terça-feira, 1 de março de 2011

O tempo e os ventos

Por que no Brasil não temos nenhum nome da área de tecnologia e mídia eletrônica, na geração de 30 a 40 anos, com expressão nacional
Por Jack London*

Não há dúvida: vivemos tempos de surpreendentes erupções de inquietação e repulsa aos valores e comportamentos dominantes, em partes diferentes do mundo, cada uma com seus problemas e perfis. Tenho uma tese meio fatalista, mas que se aplica com razoável precisão: de 20 em 20 anos( mais ou menos) somos acometidos de uma coceira insuportável, um sentimento de cansaço infinito e como um cachorro pulguento, sacudimos o dorso e com ele se vão vermes apodrecidos de vários tipos. Em 1968, a erupção foi na Europa Ocidental, nos Estados Unidos, e seus reflexos chegaram até aqui. De uma vez, milhares de jovens foram às ruas e de pronto conceitos e comportamentos foram modificados, mais do que governos e regimes. Em 1989, a queda do Muro de Berlim reproduziu o mesmo fenômeno na Europa Oriental, e dezenas de países que naquele momento viviam sob uma experiência política, cultural e econômica chamada Socialismo Real deixaram para trás décadas de história, e um poder que parecia firme e consolidado se transformou em ruínas. Agora vemos, movidos por um toque invisível, milhares de homens e mulheres ocuparem as praças no norte da África e no Oriente Médio, e numa profusão de tendências e pensamentos, reduzir tudo a uma espécie de “basta histórico”, que mais uma vez pode não mudar (ou mudar) governos e regimes, mas mudará com certeza comportamentos e visões de mundo.

Desta vez, o protagonismo da internet é a grande novidade e muitos atribuem às redes sociais um papel central no planejamento e organização das manifestações. Como tudo na vida, o calor dos acontecimentos recomenda prudência e análise criteriosa antes de opiniões definitivas sobre o assunto, mas sem dúvida, há algo de novo nos ventos.

Quero no entanto, ressaltar um novo aspecto nas recentes manifestações, e este aspecto tem nome, identidade e endereço: Wael Ghonim, o gerente de marketing do Google no Egito, que com seus trinta anos se tornou símbolo ativo de uma geração e de uma forma de ver o mundo.

Trata-se de um profissional da área de tecnologia que, para além do seu dia-a-dia, projeta sua influência no seu país e no mundo. Outros casos conhecidos são o da blogueira cubana Yoni Sanchez (34 anos) e do agora pop star Assange, com seu jeitão de mordomo de filme inglês.

E nós, como vamos?

Confesso que sou tomado por um sentimento que pode ser resumido numa palavra: conflexo. A palavra, que não é minha, faz parte da linguagem de um belíssimo filme de animação chamado Mary&Max (não percam!), soma confuso + perplexo.

Por que no Brasil não temos nenhum nome da área de tecnologia e mídia eletrônica, na geração de 30 a 40 anos, com expressão nacional? Por que jogadores de futebol, designers de moda, músicos, celebridades ocasionais e tantos outros setores criam e projetam lideranças para fora de seus limites, criando personalidades que influenciam o país como um todo?

Sim, há muitos nomes conhecidos em blogs e dentro das redes sociais, mas qual deles se projeta sobre a sociedade brasileira como uma referência?

Por que nossos empreendedores tecnológicos (pequenos, médios ou grandes) perdem seu espaço assim que saem da toca e nossos executivos e tecnólogos, muitos deles com grande capacidade e articulação, jamais atravessam os umbrais das referências internas?

Proponho aos meus dezessete leitores iniciarmos uma discussão sobre o assunto e começo propondo uma candidatura a Presidente da República em 2004: Alexandre Hohagen em Brasília.

Outras propostas de candidaturas são bem-vindas e terão ampla e irrestrita divulgação.

A que acabo de lançar agora tem no entanto, uma pequena vantagem: já tem slogan e jingle:

Hoha Lá!

Fonte: PEGN

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