia na USP e fiz parte da segunda turma de formandos. O que eu queria era poder ajudar as pessoas e curá-las, e resolvi me graduar em fisioterapia por ser um curso mais curto e uma novidade no Brasil.

Completei o curso, gostei muito e, como sou uma pessoa muito inovadora e imediatista – gosto de respostas rápidas, faz parte do meu caráter e personalidade -, comecei a trabalhar em terapia intensiva, que também era uma atuação inovadora. Então, além de me formar em um curso que estava começando no país, a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) também era algo novo. Isso há quase 40 anos.

Comecei a trabalhar no hospital Sírio-Libanês com terapia intensiva, e inclusive fui uma das fundadoras, na época, da Associação Brasileira de Terapia Intensiva. Eu já tinha uma tendência para trabalhar em equipes, liderar grupos, e tinha essa veia ativista dentro de mim.

Eu me casei e meu ex-marido, na época, era cirurgião-médico e aceitou uma oportunidade profissional na cidade de Arujá, interior de São Paulo. Mudei para a cidade com meus dois filhos e lá montei uma clínica de fisioterapia. A partir desse ponto, começa uma história muito interessante, porque como eu montei essa clínica, me dei conta que não podia ser empresária e não sabia administrar. Comecei a enxergar uma defasagem no mercado de pessoas de saíam das faculdades com muito conhecimento e formação, mas sem os conhecimentos para gerir seus próprios conhecimentos, habilidades e talentos.

Aprendi a administrar a clínica “na raça”, e durante 14 anos fiquei a frente de um estabelecimento que possuía cerca de 40 funcionários. Após esse momento, aconteceu algo marcante na minha vida: fui fazer um curso de método Rolf, de integração estrutural, nos Estados Unidos. Meu casamento acabou nessa época, e quando voltei, vendi a clínica. Isso é interessante porque, muitas vezes, nossa carreira tem relação com as influências das oportunidades na vida pessoal. Pode ser uma separação, a oportunidade de um dos cônjuges ter que fazer um curso fora do país, ser dispensado de uma empresa com um saldo interessante para montar um negócio próprio, entre inúmeras outras situações. Enfim, a vida apresenta muitas coisas para podermos mudar nosso caminho.

Mas quando começou o envolvimento com empresas e executivos?

Já em São Paulo, em 1993, comecei a trabalhar com profissionais por meio desse método Rolf, que tem relação com autoconhecimento, físico, mental e emocional, e ajuda equilibrar essas três energias. Eu trabalhava com executivos de alto nível econômico, pois era um método caro de aplicação.

Como esse método era um pouco complexo de explicar por meio de folhetos, pois naquela época a internet não era tão poderosa quanto é hoje, pensei que, se reunisse pessoas dentro das empresas para falar pessoalmente sobre esse assunto que eu tinha trazido dos EUA, seria mais fácil.

Nessa mesma época, o tema “qualidade de vida” começava a ser inserido nas empresas, e ele tem total relação com o método Rolf. Consequentemente, por eu ter um caráter associativista e me envolver com pessoas com o mesmo foco, fui umas das fundadoras da Associação Brasileira de Qualidade de Vida. Eu não pensava na empresa como vejo hoje. Pensava como uma pessoa que estava prestando serviços para alguém obter qualidade de vida, a ensinar sobre o assunto e realizar projetos.

Foi aí que comecei a trabalhar com mais freqüência nas empresas, primeiro com o método Rolf. Essa era a época que a LER (conjunto de doenças que atingem principalmente os membros superiores, ataca músculos, nervos e tendões provocando irritações e inflamação) era a grande vilã, e eu abordava esse tema de uma maneira muito divertida, e mostrava a importância das pessoas serem autodisciplinadas, física e energeticamente, para poderem usar o melhor de seus desempenhos.

Foi quando descobri que eu poderia ser palestrante. As empresas começaram a me chamar para fazer apresentações em Sipats (Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho). Pela demanda, comecei a não dar conta do meu escritório e das palestras, e decidi entrar no mercado apenas como palestrante. Fiz um trabalho bem feito, pois me lembro que, uma vez, Roberto Shinyashiki foi a meu consultório para ser “Rolfado” por mim e, quando chegou o momento de acertar os valores financeiros, não cobrei nada dele. Só disse para que ele me ensinasse a como palestrar e como ingressar com essa atividade no mercado de trabalho.

Comecei a palestrar em 1999. Quando entrei no mercado, já sabia o que eu queria, por quais meios ia chegar aos meus objetivos e fiz todo um planejamento, “business plan”, da minha carreira.

Em que momento enxergou que temas comportamentais e de gestão de pessoas interessariam tanto ao mundo corporativo?

Esses temas eram realmente novidade nas empresas brasileiras, embora nos EUA já fosse uma prática constante. Acho que participei um pouco desse movimento enquanto estive no exterior, embora não tenha atuado com treinamento.

Minhas palestras são de impacto e provocam o interlocutor. As empresas usam meu talento quando vão abrir ou fechar um processo ou treinamento, na situação de aquisições e fusões ou quando há uma mudança muito radical na empresa. Me requisitam quando a organização precisa de um colaborador mais participativo.

É engraçado contar que, logo no começo da minha carreira, fui dar uma palestra em Brasília e a imprensa colocou nos jornais: Leila Navarro, a Viagra Empresarial. Era a época do “boom” do Viagra e achei essa metáfora tão engraçada e divertida, que empreguei esse apelido.

Foi um momento muito especial, pois poucas mulheres palestravam na época.

Você dá muitas palestras no Brasil e em vários lugares do mundo. Como faz para que cada uma seja especial, diferente uma da outra?

