quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Imperatriz Leopoldinense escolhe samba de Jeferson Lima - Por Karina Monnerat

Pela terceira vez, o samba do friburguense, Jeferson Lima, foi escolhido para representar a escola de samba Imperatriz Leopoldinense na Sapucaí. Com uma trajetória de grandes premiações e composições escolhidas pelas principais escolas do Rio de Janeiro, este ano o compositor optou por um samba mais poético e interpretativo, ousadia que deu certo. “Jorge Amado, Jorge”, vai homenagear o centenário do escritor Jorge Amado, falando sobre sua importância na literatura e no Brasil.

De acordo com Jeferson, ter o samba escolhido para representar uma escola de samba é muito difícil e desgastante, além de demandar uma grande estrutura que, segundo ele, não custa menos de R$ 60 mil. “Temos que pensar em um samba que seja funcional para a escola e para o desfile, que possa atender as expectativas da mídia, agradar ao carnavalesco e suprir as necessidades da escola. Para se vencer tem que ter um tanto de inspiração, talento, estrutura e muita sorte”, explicou.

Aos 14 anos, Jeferson escreveu seu primeiro samba-enredo, que foi escolhido pelo bloco Bola Branca. Depois da primeira vitória o compositor participou de diversas outras competições e foi escolhido inúmeras vezes por blocos e escolas de samba de Nova Friburgo até que recebeu o convite para ingressar na ala de compositores da Imperatriz Leopoldinense, chegando à final na maioria das vezes.

Em 2004 foi vitorioso pela primeira vez na mesma escola e há cinco anos consecutivos, tem sua obra presente na Sapucaí, sendo que um deles não é assinado. Em 2009 foi escolhido pela escola Renascer, vice-campeã do grupo de acesso, em 2010 pela Imperatriz e 2011 pela Viradouro.

Além das vitórias nas escolas de samba, as composições de Jeferson são muito premiadas pela mídia carioca especializada no assunto, como Samba Net, Troféu Jorge Lafond, Plumas e Paetês, Rádio Manchete e Estandarte de Ouro. “É um grande presente saber que o trabalho está agradando a crítica especializada. Não estamos só vencendo o samba, a crítica também tem nos premiado”, ressaltou o compositor.

A sua criação de maior repercussão de Jeferson foi o “Mar de fiéis”, samba enredo da Imperatriz em 2010, que foi escrito em homenagem ao parceiro de composições Veneza, que faleceu em 2009. O samba foi considerado um dos melhores da década pela crítica e foi o que mais marcou o trabalho do compositor, ainda sendo o mais premiado do ano.

Para Jeferson, cada composição tem uma inspiração diferente, mas em todas elas ele se inspira na vida. “Eu não vejo muito mérito em quem faz, nós somos apenas instrumentos de Deus usados para fazer alguma coisa. Às vezes a gente acerta, às vezes não”, disse.

O samba enredo escolhido para o Carnaval de 2012 também foi assinado por Toninho Professor, Alexandre Mendes, Ribamar e Cristóvão Luis. A gravação já foi concluída e o CD será lançado no dia 15, terça-feira.

“Jorge, Amado Jorge"
Ave Bahia! Bahia sagrada!
1912. A lua prateada banha o céu de axé...
Eis a coroa de Oxalá, o Senhor da Bahia!
Venha nos proteger, meu Senhor do Bonfim!
Vem do mar a esperança... Litoral de magia... Iemanjá! Oferendas à rainha do mar!
“Ela é sereia, é a mãe-d’água, a dona do mar, Iemanjá”
Velas bailam ao som do vento baiano. Veleiros, canoinhas e jangadas, deixem-se levar.
“...cerca o peixe, bate o remo, puxa corda, colhe a rede
Canoeiro puxa rede do mar...”
Jorge, Amado Jorge... Eis aqui sua história, vida e memória!
Vai, criança baiana; descubra os segredos dessa terra.
Jorge conheceu fazendas, ruas, vielas,
Becos e guetos, tipos e jeitos.
- Quem quer flores? Frutas? – grita o vendedor.
- Olha o acarajé! – oferece a velha baiana.
Águas de Oxalá! Venha ver a Lavagem do Bonfim!
As letras lhe chegam num sopro. Um vento de liberdade em defesa do povo.
Ah... O Rio de Janeiro... Nova casa do rapaz escritor.
Graduado na vida e na universidade.
Na política, com o “coração vermelho”, se engajou.
É a vida na capital. Amigos, papos e mulheres...
Ah... As mulheres... Vida perfumada e sensual...
Bares e cabarés... Eis a malandragem, o primeiro livro: o “país do carnaval”.
Primeiros romances. Romances da guerreira e apimentada Bahia, sua eterna paixão.
O ciclo do cacau, grande inspiração.
Viver nas areias da história e sonhar em ser capitão.
Um ideal. O valor do homem. O reconhecimento da valente alma do povo.
Vivência e personagens se confundem. Verdadeiros baianos traduzidos nos folhetins.
Onde está a liberdade?
Essa é a “Bahia de todos os santos”, de toda gente! Gente brasileira.
Doce amor, doce flor. Amiga, companheira, parceira de letras e caminhadas
Que o segue fielmente pelo “sem fim” do mundo.
Retornar a sua origem... Os passos rumo à alvorada da literatura.
Rumo à consagração: premiado e Amado. De farda e fardão.
Busca no tempero de Gabriela os sabores da vida. O aroma da crônica do interior.
A brisa que balança as madeixas da morena embala palavras ao encontro de Dona Flor.
Tieta do “chão dos prazeres”, do agreste. Tereza Batista, “fonte de mel”.
Mulheres e “milagres” do Nordeste.
Jogue a rede, pescador! Traga do mar de memórias as palavras inspiradoras.
Hoje o capitão é Jorge Amado. Capitão de sua navegação. “Navegação de Cabotagem”.
Misticismo e miscigenação, a alma desse chão.
Que Exu nos permita caminhar! “Se for de paz, pode entrar”.
Okê Arô Oxossi! Salve todos os Orixás! Joga búzios, canta a reza!
Kaô kabesilê! Kaô meu pai Xangô! Jorge é obá no Ilê Axé Opô Afonjá!
Ora iê iê Oxum! Mãe de Mãe Menininha do Gantois, amiga na fé, axé!
É festa na ladeira do Pelô! É festa na Bahia! Fervilha a mestiça terra de Jorge!
A Magia dos Filhos de Ghandi... É energia do sangue nordestino...
Tocam atabaques e alabês. O Pelourinho estremece! Vem descendo o Ilê Aiyê!
É o tambor! É a força do ritmo! É o som do Olodum!
Venham, amigos queridos! Amada família do escritor, venha conosco cantar!
100 anos do nascimento de Jorge Amado... Comemora a Imperatriz Leopoldinense!
De alma e coração, vamos todos brindar ao mestre das letras!
Sentadas sob a sombra da copa de uma grande árvore, suas palavras vão para sempre descansar...
Jorge, Amado Jorge...
Muito obrigado!
Hoje, a ti canto e me declaro:
sou mais um gresilense apaixonado!

Fonte: Nova Imprensa

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