segunda-feira, 21 de junho de 2010

Roberto Shyniashiki: referência quando se fala em qualidade de vida e motivação

Caio Lauer

Um entusiasta da capacidade do ser humano em realizar seus sonhos e ser feliz: assim podemos definir Roberto Shyniashiki, um dos maiores e mais consagrados palestrantes do Brasil, com grande êxito, também, nos Estados Unidos, Europa e Japão. Há mais de 30 anos no mercado, é autor de livros de sucesso, considerado um dos autores com maior número de vendas no país em todos os tempos.

Médico-psiquiatra, com pós-graduação em Gestão de Negócios (MBA - USP) e doutor em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (USP), Shinyashiki tem, também, participação em diversos projetos ligados ao terceiro setor. Sua dedicação às causas sociais rendeu-lhe o prêmio Hadge Capers, da Associação Internacional de Análise Transacional, como melhor projeto de solidariedade mundial.

Em entrevista ao Carreira & Sucesso, Roberto Shyniashiki conta um pouco sobre o início de sua carreira, apresenta suas ideias sobre satisfação profissional e dá sua opinião sobre a postura das organizações nos dias de hoje.

Boa leitura!

Você é formado em psiquiatria. Conte um pouco desse início de sua carreira e como ela se encaminhou para o ramo empresarial?

Minha carreira profissional é interessante. Quando entrei na faculdade de medicina, vi que precisava ganhar dinheiro e comecei a dar aulas de biologia e física em algumas instituições, mas isso não resolvia meu problema. Enxerguei que, se eu entrasse no ramo de cirurgias, como assistente, ganharia um dinheiro extra - o valor que o cirurgião dá aos assistentes ao final de uma operação. Por conta disso, tive uma boa experiência com cirurgias. Mas, desde o começo da faculdade, eu ingressei para ser psiquiatra. Então me formei e atuei como psicoterapeuta.

Nessa época, entre 1979 e 1980, não existiam consultores de empresas familiares. Esses profissionais atuavam com gestão de negócios, mas quando cuidavam de uma companhia desse tipo, se envolviam nesses conflitos das famílias. Alguns deles, como Marco Antônio de Oliveira e João Lang, me convidavam para fazer intervenções para abrir a comunicação e cooperação entre as famílias. Meu ingresso no meio organizacional começou quase que fazendo uma terapia de família, em corporações desse gênero. Como não existiam psicólogos especializados, eu era contratado para fazer essa atividade atuando como psiquiatra. Atuei em grandes companhias, fora do Brasil inclusive, fazendo esse trabalho de comunicação entre os membros das organizações e eliminando os jogos de poder entre os profissionais.

Em trabalho com as famílias, muitas me solicitavam seminários sobre liderança e “team building”. Naquele tempo, não existiam palestras como nos moldes de hoje, para muitos colaboradores. Eram apresentações menores, para diretores e gerentes, que podem ser consideradas seminários. Eu tinha dois ou três dias para falar sobre um tema. Hoje, são, em média, 45 minutos, para atingir um público muito maior.

Suas palestras são requisitadas por empresas de todo o Brasil. Como você formula as apresentações?

Sempre procuro fazer uma palestra direcionada à necessidade da corporação. Embora tenha a estrutura pronta, sempre converso com o presidente ou diretor da companhia para conhecer a necessidade particular de cada uma. A partir disso, configuro a apresentação.

A que você acredita que se deve o sucesso de suas palestras?

Um dos pontos é o fato de eu procurar entender a necessidade da empresa e compreender os desafios do setor de atividade da organização. O fato de ser médico psiquiatra, com formação em psicoterapia, me dá recursos para compreender o ser humano e, certamente, este é o grande desafio: induzir o ser humano a executar o que promete que fará.

Outro ponto positivo é o fato de ter doutorado em administração de empresas. Eu tinha um professor de cirurgia, o Dr. Célio Gayer, que falava que um cirurgião deve utilizar, no máximo, 10% do conhecimento dele nas operações de rotina. Pois quando acontecer uma emergência, ele terá recursos extras para usar. Então, segundo ele, o profissional nunca deve dar seu máximo na rotina. E esse ensinamento vale até hoje: eu não precisaria ser um doutor em administração de empresas pela USP para fazer as palestras que faço no dia a dia, mas quando existe uma situação que exige mais, eu tenho onde buscar. Essa é minha atitude.

Você é considerado um dos maiores vendedores de livros do país. Suas obras podem ser consideradas extensões das palestras?

De uma maneira geral, eu sempre procuro criar o livro paralelamente à palestra. Hoje, o que mais vendi, acredito ser “O Sucesso em Ser Feliz”. Não é uma palestra muito requisitada, mas quando criei a obra, já mentalizei a apresentação em público. Quando um livro meu se torna best-seller, é muito comum me convidarem para falar sobre o tema na companhia e fica muito complicado inventar uma palestra com base nesse conteúdo. Já crio o roteiro de um, imaginando o desenvolvimento do outro.

