domingo, 15 de agosto de 2010

Restrição na oferta pode se estender mais que o esperado

Diminuir ImprimirEnviar por e-mailA restrição na oferta de bovinos, que está levando frigoríficos a reduzir suas atividades, deve se estender mais que o esperado, segundo analistas desse mercado. A expectativa inicial era a de que a número de animais aumentasse a partir do primeiro semestre de 2011. Mas o mercado favorável à retenção de fêmeas no pasto deve atrasar esse cenário. "Minha expectativa era que o ciclo virasse em 2011, mas isso deve demorar mais que o esperado. O ano que vem ainda deverá ser um ano de retenção e oferta restrita", afirmou Alexandre Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Agro, durante evento promovido pela Scot Consultoria e Dow AgroSciences, em São Paulo. "Acreditava-se que a virada poderia vir já no primeiro semestre de 2011, mas deve ocorrer mais tarde", afirmou José Vicente Ferraz, especialista da AgraFNP.

Para Barros, depois de quatro anos de retenção de fêmeas, a expectativa era de que o descarte desses nimais ganhasse força a partir do final deste ano. Mas o aumento do preço do bezerro tem incentivado os pecuaristas a manter as vacas no pasto. Um sinal de que a retenção é forte é a diminuição da diferença entre o preço da arroba da fêmea para a do macho, que caiu de históricos 11% a 12%, para algo em torno de 5%. "Mesmo assim, os frigoríficos não encontram fêmeas para comprar". No ciclo pecuário, o aumento do preço do bezerro eleva a oferta desse tipo de animal, que depois vai elevar a oferta de boi, que vai pressionar o preço do bezerro. O pecuarista, então, passa a descartar vacas, fechando o ciclo.

Barros lembra que a oferta restrita de bois e fêmeas reduziu o número de indústrias abatendo gado. "Alguns dos grandes frigoríficos estão trabalhando com 50% a 60% da capacidade, porque não tem boi. Tem dia que não abate, pula o sábado. As escalas são de dois dias, muito curtas", relata. Neste mês, o Grupo JBS deu férias coletivas de 30 dias nas unidades de Anápolis (GO) e Cáceres (MT) por causa da falta de bois para abater. A Agência Estado apurou, ontem, que uma das quatro plantas no Pará da maior companhia de proteína animal do planeta também paralisará as atividades e que o abate em uma das unidades de Campo Grande (MS) deverá ser suspenso entre sábado (14) e segunda-feira (16) pelo mesmo motivo.

Para representantes da indústria presentes no evento, a capacidade ociosa do setor, hoje, não é problema de demanda, como já ocorreu outras vezes, mas de oferta. Eles ainda previram que mais unidades poderão paralisar os abates por causa do aperto nas margens. Segundo eles, a elevação do preço do boi não foi integralmente repassada para o mercado atacadista, embora no varejo os preços da carne tenham subido.

Segundo o representante de um frigorífico, que pediu para não ser identificado, a oferta de bois em confinamento, que atinge o pico entre setembro e outubro, pode não ser suficiente para abastecer a indústria até o final do ano. Além disso, com a ocorrência do La Niña, que deixa o verão mais seco, a oferta de bois de pasto pode atrasar. "Mas o número de bois disponibilizados para a indústria só vai melhorar, de fato, quando o ciclo pecuário virar e o preço do bezerro começar a recuar; quando começar a haver um descarte de matrizes", disse. Ele também não vê esse aumento estrutural de oferta tão cedo. "Estamos vendo o mercado muito favorável para o criador ainda. Não dá para ser muito otimista para dizer que vai começar a ter descarte de vacas tão cedo", afirmou.

José Vicente Ferraz avalia, ainda, que pressão de demanda interna e externa continuará forte e isso vai fazer com que o ciclo pecuário se prolongue. "Se houver uma recuperação um pouco mais forte da economia internacional, vamos poder exportar mais. Nossos concorrentes, principalmente a Argentina, estão fazendo água", disse. Ferraz não vê impacto imediato da restrição de oferta de boi nas exportações de carne. Barros também concorda que, neste momento, o cenário de preços fortes para a cadeia de produção - cria, recria, engorda - está assentado na forte demanda por carne, tanto interna, quanto externa. "A demanda está segurando um preço relativamente forte em todas as categorias", afirma. Ele lembra que os principais produtores do mundo também passam por um período de menor oferta de carne, o que contribui para manter os preços altos no Brasil. ( Ana Conceição - AE)

Fonte: Cruzeiro do Sul

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