domingo, 3 de outubro de 2010

Eduardo Carmello: a resiliência e o mundo corporativo

Caio Lauer

Com sólida experiência no desenvolvimento e capacitação de executivos, líderes e equipes, Eduardo Carmello se tornou conferencista nacional e internacional, além de ter escrito dois livros voltados para os profissionais.

Nesta entrevista, o Diretor da Entheusiasmos Consultoria em Talentos Humanos (empresa especializada na capacitação do capital humano nas organizações) fala sobre resiliência, tema de seu último título, e explica como esta expressão pode ser positiva para o mundo corporativo, desde que interpretada corretamente.

Eduardo também conta sua trajetória profissional, a carreira como coach e explica como deu início a consultoria.

Boa Leitura!

Desde 1994, você atua pela Entheusiasmos Consultoria em Talentos Humanos. Você começou sua carreira na capacitação de pessoas ou já atuou em outras áreas? Como foi o início de sua carreira?

Comecei minha carreira no Banco do Brasil, onde trabalhei durante 7 anos na Agência Centro, em São Paulo. Trabalhei em diversas áreas, como Atendimento, Retaguarda, Câmbio, CESEC e RH. Todo esse tempo foi suficiente para que eu conhecesse como funciona uma Organização e, principalmente sua Cultura. Também trabalhei no Banco Nacional. Passados 19 anos desde que deixei o Sistema Bancário, continuo atuando na capacitação e melhoria de Performance dos Talentos, assim como na modernização da Gestão Empresarial.

Porque decidiu montar a Consultoria? O mercado brasileiro, na época, já era maduro o suficiente para receber serviços mais elaborados para RH?

Em 1991, me demiti do Banco, em parte porque queria seguir uma carreira de Educador, em parte porque fizemos um projeto de Gestão que foi "barrado" por ser inovador demais para aquela Cultura. Como Educador, aprofundei-me nos trabalhos de Paulo Freire, Vygosky e outros. Porém, exatos 2 anos depois que saí do Banco do Brasil, o mesmo me convidou como Consultor para implantar no Centro de Processamento de Dados o projeto que havia sido indeferido. Três meses depois também estava implantando o mesmo projeto no Unibanco e assim nasceu a Entheusiasmos Consultoria em Talentos Humanos.

O mercado brasileiro, na época, estava começando a assimilar os conceitos de Alvin Toffler, Peter Drucker, Edward Deming e Peter Senge. Começamos a estruturar e aprender mais sobre Conhecimento como Vantagem Competitiva, o Trabalhador do Conhecimento, Qualidade Total e Organizações de Aprendizagem.

As empresas começaram a compreender a importância da Capacitação e do Aprendizado como diferencial competitivo. Ajudamos muitas organizações a saírem do modelo mental de treinamento baseado em conteúdo, onde todos aprendiam a mesma informação, sem respeitar os diferentes níveis de performance entre os participantes e sem verificar se o aprendizado havia sido aplicado e gerado resultados.

Passamos a definir um modelo mais aprimorado, baseado em desempenho e respeitando e aproveitando os diferentes níveis de conhecimento que os Talentos já “traziam” consigo. Definimos acompanhamento da aprendizagem e verificação da aplicação dos conhecimentos, para ver se produziam os resultados desejados.

Você é autor do livro "Resiliência: a transformação como ferramenta para construir empresas de valor”. Qual é o conceito de Resiliência no mundo corporativo?

Aqui no Brasil, muitas pessoas e empresas conhecem uma versão limitada de que Ser Resiliente é “aguentar” a situação, “suportar pressão” , "ser saco de pancada" ou até mesmo "deixar submeter-se passivamente". Você não é elástico, ponte, silicone. Tudo isso são metáforas produzidas por pessoas que olharam o conceito pelos filtros da Física (objetos passivos, que não sentem, não andam e não tem propósito) e não correspondem ao que se espera de um profissional Resiliente num mundo altamente dinâmico e turbulento.

Para o mundo corporativo, o ideal é utilizar a versão mais completa e proativa da palavra, que provém de sua etimologia (do latim ‘Resilie’ ou ‘Resalie’). ‘Silie’ significa ‘saltar’, ‘impulsionar para’. Já o prefixo ‘re’ quer dizer ‘novamente’; é o ato renovar, de reunião, de reencontro. Nesse sentido, o ser resiliente é aquele que está saltando continuamente, renovando e transformando-se continuamente. É um ser impulsionado por um propósito maior, proativo e que constrói realidades, totalmente diferente de um objeto, que é o efeito passivo de uma adversidade ou crise.

No livro “Resiliência: a transformação como ferramenta para construir empresas de valor”, nós definimos a Resiliência como a capacidade de uma empresa, um líder, uma equipe ou talento, promover as transformações necessárias para alcançar o seu propósito. Você é Resiliente quando cresce nas mudanças, inova, se antecipa às situações e produz coerência estratégica para sua equipe e clientes. Sua influência como um Ser Resiliente precisa ter mais impacto proativo e orientado para o futuro. Como benefício de sua atuação como Resiliente, desfruta da capacidade de prever, projetar e antecipar cenários e situações, assim como exercer proatividade em vez de simplesmente reagir aos efeitos das circunstâncias. Ao fazer isso, sua imagem, reputação e valorização melhoram consistentemente.

