sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Secretaria Pró-Leitura transforma a Biblioteca em palco de vivências nas oficinas para contadores de histórias

“Se quiser falar ao coração dos homens, há que se contar uma história.
Dessas onde não faltem animais, ou deuses e muita fantasia. Porque é assim
- suave e docemente que se despertam consciências”. La Fontaine

Todo sábado de manhã tem sido a mesma coisa. No entanto, por mais paradoxal que possa parecer, a partir de agora, as manhãs de sábado não serão mais as mesmas. Pelo menos para um grupo heterogêneo, que vem participando das oficinas de contadores de histórias, que a Secretaria Municipal Pró-Leitura tem realizado na Biblioteca Pública Municipal de Nova Friburgo. Primeiro, foi durante todo o mês de julho e, agora, nas manhãs dos sábados de setembro.

Na verdade, as oficinas são de contação ou “cantação”? - questionaria o ouvinte, menos avisado e desatento, que ao passar pelas cercanias do prédio que abriga a biblioteca (no andar térreo da Câmara de Vereadores), nestas manhãs ensolaradas que antecedem a primavera, onde se ouve mais do que uma cantoria animada, embalando a todos os seus compenetrados participantes.

Sim, contação de histórias cantadas, como estimulava o escritor Francisco Gregório da Silva Filho, secretário Pró-Leitura, no sábado, 12, que pinçava da platéia, provocando:

- Quem vai “cantar” uma história, agora?

‘Minha jangada...’ me ajuda a olhar

E, de repente, uma veterana professora levanta sua voz mansamente para puxar o coro: - “Minha jangada vai sair pro mar... vou trabalhar, meu bem querer...”, entoando os versos conhecidos da ‘Suíte dos Pescadores’, do compositor, poeta e ‘musiqueiro’ baiano Dorival Caymmi, com acompanhamento voluntário de todos. No instante seguinte, outra participante se anima e avança, puxando a micro história do menino que não conhecia o mar:

“Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: Me ajuda a olhar!”

E assim, a manhã daquele sábado foi passando num piscar de olhos para todos os participantes da oficina, ao som de histórias e canções, que remetem, por exemplo, à melodia de ‘Manhãs de Setembro: “Eu quero sair// Eu quero falar// Eu quero ensinar o vizinho a cantar// Nas manhãs de setembro”.//

Diversidade é a marca do grupo

Desde professoras, psicólogos, artistas plásticos, donas de casas, advogados, médicos, enfermeiras, estudantes, profissionais de saúde, de administração, de meio ambiente, escritores, leitores, trabalhadores informais, enfim, todos ávidos curiosos por casos e causos e por aprender, mas também para ensinar e compartilhar, os participantes das oficinas constituem um grupo bastante diversificado.

Escritor e exímio contador de histórias, o professor e secretário Gregório Filho, originário de família amazônica, uma vez que é natural do Acre, rememorou sua infância, de avós contadoras de história e falou, ainda, de sua felicidade em constatar o interesse de professores no tema.

“Nossa sociedade precisa urgentemente de avôs e avós, contadores de histórias. Eu sentia falta também de professores contadores de histórias, mas hoje posso parabenizar a todas vocês aqui mergulhando nessa oportunidade”. - afirmou o secretário e oficineiro Gregório, depois de contar que havia percorrido algumas comunidades durante a semana, para contar histórias em escolas, tendo recebido como maior “presente”, o fato de alguns estudantes o chamarem de “vovô”.

O artista plástico Raimundo Perez também participando da oficina, mostrava-se visivelmente entusiasmado, sobretudo com a movimentação que o evento causava na biblioteca. “Temos um sábado vivo, movimentado, de trocas de experiências e vivências. Isso é muito bom”.

“Quem conta um conto...” e um jovem entusiasmado

Compartilhando a leitura coletiva de alguns textos, entre os quais trechos do livro ‘Indez’, de Bartolomeu Campos Queirós, com destaque ainda para o texto de autoria de João Jesus Paes Loureiro, ‘Cada palavra é a alma comprimida do universo’, do livro ‘Memórias de um leitor amoroso’ (coleção ‘Ler e Fazer’, da Fundação Biblioteca Nacional/RJ, 1995), bem como ‘Práticas Leitoras (de cor... coração): algumas vivências de um contador de histórias’, de autoria do próprio Gregório, que principia contando a história de seu próprio nome; muitos foram os que leram, contaram ou cantaram histórias, sempre sob a afirmação de “quem conta um conto, aumenta um ponto”.

