domingo, 19 de junho de 2011

A moda agora é investir nas crianças

Grifes tradicionais dedicam cada vez mais esforços para suas próprias linhas infantis. O motivo: o mercado movimenta 4,5 bilhões de dólares por ano

Ronaldo Fraga Para Filhotes: o estilista não gostava das roupas infantis que existiam há dez anos quando seu filho nasceu e começou a desenhar peças exclusivas

São Paulo – Esqueça as supermodelos e os megaeventos como a São Paulo Fashion Week e a Fashion Rio. A concorrência cada vez mais acirrada no mercado de moda brasileiro está mudando a forma de investimento das mais tradicionais marcas do país. Um número crescente de empresas passou a olhar a moda infantil como um ótimo investimento.

O motivo: só no ano passado o setor movimentou 4,5 bilhões de dólares – 15% do mercado total de vestuário no Brasil. Marcas como Maria Bonita Extra, Farm, Ronaldo Fraga, Mixed , Le Lis Blanc e Isabela Capeto já perceberam esse novo filão que cresce 6% ao ano.

A Maria Bonita Extra, que tem a linha infantil Maria Bonitinha desde 2008, prepara para o ano que vem a abertura de mais lojas próprias da marca, além de franquias. Hoje são 15 lojas próprias, mais três franquias e 180 multimarcas. A expansão se justifica pelo crescimento da linha infantil, que hoje corresponde a 5% do faturamento da marca e recebe investimentos proporcionais ao que gera de receita.

Segundo Alexandre Aquino, dono do grupo Maria Bonita, a estreia no segmento infantil foi natural. “Veio de nossas clientes que se identificam com a marca e gostariam de ver suas filhas usando nossas roupas também”, diz.

A carioca Fábula, irmã caçula da Farm -- hoje associada à Animale --, também investe na expansão. A marca terá mais três unidades próprias no ano que vem para se juntar às cinco atuais (três no Rio de Janeiro, uma em São Paulo e outra em Brasília).

“A Fábula fechou 2010 com 4% do total do faturamento da Farm”, disse a EXAME.com Marcello Bastos, diretor comercial e marketing e comunicação da Farm e um dos criadores da Fábula, que veste meninas de até 12 anos. “Para este ano esperamos que o valor aumente para 7,5%.”

A marca nasceu em outubro de 2008, a partir da ideia de Kátia Barros, diretora de estilo e branding. Depois do nascimento de sua filha, Kátia – que é madrinha da filha de Marcello, sete anos mais velha – começou a desenhar as roupas das meninas para festas. O sucesso dos modelos exclusivos a fez ter a ideia de criar uma marca destinada às crianças. Em nove meses o projeto da Fábula estava de pé, com três lojas inauguradas no Rio de Janeiro, num custo total de 1,2 milhão de reais.

Uma história semelhante à Fábula tem o estilista Ronaldo Fraga, o pioneiro a migrar para o setor infantil com a Ronaldo Fraga para Filhotes (que ele pretende mudar para apenas Para Filhotes), para meninas e meninos de até 10 anos. A ideia surgiu após o nascimento de seu primeiro filho, há dez anos.


Na época, Fraga procurou roupas infantis, mas não encontrava nada que o agradasse. Resolveu, então, desenhar os modelos para o filho. Logo amigos começaram a pedir para que ele desenhasse outras peças até que o negócio tomou forma.

Expansão é só para a linha infantil. A marca principal, para adultos, só tem coleções à venda em duas lojas próprias, em São Paulo e Belo Horizonte, e deve manter essa proposta de exclusividade. A Ronaldo Fraga Para Filhotes é vendida também nas duas lojas da marca adulta, além de 170 multimarcas. E esse número tende a crescer.

No ano passado, o estilista separou a produção da Filhotes e montou uma fábrica específica, que corresponde a 50% da produção total.

A migração de tradicionais marcas de roupas para adultos para o segmento infantil é, inicialmente, por questões de negócios. “É uma fonte de receita excelente para as empresas. A diferença é que agora passamos por um momento em que o consumidor com mais renda passa a se preocupar com qualidade e design e é aí que os grandes nomes da moda têm a ganhar”, diz Otávio Pereira Lima, coordenador do MBA em Negócios e Varejo da Moda da Universidade Anhembi Morumbi.

Com ele concorda Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit): “Esses investimentos mostram a qualidade da indústria têxtil brasileira. O momento atual mostra uma grande profissionalização do setor, o que reflete na moda infantil”.

Segundo Aguinaldo, é difícil medir a quantidade de produtores de roupas infantis no Brasil por se tratar de um mercado ainda pulverizado – são cerca de 29.000 confecções no país. Para se ter uma ideia da profissionalização e qualidade pelas quais o setor passa, a feira Zero a Doze, que acontece a partir de domingo na capital paulista, reúne 65 expositores, entre eles a Fábula e Ronaldo Fraga Para Filhotes.

É o maior evento de moda infantil premium do país que acontece duas vezes por ano, direcionada a profissionais do setor. “Na edição de janeiro teremos uma semana a mais que será tratada como semana de moda mesmo, para lançamentos das marcas participantes”, adianta Alexandre Manetti, um dos organizadores do evento, que chega a terceira edição.

A feira, a exemplo do mercado todo, trás mais marcas originalmente direcionada ao público infantil, mas isso tende a mudar. “É um mercado em franca expansão e acredito que cada vez mais marcas tradicionalmente adultas vão investir no universo infantil”, diz Lima, da Anhembi Morumbi. Não há como desperdiçar um volume de 1 bilhão de peças produzidas anualmente. Fica a dica para as empresas.

Fonte: Portal Exame

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