terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Concurseiros desaprovam congelamento dos concursos públicos

Embora alguns encarem o adiamento das seleções públicas como chance de se preparar melhor, a maioria lamenta a decisão.
O adiamento dos concursos públicos e das nomeações anunciado pelo governo vai alterar a rotina de milhares de candidatos em todo o Brasil. De um lado há os comemoram por conseguirem mais tempo de preparação para as provas. De outro, os lamentos de quem deixou o emprego e fez compromissos esperando a sonhada aprovação e o desânimo dos recém-aprovados que aguardam a convocação. O fotógrafo João Américo Filippi, 28 anos, foi classificado para o cadastro reserva do Ministério Público da União (MPU), que conta com projeto de lei sancionado para abrir 6.804 cargos até 2014. “Eu estava na expectativa de começar a trabalhar, no máximo, agora em fevereiro”, contou Filippi, que começou a estudar para as seleções públicas em 2008.

Assim como Filippi, milhares de pessoas no país deixaram a carreira de lado para estudar. “É uma situação desesperadora para uma pessoa como eu, que estou formada, não trabalho, me dediquei e, agora, fiquei sem perspectivas”, desabafou Isabella Mezzeth, 25 anos, que adiou o projeto de cursar uma especialização para prestar concursos. Isabella foi aprovada para o cadastro reserva da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além do MPU, e esperava ser nomeada em breve. “Infelizmente, terei de esperar. A opção é continuar estudando e torcer para que haja novas seleções.”

A analista de sistemas Andrea de Oliveira, 33 anos, pediu demissão há um ano para estudar. Passou na prova do Ministério do Turismo — que ofereceu 112 vagas — e aguarda a nomeação. “Fiquei preocupada, pois estava contando com essa convocação. Agora, quero fazer o concurso da Polícia Federal, que também está ameaçado, mas vou continuar estudando”, Andrea.

O anúncio de suspender as nomeações também deixou Adelson Viana, 28 anos, agoniado. Graduado em direito e concursado do Banco do Brasil, ele sonhava em migrar para sua área de formação. “Passei para o cadastro reserva do MPU e tinha muita expectativa de ser nomeado em breve.” Viana diz ter desistido, inclusive, de estudar para outras seleções. “Eu vou aguardar agora porque, pelo visto, as nomeações serão em número reduzido”, acredita. O matemático Leonardo Marinho, 31 anos, é servidor do Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas aguarda a nomeação para o Banco Central. “Estava com esperanças de ser chamado ainda no primeiro semestre, mas, pelo visto, deve ficar para o segundo.”

Estudos

Embora compreensível para os especialistas, o comportamento de Viana e Marinho não é o mais indicado. Na opinião de Thiago Sayão, presidente do Complexo Educacional Damásio de Jesus, de São Paulo, os candidatos não podem diminuir o ritmo de estudos, pois a medida anunciada pelo governo não afeta as seleções estaduais e municipais. “Sem dúvida, haverá restrição na esfera federal, principalmente no primeiro semestre, mas isso atinge a minoria dos certames do país”, apostou o professor.

Sayão ressaltou que, por conta da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o governo terá de reforçar o quadro de servidores. “A área de segurança pública precisará de recursos humanos. O concurso da Polícia Federal, por exemplo, é muito aguardado. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, frisou que as análises serão feitas caso a caso”, ressaltou o especialista.

Quem segue o conselho de Sayão é a universitária Camila Mortati, 30 anos. “A medida foi positiva, pois muitos vão desistir e a concorrência será menor. Agora vou continuar estudando com mais tranquilidade”, ponderou Camila, que dedica nove horas do dia se preparando para seleções públicas. O educador físico Diego Luís Pereira de Oliveira, 27, também comemorou a decisão. “Foi uma forma de motivação. Aqueles que estão batalhando para provas como a do Senado, que são muito difíceis, ganharam tempo”, avaliou. A administradora Rosimeire Rocha Guedes, 35, entretanto, não pensa da mesma forma. “É um banho de água fria. Muita gente suspende a vida para estudar e o governo anuncia uma mudança como essa. É desanimador.”

Vagas

O ano passado foi farto em concursos públicos para os candidatos. Levantamento da Vestcon mostra que houve cerca de 220 mil vagas ofertadas nos governos municipais, estaduais e federal em todo o país. Antes do anúncio do corte no Orçamento, a previsão era de que outras 200 mil oportunidades fossem abertas nas três esferas do poder neste ano. O processo seletivo que mais criou expectativas e polêmicas foi o do MPU, que abriu 594 vagas e cadastro reserva para cargos de níveis médio e superior. Ao todo, 754.791 pessoas se inscreveram, uma média de 1.270 candidatos por vaga. Desse total, 318.791 concorreram ao cargo de analista e 435.998 ao de técnico. Segundo o MPU, até hoje foram nomeadas 1.073 pessoas. “Não sabemos quantas pessoas serão convocadas neste ano. Estávamos esperando a definição do Orçamento para fazer essa previsão”, informou o órgão.

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