É como namorar. Não dá para duas pessoas que se gostam serem totalmente iguais. Então, como os públicos são diferentes, eu me adapto conforme essa necessidade. A música pode ser a mesma, mas a dança será diferente por mais que aconteça um ensaio prévio.

É muito importante saber exatamente o que a empresa quer e como quer atingir seus colaboradores com a palestra, mas uma das capacidades que tenho é a de captar a necessidade e adequar meus conhecimentos e energia para o que a empresa precisa.

As pessoas que assistem minha apresentação mais de uma vez sempre comentam que uma foi muito diferente da outra. Acredito que cada momento é um momento. É como assistir a um show de seu artista favorito várias vezes. Cada apresentação é singular, com roupas diferentes e detalhes únicos.

Sempre que inicio uma palestra, digo que é a melhor palestra que estou dando na vida, pois entro com a emoção da primeira palestra que cedi em uma empresa. Porém, entro com a responsabilidade, experiência e emoção da última que posso aplicar. Se for a última, será a melhor de todas, e se aplicar mais depois dessa, será melhor ainda.

Com sua rodagem, tendo aplicado palestras em diversos países, há como traçar uma diferença entre profissionais/empresas brasileiros(as) dos do resto do mundo?

Já dei palestras até em Angola, que tem uma cultura completamente diferente, uma história e contexto político e econômico singulares. O público é totalmente diferenciado das palestras que aplico em Portugal e Espanha, por exemplo. Tenho ido muito à Espanha, dei palestras em todas as comunidades do país e percebo que até mesmo lá é necessária uma postura diferente para cada região. As comunidades do sul têm um comportamento diverso das do norte, como no Brasil.

Também é muito interessante quando aplico palestras em uma multinacional, empresa familiar, em companhia de agronegócios ou de TI. É um exercício muito bom, e acho que qualquer palestrante gosta dessa oportunidade de conhecer tantas realidades, e isso vai dando vivência e expertise em comportamento e a percepção de como as pessoas enfrentam seu dia a dia.

O público brasileiro tem peculiaridades?

Acredito que a maior peculiaridade do brasileiro, apesar de não ter ciência nisso, é ser empreendedor, ter a capacidade de virar resultados e ser proativo. Embora vivamos em uma cultura paternalista, vejo que as pessoas têm uma energia empreendedora muito grande, coisa que não enxergo na Europa. Lá, as pessoas confiam tanto no Estado, que acabam se acomodando. Aqui, como não confiamos tanto, temos que fazer a diferença e correr atrás dos objetivos.

O brasileiro também tem muita confiança no futuro, tem esperança, e acho isso um diferencial no meio empresarial. Como tenho palestrado muito na Europa, vejo que o europeu não confia muito no futuro. Ele confia nas pessoas de seu país e no governo, mas não possui a fé que o povo daqui tem. Essa crença nossa dá uma energia diferenciada para encarar qualquer tipo de crise que possa acontecer.

Você é autora de 13 livros, sendo o mais conhecido “Talento Para Ser Feliz”. Imaginou que suas obras teriam tanto impacto para profissionais de áreas variadas?

Eu nem imaginava que iria escrever um livro, na verdade. Não era um sonho na minha vida, mas isso aconteceu e como eu era palestrante e estava obtendo ótimos resultados com essa atividade, a Editora Gente me convidou para escrever uma obra. Fiquei me questionando, na época, como iria escrever um livro, já que apenas redigia pequenos artigos, e a editora me impulsionou a pôr minhas ideias. Este livro é como um primeiro filho: a primeira experiência é muito emocionante. E, realmente, tenho um carinho muito especial por essa obra, e todos os outros 12 até o momento são um pouco que derivados dessa grande reflexão.

No início, eu não tinha ideia do prazer que é deixar um legado como esse. Posso morrer, mas as ideias vão ficar e muitas pessoas irão absorvê-las ainda.

Há alguma obra prevista para lançamento ainda em 2010? Será baseada em qual tema?

Uma experiência diferente que tive foi por meio de um livro, que não deixa de ser corporativo, mas está mais ligado ao foco feminino, chamado “Grandes Egos Não Cabem No Avião”. É um momento autobiográfico, mostrando como mulheres de sucesso acabam copiando o tipo de liderança e comportamento masculinos e se esquecem do ser feminino. É um livro romanceado que conta a história de uma poderosa executiva, que de tanto poder, revela-se tão masculinizada, e perde sua feminilidade.

O livro virou uma peça de teatro e foi muito divertido, porque acabei me tornando a protagonista dessa peça. Estou contando isso porque todos meus outros livros são considerados de autoajuda, apesar de eu não gostar desse termo. Prefiro chamar de autodesenvolvimento.

Esse livro que lançarei em agosto, com o título “Quem Lidera, Confia”, é uma obra que desenvolvi com outro autor, o espanhol Prof. José María Gasalla – criador do Gestão por Confiança -, e pode ser considerado um romance, com a história de uma empresa familiar, onde estão presentes três gerações dessa família, focando a falta e o excesso de confiança. Trabalhamos as histórias dos personagens desta família como se fosse uma novela, e é um enredo muito intrigante. Faz com que o leitor fique atento à trama, e eu e o professor entramos como coachs do presidente dessa organização fictícia para orientá-lo.

Que projetos você ainda tem para esse ano?

Estou investindo muito no meu blog (www.leilanavarro.com.br/blog), e se as pessoas puderem acompanhá-lo, terão muitas surpresas. Para mim, a rede social é uma oportunidade fantástica de brincar, pois brincar é arriscar, aprender, se divertir, criar, inovar e viver. Então é meu objetivo com este novo projeto.

Fonte: Jornal Carreira e Sucesso

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