quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Evolução da EAD no Brasil

Avaliar este processo histórico ajuda a entender como é reducionista a confusão entre o recente e-learning e a estrutura geral de EAD no país. E compreender isso é fundamental para se avaliar criticamente o que possa ser uma pedagogia adequada para esta mais nova modalidade de ensino, a fim de diferenciá-la de um simples commoditie a mais no mercado.

A geração pioneira de ensino a distância do Brasil foi fundada já em 1939, com o Instituto Monitor ( www.institutomonitor.com.br ), montada por europeus e que foi mudando seu perfil com as renovações desse ambiente de ensino. Hoje dedica-se à formulação de conteúdos pedagógicos para EAD e à aplicação de cursos oficiais técnicos e corporativos, além de manter uma linha tradicional de cursos livres. O Monitor já contou cinco milhões de matrículas, modernizou-se e atualmente acompanha os bons ventos de seu nicho de mercado, crescendo 27% ao ano.

Num trabalho feito para a obtenção de título de pós-graduação junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Helenice D’Assunção de Freitas cita que “em nossa cultura chama a atenção um traço constante na área: a descontinuidade dos projetos, principalmente governamentais” (in Educomunicação aliada às práticas do Ensino a Distância, de março de 2003). Entretanto, cita mais alguns projetos que se destacaram:

a) O projeto Movimento de Educação de Base (MEB), que utilizava principalmente a educação pelo rádio para a alfabetização, desmantelado pelo regime militar instalado em 1964. Anos depois, os próprios militares, empenhados num programa de integração nacional, lançaram o Projeto Minerva (1970), este já voltado à formação de primeiro e segundo graus, utilizando também o rádio com o empenho do próprio Ministério das Comunicações. Até o início dos anos 80, o Minerva atendeu 300.000 pessoas, dos quais 66.000 solicitaram exame de madureza.

b) Uma alternativa ao Minerva foi o Projeto Instituto de Radiodifusão do Estado da Bahia (de 1969 a 1977), que já utilizava meios como rádio, TV e correio e obteve naquela época baixíssimas taxas de evasão para esse tipo de educação (15%).

c) Empresas estatais também se animaram a criar seus cursos para formação de funcionários, como o projeto Acesso, lançado em 1975 pela Petrobrás e utilizando diversas mídias.

d) Já na década de 80, o Senai criou o programa Auto-Instrução com Monitoria (AIM) e ainda hoje mantém diversos cursos a distância (só na sua primeira década de funcionamento formou mais de 23 mil alunos).

e) A Rede Globo, por meio da Fundação Roberto Marinho, fez uma parceria governamental para oferecer Telecurso e Telecurso 2000, utilizando principalmente a mídia televisiva.

f) O ensino de professores conta com fortíssimos projetos a distância da parte do governo federal desde 1973 (com o Projeto Logos). O interesse se mantém atual no governo Lula, que lança vários projetos para a formação de docentes a distância.

Grande parte destes e de vários outros projetos brasileiros foram influenciados pela experiência da Open University criada pelo governo inglês em 1971 para atender alunos adultos (20 a 40 anos) de locais distantes em busca de uma “segunda chance”, utilizando diversas mídias como rádio, TV e correio. Atualmente ela ocupa o primeiro lugar entre as doze grandes open universities mundiais (universidades abertas, com grande disposição para eliminar barreiras à aceitação de alunos de diversos pontos do mundo).

O surgimento da internet e sua popularização, na década de 90, encontraram portanto uma vasta experiência no Brasil e no mundo de engenharia pedagógica para a adaptação de conteúdos ao ensino a distância, já que o aluno dessa modalidade de ensino necessita de uma atenção pedagógica totalmente diferenciada em conteúdo e apresentação. O advento do e-learning, por sua vez, aproveita parte desse vasto material e acrescenta outras demandas, e é exatamente este o ponto que diferencia o bom e-learning do ruim. O ensino pela internet não pode utilizar nem a metodologia presencial e nem mesmo se apoiar totalmente na vasta metodologia a distância já existente nas escolas especializadas. Pede uma outra sintaxe pedagógica, que não significa apenas transportar textos para o formato digital, e sim criar um mix pedagógico a altura das novas demandas sociais dentro do contexto brasileiro.

Fonte: Curso Certo

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