domingo, 17 de abril de 2011

Síndrome do medo de perder

*Leila Navarro

Certo dia, fui abordada por uma pessoa eufórica que escutou pela metade uma descontraída conversa entre um colega e eu. Falávamos sobre a possibilidade de criar um novo produto quando ela se aproximou e, literalmente, disparou como metralhadora sem alvo, diversas perguntas para nós dois: Quando? Por quê? Onde? Quem? Como? Enquanto procurava recuperar o fôlego, ela buscava em nossos olhos as respostas que tanto ansiava. Sem entender direito o que estava acontecendo, meu colega e eu esperamos que a distinta pessoa voltasse a respirar normalmente e explicasse o motivo de tanta euforia.

Sua resposta nos surpreendeu! Ela estava com receio de ter perdido algo que nem ela mesma sabia o que era! Enquanto delirávamos com possibilidades, ela entendeu que se tratava de algum novo acontecimento e não se permitia ficar fora de qualquer movimentação que estivesse relacionada aos seus contatos profissionais - fosse o que fosse ela queria participar. Naquele momento percebi que estava diante de um comportamento cada vez mais frequente no mundo corporativo. E, a definição mais próxima que encontrei para retratar esse fenômeno foi “síndrome do medo de perder”.

O ritmo de vida contemporâneo tem levado muitos homens e mulheres a tornarem-se vítimas de suas próprias expectativas. Eles têm adotado um modelo ou exemplo a ser seguido, deixando de lado seu verdadeiro eu e, infelizmente, fazendo adormecer seus talentos e habilidades. Isso tem feito com que muitos profissionais se encontrem cada vez mais estressados na tentativa de acompanhar o ritmo de "todos" os acontecimentos. Eles parecem estar em uma maratona, competindo pelos primeiros lugares – tudo é prioridade, tudo é importante, tudo é necessário. Na ânsia de gerir informação, tem muita gente enchendo seus currículos de cursos, diplomas, encontros e informações não porque tem clareza de que tudo isso é relevante, mas por achar que precisa “seguir a tendência do mercado”. Eles imaginam que perder qualquer acontecimento é um risco que pode levar à exclusão e, por isso, são tão rigorosos e cobram de si mesmos resultados, desempenho e infalibilidade - o ter e o fazer tornaram-se, indevidamente, termômetros de competência, sucesso, status e poder.

Não é ao acaso que muitas pessoas reclamam de crônica falta de tempo. Na ânsia de estar a par de tudo, há quem não se permita um legítimo momento de descanso. Ócio, então, nem pensar! O simples fato de esparramar-se no sofá para ver um filme na tevê enquanto surgem no mundo novas informações, gera intensa culpa. Quem sofre da síndrome do medo de perder tem a constante sensação de incapacidade e inadequação porque seus parâmetros de conquista em geral são estabelecidos a partir do outro e não dele mesmo.

O desconhecimento do rumo que a sua própria vida está tomando e de que maneira poderá conduzi-la tem a ver com a falta de clareza a respeito de si mesmo e dos seus propósitos. Quando a pessoa é consciente de seu lugar no mundo, ela tem a noção precisa do que é relevante e decidirá fazer uma pós-graduação ou um curso de línguas, por exemplo, se estiver convencida de que isso é importante para alcançar seu propósito e não se considera carta fora do baralho quando se depara com alguém que detém alguma informação que ela desconhece.

Quem não tem um propósito definido e não decide o que tem relevância para a sua vida, fica mais preocupado em provar a sua expertise do que viver intensa e prazerosamente cada momento de sua vida. Quando assumimos quem realmente somos, nada pode nos desequilibrar. Mas, aqueles que reconhecem e exploram seus talentos e habilidades, sabem qual é o seu propósito e têm o autoconhecimento como questão de máxima relevância em sua vida estão imunes à síndrome do medo de perder – muito provavelmente tomaram o rumo certo para obter resultados sustentáveis em todos os seus empreendimentos.

*Leila Navarro é coach, escritora e palestrante há mais de 10 anos, tendo consolidado, neste tempo, um forte nome no Brasil e no exterior. Ao abordar temas Comportamentais, de Liderança, Gestão de Pessoas, Vendas e Empreendedorismo, já teve suas palestras assistidas por mais de um milhão de pessoas e hoje integra o ranking dos 20 maiores palestrantes do Brasil, segundo a Revista Veja. Além disso, já ganhou por duas vezes o Prêmio dos 100 Melhores Fornecedores de RH – Categoria Palestrante do Ano (2005 e 2009).

Fonte: Jornal Carreira e Sucesso

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