Como a resiliência pode ser desenvolvida na prática?

Desenvolvemos DEZ dicas para fomentar sua Resiliência no dia a dia.

1- Procure, na medida do possível, protagonizar as situações. Em vez de se perguntar: Por que isso foi acontecer comigo? Experimente uma nova posição: Como eu me coloquei nesta situação? O que posso aprender ou utilizar de recurso para superá-la? Protagonizar é incluir-se na situação como um co-responsável, encontrando formas de superá-la;

2-Visualize o futuro próximo e antecipe tendências e acontecimentos. Imaginação e Intuição orientada são ótimos atributos para fazer frente às constantes transformações de cenário, mercado e tendência.

3- Crie um significado para a sua realidade. Ele lhe dará a esperança de um futuro melhor. Esperança não é a expectativa de que algo dê certo. Esperança é a expectativa de que algo faça sentido. Dê um sentido para sua realidade.

4 - Procure conhecer a "verdadeira" dimensão do problema. Procure por informações objetivas e específicas, e evite a comunicação informal, o "boato", que, via de regra, só alimenta a tensão e o desespero.

5- Separe quem você é do que você faz. Bons pais e líderes, ao verem seu filho jogando uma pedra num cachorro, diriam: Você é um ótimo menino, mas eu não gosto do que você fez agora. Eles separam a identidade da ação específica. Eles não dizem - Você é uma criança má! O fato de cometer um erro não faz de você um incompetente ou fracassado pelo resto da vida. Ao mesmo tempo, não se considere “o cara” porque solucionou uma tarefa complexa. Nós não somos competentes, estamos competentes. Humildade e atenção são atributos realmente importantes em cenários de complexidade e mudança. Se considerar péssimo ou excelente profissional pode paralisar sua evolução. Continue atualizado, aprendendo sempre.

6- Procure desenvolver relacionamentos significativos. Pessoas com quem você possa conversar e discutir sobre suas questões, sem julgamento, interpretação ou moralidade.

7- Aprenda a ter "mente de solução". Utilize o tempo que se gasta em justificativas, esquivas de culpa, reclamação, burocracia para aprender o novo e orientar-se a solucionar a questão.

8 - Reconheça seus sentimentos e necessidades de seu corpo: Permita-se chorar, sentir dor, dormir, descansar, recuperar-se e retornar ao seu estado de excelência.

9- Tenha como parceiro constante a Criatividade e Inovação. No pensamento, nos sentimentos e nas ações. Os maiores conflitos são causados por ideias ou ações rígidas, inflexíveis.

10 - Cultive e valorize seu poder de escolha. O Resiliente em essência é aquele que luta pelo direito de decidir escolher como vai interpretar as situações da vida, assim como escolher o que vai fazer a respeito.

Quais as características dos profissionais com potencial resiliente?

Observamos que as características abaixo dos profissionais com potencial resiliente precisam ser “manifestadas” nos momentos de complexidade e mudança, não apenas nos momentos de conforto, estabilidade ou conveniência:

- Protagonistas: Incluem-se na situação, se posicionam como co-responsáveis e como peça-chave para o alcance de seus resultados;

- Criativos: Capacidade da pessoa/grupo para transformar/construir ideias, objetos e ações em algo diferente e inovador, buscando novos padrões de solução e crescimento.

- Gostam e aceitam mudanças: Abertos a reflexões e experiências, interessados em diversidade e inovações;

- Auto-estima: É a capacidade que a pessoa/grupo tem de respeitar, valorizar e amar a si mesmo.

- Auto-eficácia: Crença na capacidade de organizar e realizar uma sequência de ações para produzir um resultado desejado.

- Senso de Humor: É a capacidade da pessoa/grupo expressar verbal e corporalmente elementos incongruentes e hilariantes com efeito tranquilizador e prazeroso para si e para os outros, sem jocosidade ou desprezo.

- Emocionalmente inteligente: É a capacidade de sentir, entender e aplicar eficazmente o poder e a perspicácia de nossas emoções como uma fonte de energia, informação, conexão e influências humanas.

Quem deve administrar o processo de resiliência nas empresas?

Normalmente, a empresa tem em seus principais executivos os apoiadores do processo, complementado com um comitê de Gestão e/ou Mudança, responsável por coordenar, acompanhar e promover seu desenvolvimento.

Existem pré-requisitos ou situações mais propícias para o uso da resiliência?

A Resiliência pode ser utilizada em diversos contextos e em diferentes níveis de maturidade Organizacional. Uma empresa pode estar prestes a falir, outra está com dificuldades sazonais, outra precisa melhorar e aprimorar a sua performance. Todas precisam promover mudanças e podem utilizar o conceito de Resiliência.

Mas é a mesma Resiliência para todas as situações?

O processo de Resiliência respeita as circunstâncias em que a empresa se encontra. Faz uma análise da situação, descobre como a mesma está se adaptando. Depois define o tempo que tem para promover mudanças e cria uma solução de Resiliência a partir das necessidades específicas e das oportunidades de melhoria que a empresa pode obter com a transformação.