Estudante do 9º ano do Ensino Fundamental II, do Externato Santa Ignês (ESI), frequentador habitual da biblioteca pública, Nicolas Tadaschi ficou sabendo da oficina ao devolver um livro e resolveu se inscrever.

Impressionado por seu interesse nos assuntos de cultura, artes e leitura e, sobretudo pela sua fluência verbal perfeita, Nicolas mostra um conhecimento e afinidades com o assunto, pouco comum para um adolescente de sua idade. Questionado sobre a sua participação no grupo, em meio a pessoas de idade tão mais elevada, o menino logo justifica:

- É uma oportunidade fantástica que tenho de aprender, enriquecer minha bagagem cultural. Dificilmente teria acesso a um curso desses, que acontece dentro de uma biblioteca, o que representa um ganho muito grande; infelizmente cada vez mais os jovens vêm se desinteressando pelos assuntos da arte e da cultura. Sempre temos muito que aprender com os mais velhos.

Mostrando empolgação, Nicolas - que almeja futuramente cursar artes cênicas - já atua no teatro. Inclusive ele aproveitou para convidar a todos para a peça que, em seis cenas, conta a história da vida do poeta Manoel Bandeira. O projeto ‘Bandeira da Vida Inteira’, reunindo uma coletânea de poemas do autor, será encenado pelo TESI - Teatro do Externato Santa Inês, em sessão única às 19 horas deste sábado, 18/09.

Em outra vertente, a psicóloga Andréa Bulkool Bernstein, mãe de três meninos - o mais novo ainda está sendo amamentando - ainda encontra tempo para participar das oficinas de sábados. Ela contou um pouco de sua história profissional, relatando que desenvolve junto ao Tribunal de Justiça um novo modelo da chamada “justiça restaurativa”, despertando a atenção de todos.

Já a professora Sany Rocha Couto deu um depoimento em que ressaltou o quanto a figura do professor Gregório a confortava, por fazê-la rememorar o seu avô, que também havia sido um contador de histórias e lembrou o caso, que se reproduziu ao longo dos anos no contexto de sua família sobre o túmulo acorrentado no cemitério do distrito bom-jardinense de São José do Ribeirão, onde, segundo contavam várias gerações, fora sepultada uma mulher, que de tão má, havia se transformado em serpente, com músculos atrofiados e pele escamada.

E, assim, a oficina se desdobrou, com muitas histórias contadas e cantadas. Histórias vivas, prontas e algumas ainda a serem concluídas.

Nesse módulo I da oficina, que terá ainda aulas nestes próximos sábados de setembro - 18 e 25 - e no primeiro sábado de outubro, 02, sempre no horário de 09 horas ao meio dia. A biblioteca funciona na rua Farinha Filho, 50. Mais informações: 2521-1761 e 2522-3795.

Projeto ‘Arca das Letras’: biblioteca e
salas de leitura em comunidades rurais

A ativista ambiental Tania Maria Cunha, que, além de proteger uma floresta de 10 alqueires, desde 2003, na região de São Lourenço, desenvolve um trabalho voluntário com crianças e suas famílias, através de ações no que ela intitula “capyoga” - simbiose de capoeira e yoga - também tem frequentado as oficinas.

Contando que foi apresentada ao professor Gregório pelo casal Raimundo Peres e Dayse, disse que está participando da oficina, em busca de um suporte para continuar desenvolvendo, através das escolas daquela região rural friburguense, um trabalho que visa abrir espaço para a cidadania, criando oportunidades para que as crianças daquela área também possam usufruir de tais atividades.

Na verdade, Tania não esconde - como contou o próprio secretário - sua intenção de implantar uma biblioteca comunitária em São Lourenço. Gregório Filho aproveitou, inclusive, para anunciar que, através de uma parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, estão previstas instalações de salas de leituras e bibliotecas, tanto em São Lourenço, quanto em Amparo (Tiradentes), Vale de Luz e Rio Bonito, no projeto denominado ‘Arca das Letras’.
 
Fonte: SECOM/NF

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