terça-feira, 10 de agosto de 2010

BNDES deve respeitar as críticas e prestar contas

O BNDES tem 56 anos, é uma instituição importante, já errou muito no passado e sabe o que não deve repetir. As críticas não são contra o banco, que sempre financiou a indústria brasileira, fornecendo capital mais barato que o dos bancos, em alguns momentos, com grande subsídio, mas contra determinadas políticas.

Nos anos 70, deu empréstimo com correção monetária abaixo da inflação, o que produziu transferência de riqueza de toda a nação para alguns grupos que nem existem mais. As empresas não tinham viabilidade, mas o BNDES achava que ao fazer isso estava garantindo o futuro da economia brasileira, quando, na verdade, estava concentrando renda.

Esse tema da transferência de dinheiro para alguns grupos já virou até tese de mestrado, foi analisado. No governo militar, o BNDES achava que tinha de escolher quem ia liderar cada setor - escolha de campeões, mas essa política foi um desastre. Várias empresas quebraram, outras, como a Embraer, deram certo, após novas capitalizações.

Nos últimos tempos, o que se viu foi o BNDES voltando com muita sede ao pote velho, das políticas extintas porque não funcionaram. O país deve discutir isso, já que o dinheiro do banco é público. Agora, mais ainda, porque o Tesouro fez uma transferência de R$ 180 bilhões ao BNDES. Por isso, a população tem o direito de querer mais transparência e entender melhor essas políticas.

Só para dar uma ideia: nos últimos dias, a Folha publicou que 57% dos recursos do BNDES foram apenas para 12 empresas, sendo duas estatais. A maioria dos outros dez grupos tem negócios com o governo, está fazendo obras. Será que é isso mesmo que tem de ser feito? Outra notícia que está no Estadão fala do favorecimento do frigorífico JBS Friboi. Ao todo, dois frigoríficos receberam quase completamente o valor dado ao setor (R$ 18,5 bilhões). Matéria da Folha de hoje mostra também que 14 empresas apenas ficaram com a totalidade do dinheiro daquela linha de capital de giro criada para socorrer as companhias no auge da crise.

Por tudo isso, o país está debatendo o papel do BNDES, as escolhas do banco nesse momento. Aí, os empresários soltaram na quinta-feira um manifesto em defesa do banco. Mas os críticos não fazem um ataque ao banco, mas a determinadas políticas que já deram errado. A reação às críticas tem sido de politizar o debate, em vez de aumentar a transparência do banco.

Ninguém fala no fim do BNDES, mas de se rediscutir políticas, porque é o nosso dinheiro que está lá. O banco tem de respeitar as críticas e prestar contas.

Fonte: O Globo/Miriam Leitão

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