quarta-feira, 9 de março de 2011

Você é seu melhor investimento

O excesso de afazeres pode dar a sensação de que o aprimoramento profissional será sempre um projeto em suspenso. Não desanime. Com um pouco de organização e foco é possível incrementar o currículo sem descuidar a vida pessoal.

Texto • Raphaela de Campos Mello

Vida de mulher moderna não é nada fácil. Tarefas de toda ordem disputam cada lacuna da agenda, quando não roubam horas preciosas de sono. Como encontrar fôlego e motivação para investir no aprimoramento profissional? Esse é o perigo. Negligenciar aspectos da vida tão vitais quanto o afeto, os cuidados pessoais e a rotina doméstica.

Organização e foco são fundamentais para quem quer dar um gás na carreira e ainda curtir os prazeres da vida. Sim, os especialistas garantem que ninguém precisa virar workaholic para se sentir em dia com o desenvolvimento profissional. “Quais são meus objetivos? Essa é a primeira pergunta que devemos nos fazer”, afirma Bruna Tokunaga Dias, gerente de carreiras da Cia. de Talentos, de São Paulo. Não economize grafite. Rabisque com vontade seus alvos no papel. Nada mais instigante do que visualizar aonde queremos chegar. “O principal é ter perspectiva. Definir metas para cada semestre ou ano. Assim, não nos atrapalhamos ao querer fazer tudo ao mesmo tempo”, diz Bruna.

O próximo passo causará arrepios em quem tem pavor de elaborar listas por ordem de prioridade. Sinto trazer à tona essa angústia, mas não há outra saída. “O excesso de responsabilidades impõe a necessidade de priorizar demandas, de preferência, usando algum método que ajude a tratar objetivamente o que é mais importante, urgente ou grave”, diz Carlos Alecrim, CEO >> do ICCoaching, do Rio de Janeiro. “Cuidado para não cair na armadilha de selecionar as tarefas que você prefere ou as mais simples. Faça o que é necessário”, ele completa.

Claro que não vamos deixá-la na mão. Sua salvação pode ser o método organizacional GUT (Gravidade, Urgência e Tendência), indicado por Carlos Alecrim aos clientes mais enrolados. O esquema consiste em listar todos os projetos que queremos tocar. Depois, atribuir a cada um deles as notas 1, 2 ou 3, de acordo com as seguintes variáveis: G (1 para pouco grave; 2 para grave; ou 3 para muito grave); U (1 pouco urgente; 2 urgente; ou 3 muito urgente); e T (1 se a tendência é ser resolvido com o tempo; 2 se ficar do jeito que está; ou 3 se piorar no decorrer do tempo). Por fim, some os números correspondentes a cada intento e comece a realizar as ações de maior peso.

Agora, entramos na aula que nos coloca face a face com o relógio: gerenciamento do tempo. Outro tirano que precisa ser desmitificado. Vamos lá. A lição não se diferencia muito daquela esmiuçada na aula anterior, ou seja, estabelecer prioridades. “Obrigue- se sempre a começar o dia com as tarefas mais complexas ou mais chatas, pois nesse período seu cérebro está mais descansado. Não acumule afazeres difíceis e cuidado com a ansiedade. Ela rouba seu tempo ou reduz sua capacidade de execução”, diz Alecrim.

Para Alkíndar de Oliveira, consultor de empresas, palestrante e escritor, autor de Liderança Saudável (Editora Planeta), de São Paulo, administrar os ponteiros tem relação direta com viver o presente: “Quando estiver no trabalho, esteja no trabalho. Quando estiver com sua família, esteja com sua família”.

Permanecer conectadas à razão original que nos levou a selar compromissos é outro truque que nos auxilia a distribuir com equilíbrio os minutos disponíveis. “A mulher que realiza de forma competente cada uma de suas funções é aquela que vê sentido naquilo que constrói. Assim, consegue dividir seu tempo com parcimônia”, afirma Oliveira.


Heroísmo em baixa

Crescer no mundo do trabalho enquanto zelamos pela casa, pelos rebentos, pelo companheiro e pela silhueta se torna mais fácil quando conseguimos rasgar o figurino de heroína colado à nossa pele nas 24 horas do dia. “Quem desempenha vários papéis não consegue tirar nota 10 em todos eles, talvez nota 8. Não dá para ser perfeita em tudo”, afirma Bruna, da Cia. de Talentos.

Tudo bem, você pode argumentar: “Posso pedir trégua ao perfeccionismo. Mas como calar a culpa que insiste em detonar minha porção mãe e mulher?”. Ora, colocando em prática as lições comentadas na primeira parte desta reportagem. “Boa parcela desse sentimento nasce da desorganização. Estabelecer horários e cumpri-los ajuda a aplacar a opressão que sentimos ao fazer uma coisa achando que deveríamos estar fazendo outra”, diz a especialista. A convicção de ter feito a escolha certa no momento certo, ela acredita, também é um ótimo antídoto contra cobranças desnecessárias.

A consultora também sugere a formulação de acordos com os filhos e o parceiro. Esse gesto elimina a sensação de que estamos sempre em débito com eles. Por exemplo, se hoje sua agenda está tomada por assuntos corporativos, reserve uma boa fatia do dia de amanhã para curtir a família de um jeito especial. Outra dica: seja eficiente no horário de trabalho para não levar serviço para casa. “Isso faz com que os filhos entendam que a mãe está disponível em determinados momentos e em outros não”, afirma a consultora de carreiras. “Assumindo suas responsabilidades e desbravando novos horizontes você dará exemplo de seriedade e perseverança aos seus filhos”, diz Alecrim.

