quinta-feira, 16 de junho de 2011

Liderança de Paixões e Virtudes

* Nicolai Cursino

Um líder é antes de tudo um ser humano, uma mulher, um homem. E suas qualidades e defeitos como ser humano, marcas de sua personalidade, de seus medos e de seus sonhos, é que definirão sua grandeza ou insignificância.

Quando admiramos líderes do porte de Martin Luther King, John Lennon, Abraham Lincoln, Chico Mendes, nos inspiramos pelas virtudes presentes em seus corações, por sua visão grandiosa de um mundo melhor e por suas ações corajosas para expressar sua missão. Todos eles sonharam com algo muito maior do que si mesmos. Os sonhos dos grandes líderes, que acabam se tornando seu propósito de vida, sempre envolvem a criação de um mundo mais virtuoso.

Auto-conhecimento e trabalho de crescimento pessoal tem sido a missão pela qual eu tenho dedicado minhas ações, meus sentimentos e meus sonhos. Eu realmente acredito, que ao nos tornamos seres humanos melhores, mais conhecedores de nossa natureza misteriosa de pensamentos, sentimentos e impulsos inconscientes e automáticos, podemos aos poucos nos tornar protagonistas de nossa própria vida. Capazes de escolher nossas reações, nossas atitudes, nossos pensamentos e nossos sentimentos. Melhor ainda, podemos expressar aquilo que de mais sagrado temos reprimido.

O Eneagrama, metodologia de autoconhecimento que eu tenho ensinado e aplicado dentro e fora das empresas no desenvolvimento da liderança, nos orienta entre outras coisas, sobre as nove paixões e as nove virtudes que nos tornam líderes mais nobres.

A paixão chamada ira se manifesta no líder explosivo, inflexível, controlador e com pouca tolerância de si mesmo e dos outros. Por outro lado, a virtude chamada serenidade vem de um coração aberto, sereno em sua aceitação de si mesmo e das diferenças, defeitos e qualidades das outras pessoas.

A paixão chamada orgulho se manifesta no líder que se acredita indispensável, insubstituível, incapaz de descer do seu pedestal para dizer “eu não aguento mais, eu preciso de ajuda”. A virtude chamada humildade traz por outro lado, um reconhecimento das próprias limitações e das próprias necessidades, trazendo-nos para o nosso exato tamanho, nem mais, nem menos.

A paixão chamada auto-engano (vaidade para alguns) se manifesta no líder que se acredita a capa de revista, preocupado com uma imagem fotográfica linda e pomposa, certo de que sem suas mãos, nada de importante aconteceria. Por outro lado, a virtude chamada veracidade, reflete o ser humano fiel à sua natureza espiritual e ao que realmente é por detrás dos personagens corporativos que cria.

A paixão chamada comparação se manifesta no líder arrogante, cuja maior preocupação é olhar para os outros e procurar meios para ser diferente, especial, superior. Longe das qualidades da virtude chamada equanimidade, que reflete o líder que vê a si mesmo e a todas às outras pessoas, independente de sua posição hierárquica, inteligência ou imagem, como iguais e dotados do mesmo potencial.

A paixão chamada avareza se manifesta no líder que economiza em sua interação com os outros. Não há tempo para elogios pessoais, não há espaço para as emoções, apenas para os números e para as estatísticas. A virtude chamada desapego em contrapartida traz um líder disponível, crente que não há necessidade de economizar afeto ou envolvimento, pois a abundância da vida sempre vai trazer mais daquilo que for preciso.

A paixão chamada medo reflete um líder que não acredita em nada que ainda não tenha visto ou que não tenha sido “comprovado”. Que duvida de si mesmo e precisa de garantias para seguir seus planos. A nobre virtude chamada coragem, por outro lado, move o líder que age pelo coração, que sem a menor hesitação, faz o que sua alma clama, sem precisar conhecer o caminho.

A paixão chamada gula se manifesta no líder que quer abraçar todos os caminhos ao mesmo tempo, lançar todos os novos projetos, produzir todas as novidades, guiando o barco cada hora para uma direção diferente. Por outro lado, a virtude chamada sobriedade traz o líder direcionado, focado e presente. Agindo naquele momento como se nada mais existisse, até que a tarefa tenha sido concluída.

A paixão chamada luxúria se manifesta no líder que atropela as opiniões e as pessoas pelo exagero de sua força. A massa dever ser controlada e a guerra ser vencida pela luta. Os que não estão comigo, estão contra mim. Por outro lado, a virtude chamada inocência cria um líder sem barreiras pessoais de defesa, sem guarda levantada, crente de que a natureza real do ser humano é ser bem intencionado. Sem preconceitos, sem ataques, apenas vulnerabilidade como mostra de sua força interior.

E, por final, a paixão chamada preguiça. Não a preguiça em levantar da cama no domingo de manhã, mas a preguiça do líder que se distrai, que não faz o que precisa ser feito para construir seu sonho. Aquele para o qual basta o salário e o ponto para marcar. Esperando a aposentadoria. Diferente da virtude chamada ação certa, qualidade fundamental ao líder que imediatamente arregaça as mangas, se levanta e toma a atitude necessária para construir sua visão.

Nós todos somos formados de paixões e virtudes, que certamente se apresentam em diferentes momentos e áreas de nossas vidas. A jornada do grande líder tem a ver com investir e expressar suas virtudes cada vez mais. Conhecer, aceitar e entender as conseqüências de suas paixões.

E com toda esta propriedade tornar-se um mestre de si mesmo. Escolher a qualidade dos sentimentos que habitam seu coração, e a qualidade das atitudes que constroem a sua vida.

Como seria vivermos em um mundo habitado por este tipo de liderança?

*Nicolai Cursino é consultor, treinador e palestrante em desenvolvimento humano e liderança, com foco no crescimento sustentável das pessoas e das empresas. Sua atuação abrange América Latina, Estados Unidos e Europa. É sócio-diretor da Iluminatta Brasil Desenvolvimento Humano.

Fonte: Jornal Carreira e Sucesso

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