O que as pessoas buscam quando lêem seus livros?

Acredito que cada um tem uma proposta. Por exemplo, “A Revolução Dos Campeões”, de 1996, dá instrumentos e conhecimentos para as pessoas trabalharem em um contexto de competição. Já o “Tudo ou Nada”, desenvolve a conscientização de que existem trabalhos que não podem ser executados com uma atitude “morna”.

O Dunga e a seleção brasileira, por exemplo. Para eles, cada minuto de jogo é tudo ou nada. O vendedor, também, quando sai para fechar um negócio tem que ter essa postura. Recentemente, lancei “A Coragem De Confiar”, pois estou vendo as pessoas muito inseguras e é um livro que busca o resgate da confiança. Então, cada obra tem o seu foco.

A felicidade é tema sempre presente nas suas palestras. Dados da Organização Mundial da Saúde apontaram que, nos próximos 20 anos, a depressão será a doença mais comum do mundo. Como reverter essa situação?

A primeira coisa que precisamos ter consciência é que o mundo econômico, da forma que está construído, é uma fábrica de depressivos. O capital vale mais do que o trabalhador. Então, fica complicado quando o dinheiro é mais valorizado do que a vida. O primeiro ponto é aprendermos a desenvolver empresas de uma forma diferente.

Outra reflexão importante é a de que dá para criar lucro produzindo gente feliz. O sistema que as organizações usam de esgotar seus profissionais, transforma-se em uma energia não-renovável. Certamente existem outros meios de produzir resultados por meio da felicidade dos colaboradores.

Como manter uma vida em harmonia e com sucesso, com a pressão que os profissionais hoje em dia sofrem, baseados em metas e resultados?

A corporação precisa colocar o ser humano na frente dos números. Temos que medir o resultado em termos de alto astral, motivação e felicidade da equipe. O grupo que se sente valorizado e realizado, vai dar mais lucro. Infelizmente, a maior parte dos gestores ainda vive no tempo da escravidão no Egito, onde faziam os empregados carregarem pedras até a morte, e, quando morriam, eram substituídos por outros escravos. Nesse sentido, precisamos aprender a fazer resultados de outra maneira, com gente feliz e com alegria de trabalhar.

Mediante a sua experiência no meio corporativo, quais os maiores erros cometidos pelas empresas quando o assunto é satisfação de seus colaboradores?

A primeira coisa é achar que maior número de horas de trabalho dá mais resultado. Eu cuido da preparação psicológica dos atletas olímpicos do Clube Pinheiros. Então, durante muitos anos, todas as metodologias de preparação eram baseadas no seguinte: treine o máximo possível, para obter melhor resultado. E muitos atletas brasileiros, pelo que acompanho, chegam para uma olimpíada exaustos, com o chamado “over training”, pois estouraram os músculos e o cérebro. Na hora da competição, onde deveriam estar energizados e ligados, estão exauridos. Hoje, um atleta não deve treinar demasiadamente, tem que praticar até o ponto certo.

A mesma coisa acontece com um profissional corporativo. O pensamento de um gestor é de que, se o membro da equipe não está rendendo o suficiente no momento, irá exigir mais. Enquanto o correto a se fazer nessas situações é sugerir que esse profissional saia um pouco mais cedo ou “tome um ar”. Eu diria que é individualizar a gestão das pessoas.

Outro ponto que tem se falado muito no mercado, são os fatores motivacionais. A injustiça, por exemplo, faz todos os pacotes de benefícios oferecidos por uma organização irem para o saco de lixo. Se um empresário brasileiro anuncia que a companhia está em um momento difícil e por isso cortará os benefícios dos colaboradores e todo tipo de custo adicional, mas esse mesmo profissional adquire um carro novo e vai passar férias na Europa, com certeza, todos os membros da empresa se questionarão e ficarão desmotivados. Quando há injustiça, a moral do grupo desaba.

Você conquistou pela Associação Internacional de Análise Transacional, o prêmio de melhor projeto de solidariedade mundial. Desde quando desenvolve projetos sociais e porque despertou seu interesse neste segmento?

Creio que tem muita relação com minha infância. O início da minha vida foi muito pobre e entendo as carências a partir das minhas necessidades do passado. Quando passamos por essas situações, pensamos: primeiro, não quero que meus filhos passem por aquilo, e segundo, não quero que as outras pessoas sofram pelo mesmo mal. Sempre estou envolvido com alguma causa, isso alimenta meu coração. O ser humano tem vários alimentos, e infelizmente a maior parte da humanidade se preocupa em se alimentar com dinheiro. Acho que um grande profissional tem que se nutrir de histórias e experiências de vida.

Sobre esse prêmio especificamente, foi um trabalho que desenvolvi juntos aos professores da rede pública municipal de São Paulo para ajudar a entender a dimensão psicológica dos alunos em sala de aula. Para que os professores não só ensinassem geografia, matemática e português, mas instruíssem essas pessoas a se formarem como seres humanos e cidadãos.

Fonte: Jornal Carreira e Sucesso

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