sábado, 3 de julho de 2010

No Brasil, 15% já estudam a distância nas universidades

Na agenda do administrador de empresas Espedito Xisto, de 57 anos, o horário reservado aos estudos nunca é fixo.
Vinicius Costa Formiga Cavaco

Na agenda do administrador de empresas Espedito Xisto, de 57 anos, o horário reservado aos estudos nunca é fixo. Disciplinado, ele assiste a uma videoaula na segunda-feira de manhã, resolve exercícios e se dedica a leituras à noite, depois do trabalho, ou ainda separa as tardes de domingo - logo após o almoço em família - para fazer as pesquisas da graduação de Logística, segundo curso a distância que "frequenta" em cinco anos.

Uma vez por semana Xisto se desloca de São Bernardo do Campo para o polo de ensino presencial da Universidade Metodista em Mauá, na região metropolitana de São Paulo, para ter aulas, fazer provas e tirar dúvidas com tutores - atividades obrigatórias em toda graduação aberta certificada pelo Ministério da Educação (MEC). "Não acho produtivo estar numa classe para receber um monte de informação, que, dependendo da capacidade de absorção de cada aluno, pode ou não ser aproveitada. O ensino a distância é extraordinário porque permite adquirir conhecimento e também o diploma num ritmo próprio", diz.

A maior possibilidade de acesso à universidade - basta um computador conectado à internet e dedicação -, aliada à flexibilidade no roteiro de estudos e ao controle de qualidade dos programas, justificou um crescimento médio anual de mais de 65% das matrículas de graduação a distância no país entre 2002 e 2008. Nesse período, a participação da modalidade no universo atual de 5 milhões de alunos da educação superior presencial brasileira aumentou de 1% para 15%. O percentual representa 791 mil pessoas distribuídas em quase 650 cursos oferecidos por 145 instituições credenciadas (91 públicas e 54 particulares).

Considerando apenas os novos alunos, 20% dos ingressantes já preferem a modalidade a distância, de acordo com estatísticas de 2008 - as mais recentes - organizadas pelo consultor Fábio Sanchez, um dos coordenadores do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância.

Para ele, a informação revela uma mudança no perfil do universitário brasileiro e do sistema de ensino superior. "É um em cada cinco jovens! Isso mostra que há cada vez menos preconceito sobre o método e que paradigmas como sala de aula ou semestre letivo começam a se tornar cada vez menos importantes. A autonomia do aluno passa a ser mais valorizada", avalia Sanchez.

O mercado também parece não demonstrar restrições. "Em 2006, 2007, soube de problemas de contratação, mas os cursos ganharam credibilidade hoje", acredita Xisto, que, apesar de aposentado, presta serviços na área de logística a um fornecedor da Volkswagen e espera melhorar na empresa. "O curso ajuda no meu trabalho e sei que estão de olho na minha experiência e no que eu posso oferecer."

Segundo Fredric Litto, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), indústria e comércio não procuram apenas competência legal, querem competência real. "Apenas 13% dos jovens de 18 a 24 anos estão no terceiro grau, o ensino a distância permite uma inclusão maior de jovens no terceiro grau." Litto diz que os cursos a distância livres e de especialização e programas online de treinamento corporativo também crescem em ritmo intenso, somando mais de 1,5 milhão de usuários.

Carlos Eduardo Bielschowsky, secretário de educação a distância do MEC, acredita que a disciplina e dedicação exigidas na modalidade são bem vistas no mercado. "Além disso, as pessoas da educação a distância são bem avaliadas e já estão empregadas."

Levantamento do MEC mostra que alunos das graduações mais representativas do ensino a distância, como administração, ciências sociais, turismo, pedagogia e matemática, têm notas maiores que seus pares da universidade tradicional no Enade, o exame de avaliação dos universitários. Além disso, a maioria dos graduandos a distância trabalha em tempo integral, é mais velha e tem renda mais baixa.

Bielschowsky destaca que, por lei, ensino a distância e presencial são "academicamente" equivalentes. "É preciso passar no vestibular presencial para entrar, fazer provas e trabalhos e se dedicar bastante. Muitos alunos acham que vão aprender naturalmente, mas muitos não se adaptam", diz.

Fonte: Administradores

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