Ao longo do processo de Desenvolvimento da Resiliência nas Organizações, percebemos que ela pode apresentar diferentes significados, representados em níveis:

Resiliência nível 1 - Quem se recupera de traumas e adversidades

- A empresa perdeu Market Share por 10 anos, se transformou e deu a volta por cima.

Resiliência nível 2 - Quem se torna mais flexível, fluído, “leve”, consistente e econômico

- Pai foi despedido, pois a empresa foi comprada, mas como era tão bem preparado, em três dias já estava trabalhando;

- Empresa, diante dos desafios de qualificar melhor seus processos, utilizou 6 Sigma e em dois anos se reposicionou-se como líder de mercado;

- Fusão entre empresas acontece de maneira fluída e consistente.

Resiliência nível 3 - Quem cresce e fortalece, mesmo em situações adversas ou mudança

- O líder despreparado que assume uma área e “amadurece” com a promoção;

- Empresa Familiar que se transforma positivamente, trocando a política feudal pela mentalidade e sistemas de Gestão.

- Empresário que superou o mercado de enciclopédias com a ajuda da comunidade virtual

Resiliência nível 4 ou Resiliência Estratégica - Quem antecipa acontecimentos, produz congruência e pode até transformar a realidade

- Montadora que triplicou faturamento, pois produziu um caminhão menor e mais ágil, exatamente o que os clientes precisavam

- Locadora que superou vendas da concorrente. Cliente aluga vídeos pela internet e o recebe em casa.

- Governo aprimora e constrói sistema de energia alternativo, evitando “apagão elétrico” nos próximos 5 anos.

- Empresa investe “pesado” em capacitação e retenção de Talentos, para poder gerenciar a empresa nos próximos 7 anos

- Empreendedor que triplicou faturamento, construindo um novo mercado a partir da identificação de uma necessidade operacional com o cliente

A aplicação da Resiliência nas Organizações exige um processo integrado de atualização e ajuste do modelo mental da empresa. Ajuda a expandir sua capacidade de modificar os conhecimentos e competências para obter uma execução e um processo operacional que manifesta exatamente suas intenções estratégicas.

O resultado é uma empresa mais preparada e engajada para construir seu Futuro Sustentável.

Você atua também há muito tempo como coach, uma atividade que está ganhando popularidade no Brasil. Essa demanda pode criar profissionais mal capacitados? Como identificar esses defeitos?

Qualquer atividade que ganha alta escala em curto espaço de tempo pode perder muito de sua qualidade. Assim também acontece atualmente com o Coaching.

A demanda cresceu muito nesses últimos 10 anos. As escolas de formação promovem cursos "básicos" que têm uma média de 64 horas de desenvolvimento. Observamos que é um tempo curto para uma atividade que requer uma complexidade imensa, principalmente para quem quiser trabalhar como Executive Coaching. Para essa modalidade, por exemplo, identificamos também o baixo conhecimento sobre Gestão e a dificuldade de falar a "Linguagem empresarial".

Algumas escolas de formação disseminam a idéia de que o Coach não precisa saber do Negócio do Cliente ou de Gestão, que o importante é fazer "perguntas poderosas". Muitos saem com um conjunto de técnicas e atividades e procuram "enquadrar" as questões e objetivos dos clientes nessas técnicas. Como resultado, os clientes ficam duvidosos e incrédulos do processo de coaching, sem uma noção lógica dos resultados que foram - ou não - alcançados.

Porém, você pode ter uma excelente experiência com o processo de Coaching, encontrando profissionais de alta qualidade.

Em geral, bons coachs têm em comum:

1- Uma formação que ultrapassa o módulo básico;

2- Uma metodologia de trabalho, que pode ser solicitada e verificada;

3- Comprovação de experiência com mais de 10 clientes atendidos e que recomendam o processo de coaching;

4 – Tem um tempo de atuação constante há mais de 5 anos;

5- Se preocupam em construir análise, planejamento e planos de ação para o seu desenvolvimento;

6- Acabam por se especializar numa modalidade: Life Coaching, Coaching executivo, Corporativo, de Carreira, etc.

7- São profissionais que estão com uma agenda bem intensa.

Além de diretor da Entheusiasmos Consultoria, você também ministra palestras. Quais os temas mais requisitados pelas organizações?

Palestrar é uma atividade muito especial para mim e estou muito feliz, pois nesse ano de 2010 fui um dos 5 indicados para o 13º Top of Mind - RH2010 – Categoria Palestrante.

Atualmente, os temais mais requisitados pelas organizações são:

• Liderança Eficaz e Futuro Sustentável

• Resiliência e a Arte de Superar Desafios

• Equipes de Alta Performance

• Gestão da Mudança

• Cultura de Valor e Engajamento de Talentos

• Gestão para Resultados: a conexão entre Estratégia, Cultura e Liderança

• Gestão de Talentos: como promover valor agora e no futuro

• Criatividade e Inovação que faz Acontecer

Fonte: Jornal Carreira & Sucesso

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