sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Com juro baixo, crédito consignado revolucionou mercado

O empréstimo com desconto em folha de pagamento é um dos mais interessantes para pessoas físicas

Marcela Ayres, de EXAME.com

São Paulo - Não são poucos os motivos para que o Brasil tenha permanecido durante tanto tempo com um volume de crédito ínfimo quando comparado a outros países. A combinação de juros exorbitantes com inflação em disparada e elevada inadimplência desenharam por cerca de duas décadas um cenário desalentador. Quem tomasse 100 reais emprestados em 1994, por exemplo, pagaria ao longo de um ano outros 214 reais de juros. Da mesma forma que a responsabilidade fiscal e a estabilidade monetária endireitaram a economia no governo FHC, a grande revolução da era Lula foi o efeito do crédito consignado na mitigação dos riscos dos empréstimos bancários. Como o desconto da dívida é feito diretamente no salário do trabalhador, a chance do pagamento não ser honrado é quase nula. Na prática, isso possibilita a oferta de juros bem menores - uma média de 27,1% ao ano, contra 41,9% do crédito pessoal e 165,1% do cheque especial.

Apesar do apelo, a modalidade só ganhou força no fim de 2003, quando o desconto em folha foi estendido aos trabalhadores da iniciativa privada com carteira assinada. Aposentados e pensionistas do INSS também foram contemplados e enfim entraram na mira dos bancos. Antes disso, apenas os funcionários públicos tinham acesso a esse tipo de crédito. Os anos seguintes se encarregaram de provar o óbvio. A prática de taxas visivelmente mais baixas catapultou o volume das operações: o salto foi de 9,6 bilhões de reais em janeiro de 2004 para 123,4 bilhões em junho deste ano. Sozinho, o consignado responde por um quarto de todas as operações destinadas à pessoa física e por 60% do crédito pessoal.

"Tínhamos uma demanda reprimida muito grande. Boa parte da população não era alvo do sistema financeiro e o crédito não chegava às classes C, D e E", sustenta Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira dos Bancos (ABBC). Como o consignado não exige conta corrente ou relacionamento com o banco, essas pessoas puderam sair da mão de agiotas e contar com encargos menos pesados na hora de financiar. Oliva relata que 65% dos aposentados que tomaram o empréstimo pela primeira vez usaram o recurso para pagar dívidas mais caras. "Hoje, 80% deles têm o objetivo de adquirir um bem", completa.

De acordo com Mario Ferreira Neto, superintendente de Cliente de Média e Alta Renda da Caixa Econômica Federal, a segurança é o principal diferencial da modalidade. Caso o trabalhador seja demitido, os contratos podem estabelecer o uso de até 30% da verba rescisória para a quitação do saldo que permanecer em aberto. Também é possível embutir um seguro nas parcelas, resguardando ainda mais as instituições. "É um crédito seguro e interessante para a indústria bancária, mas também para o cliente, que não tem que apresentar garantias adicionais", diz. Estudo do Banco Central aponta que a inadimplência é responsável por 33,6% do spread bancário, que nada mais é do que a diferença entre a taxa que a instituição paga na captação do dinheiro e aquela que é cobrada do consumidor. A redução desse risco com o consignado abre margem para uma diminuição significativa dos juros, de modo que os trabalhadores ganham poder de barganha com aquele que é seu principal ativo - o salário.


Passo a passo

Para quem quer tomar um empréstimo com uma das melhores taxas do mercado, o crédito consignado não exige nem que o cliente tenha conta na instituição escolhida. No caso dos funcionários em regime de CLT, basta checar junto ao RH da empresa se existe um convênio já firmado com o banco em questão. Por sua vez, o site do Ministério da Previdência aponta as instituições autorizadas a negociar o consignado, bem como suas respectivas taxas de juros.

Quanto menor o prazo do financiamento, mais barato sairá o empréstimo. Os juros variam entre 0,85% a 2,34% ao mês para os aposentados, com teto fixado por lei. Não há, entretanto, limite para as taxas cobradas dos assalariados embora elas também orbitem em torno desta mesma faixa. Seja qual for a situação, não é permitido comprometer mais do que 30% do salário líquido com esse tipo de crédito.

Vale alertar que a praticidade do consignado vem atraindo cada vez mais fraudadores. De modo geral, eles confeccionam documentos falsos e se passam pelas vítimas na hora de solicitar um empréstimo.

Público


O crédito consignado é uma ótima opção para os endividados que querem sair do sufoco, já que permite que uma dívida cara seja trocada por outra mais barata. De fato, pesquisa divulgada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) em março deste ano revela que 41% dos entrevistados que optaram pelo consignado na hora de fazer um empréstimo, utilizaram o dinheiro para se livrar de outras obrigações. E o motivo é simples. "Se estiver atolado em dívidas com cartão de crédito ou cheque especial, que são as duas linhas que operam com a maior taxa, o consumidor vai trocá-las por um juro que chega a equivaler a um quarto do atual", afirma Bruno Fronza, diretor de crédito do Banrisul.

"Esse é um crédito muito bom, mas desde que a finalidade seja inteligente", pontua Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper. Como as montadoras passaram a subsidiar o financiamento dos carros novos, o CDC (Crédito Direto ao Consumidor) costuma ser a melhor opção para estes veículos. Mas no caso dos automóveis usados, o professor aconselha pesquisar as taxas do mercado para saber se não sai mais em conta usar o consignado. "Se você vai reformar sua casa, também pode fazer um bom negócio com essa modalidade."

Contudo, antes de se entusiasmar com os juros mais atraentes, é importante pesar a importância do bem que será adquirido e, principalmente, se ele realmente precisa ser parcelado. "O brasileiro tem esse problema, ele não acha que paga juros, ele acha que paga prestação", afirma Rocha. "Tem gente que tira consignado para comprar um eletrodoméstico que poderia ser pago à vista e até para fazer baile de 15 anos. Mas depois de cinco horas a festa acaba e a pessoa vai ficar 36 meses pagando o empréstimo."

Fonte: Portal Exame

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