A empresária paulista Luciane Tomaz nunca duvidou dessa receita. Com flexibilidade e habilidade em delegar tarefas, conseguiu se realizar como mãe e como profissional. Fez o que foi necessário. Diminuiu o ritmo quando seu filho era bebê e acelerou o passo depois que ele completou 5 anos. “No início, cheguei a montar um quarto para ele na minha fábrica”, diz. Mais tarde, quando passava dez horas por dia enfurnada em salas de aula, imersa no aperfeiçoamento profissional, contou com uma equipe afiada em casa e na empresa. “Sempre me cerquei de pessoas eficientes e confiáveis a quem pudesse delegar missões com tranquilidade. Quem não confia na própria liderança não consegue administrar as coisas a distância, o que é fundamental para quem trabalha e tem família”, afirma. Hoje, o filho, adolescente, a admira por se ter mantido tão presente e, ao mesmo tempo, atenta aos negócios. “Desde cedo, expliquei para ele como as coisas funcionavam e, o mais importante, sempre primei pela qualidade do tempo que passávamos juntos”, diz.

Leque de opções


Chega de teoria. Hora de encorpar a bagagem profissional. Com tantas ofertas de cursos de idiomas, especializações, workshops, intercâmbios e afins, torna-se um trabalho à parte definir em que vale a pena investir as reservas financeiras. Escolher determinada formação com base na fama que corre à boca pequena é, no mínimo, arriscado, alertam os especialistas. “O profissional deve buscar algo que atenda a demandas específicas de sua área de atuação ou que esteja alinhado à sua perspectiva de carreira”, diz Bruna.

De acordo com Carlos Alecrim, para termos uma visão global do lugar que queremos ocupar, temos de visualizar três conjuntos de competências: as técnicas (especialidade profissional), as estratégicas (planejamento gerencial) e as comportamentais (liderança). Uma vez observadas essas categorias, temos condições de traçar estratégias realistas: “Veja que conjunto de competências está menos favorecido e invista nele para melhorar sua condição”.

Os incensados cursos de pós-graduação e MBA (Master of Business Administration) são bem-vindos, na visão do consultor Alkíndar de Oliveira, mas com uma ressalva. “Eles são relevantes não somente do ponto de vista técnico. Mas, sobretudo, quando abarcam treinamentos que fomentem o crescimento interior do indivíduo”, diz ele, mirando o futuro. “Cada vez mais o que irá determinar a estirpe de um profissional não será o seu belo currículo acadêmico, mas, principalmente, sua forma de lidar com as questões e de conviver com os que o rodeiam.”

Passar um tempo fora do país está nos planos de muita gente. A oportunidade reúne diversos atrativos: aprendizagem, novos ares, cultura e diversão, amizades intercontinentais. “O mais importante é saber o que se quer obter após a viagem. Ter uma experiência aleatória no exterior pode ser imprudente”, afrma Bruna. “Negocie com o chefe, com o RH ou com o dono da empresa. Voe com gaiola e tudo, se for o caso, mas mantenha contato com a realidade para a qual pretende voltar e use a tecnologia a seu favor”, diz Carlos Alecrim.

Alguns temem que esse afastamento, mesmo provisório, esfrie a relação com a empresa. Isso só acontecerá, na opinião dos especialistas, se o vínculo com a chefia estiver capenga muito antes dessa decisão. De toda forma, a estada no estrangeiro não precisa necessariamente ser longa, como nos casos de mestrado e doutorado. “Vale participar de cursos rápidos que enriquecem o currículo e mantêm o profissional atualizado”, afirma Alkíndar.

Esse esquema a jato fez a cabeça da psicóloga Sandra Cabral, de São Paulo. Ela arrumou as malas, deixou o filho sob os cuidados do marido e da mãe e foi estudar inglês por um mês em Dallas, nos Estados Unidos. “Precisava de um curso intensivo e, como meu filho tinha 14 anos, me convenci de que minha família poderia sobreviver sem mim por um tempo”, diz. Apoio não faltou, muito menos monitoramento virtual. “Essa experiência estreitou os laços familiares. Claro que acompanhei a rotina deles pela internet”, afirma, rindo. “Foi muito bom para meu marido e meu filho entenderem que tenho desejos e objetivos pessoais que precisam ser atendidos”, diz, convicta.

A análise dos rumos que queremos dar à carreira é dinâmica. Muda conforme a fase que vivemos. Por isso, é crucial saber em que ponto do mapa profissional estamos posicionadas. Só assim poderemos direcionar nossos recursos com coerência. “Aos 30 anos, devem-se buscar diplomas e títulos. Aos 40, o foco deve ser a carreira gerencial ou empreendedora, dependendo do perfil”, afirma Alecrim. Na meia-idade, a marcha começa a ser reduzida em prol do bem viver. E acrescenta: “Aos 50 anos, a prioridade é a poupança e a saúde. A carreira deve estar consolidada, pois aos 60 a meta é revisitar sonhos e talentos”.

“Assumindo suas responsabilidades e desbravando novos horizontes você dará exemplo de seriedade e perseverança aos seus filhos”

Carlos Alecrim, CEO da ICCoaching

Fonte: Bons Fluídos

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