terça-feira, 4 de maio de 2010

Pousada lucra mesmo com apenas quatro quartos

A Enseada das Conchas, na Ilha do Mel, tem capacidade máxima para 12 pessoas; parcerias com operadoras internacionais garantem casa cheia e lucro o ano inteiro

Ricardo F. Santos*

O mais intrigante na pousada Enseada das Conchas, na Ilha do Mel, litoral do Paraná, é seu tamanho reduzido. Como tornar viável um estabelecimento tão pequeno? Foi isso que se indagou Carlos Gnata, o Capa, 45, quando foi abrir sua pousada. Desde 1987, ele trabalhava em um restaurante na ilha, e percebeu o crescimento do turismo no local, com grande procura no verão e feriados. Por isso, quando sua mãe herdou um terreno na ilha, em 1992, Capa sugeriu transformá-lo numa pousada.

Por três anos ele continuou morando em Morretes, sua cidade de origem, com a esposa, Sueli Mantovani, e ia com ela para a pousada na Ilha do Mel apenas na alta temporada. Depois de 36 meses de vai-e-vem, tomaram a decisão de se mudar definitivamente. “Até essa época, a pousada era uma opção a mais de renda, um trabalho amador. Resolvemos arriscar e ver se em dois ou três anos haveria retorno”, conta Capa.

O turista que frequentava a Ilha do Mel na época era do tipo “surfista”: jovem, baladeiro, curtia a natureza e não ligava muito para conforto. Mas, em 1999, o casal percebeu uma mudança no perfil dos hóspedes. “Com o tempo, o número de casais crescia rápido. Tínhamos que mudar o perfil do empreendimento”, afirma Capa. Em um primeiro momento, eles tentaram deixar os quartos mais confortáveis e aconchegantes, modificando o mobiliário e a decoração. Mas não era suficiente; o banheiro, por exemplo, ainda era compartilhado, resquício da infraestrutura antiga.

“Resolvemos investir. De 1999 para 2000, colocamos tudo no chão e refizemos toda a pousada”, diz Capa. Projetista por profissão, ele refez todo o desenho da construção, com quartos maiores e equipados com banheiros privativos, armários embutidos, frigobar e televisão. A mudança radical trouxe retorno rapidamente, e tornou o empreendimento do casal referência na ilha. “Mudamos a pousada em função do público que estávamos focando. Projetei quartos usando o feng shui, para atrair pessoas que buscam tranquilidade, paz e harmonia”, afirma ele.

Ao longo desses anos, eles foram se capacitando com relação à gestão, ao empreendimento, buscando informações e melhorando serviços. Mas a Ilha do Mel tem uma legislação muito restritiva com relação a tamanhos de imóveis, e era impossível aumentar a capacidade de acolhimento da pousada. O jeito era se virar com apenas quatro apartamentos. E como manter a rentabilidade do negócio com essas poucas vagas?

“Em nossa análise, sabíamos que nossa chance era aproveitar integralmente a capacidade da pousada. Precisávamos ficar com a “casa cheia” todos os finais de semana do ano, não somente na alta temporada”, conta Capa. Eles começaram a fazer parcerias com agências de turismo e operadoras. Perceberam que o turismo internacional não era bem explorado na ilha, e resolveram focar nisso, criando um site em inglês e espanhol. Isso atraiu agências que operam com turismo internacional, e elas garantem um fluxo de gente na baixa temporada, viabilizando o negócio.

Outra estratégia foi melhorar a qualidade do serviço prestado. Com ajuda do programa Bem Receber, do Sebrae, feito em 2007, o casal tem sempre em mente a viabilidade econômica, o retorno social e a responsabilidade ambiental do empreendimento. A próxima meta é a certificação internacional, ISO 14000. “Além de tudo, complementamos a renda com o barzinho na frente da pousada, que atende também pessoas de fora e traz um retorno importante na alta temporada”, acrescenta Capa.

Desde 2003, eles começaram a fazer um trabalho mais intenso de exposição no exterior. Foram a feiras na Argentina, Uruguai, rodadas de negócios, distribuíram fôlderes e intensificaram o trabalho com agências. Ao mesmo tempo, a Ilha do Mel começou a ter mais divulgação como destino turístico. O resultado é que, em 2008, 34% dos hóspedes da Enseada das Conchas eram estrangeiros. Em 2009, o número cresceu para 45%. Desde 2003, o faturamento tem crescido de 6% a 10% ao ano.

Por outro lado, a atuação do casal na recepção dos turistas lhes garantiu boas resenhas em revistas estrangeiras. “Saímos na edição 2008 do guia internacional de viagens Lonely Planet com comentários ótimos sobre o atendimento personalizado, a atenção com o turista estrangeiro e o conforto”, conta Capa. E a satisfação dos turistas que se hospedaram na pousada passa uma imagem positiva do empreendimento no exterior, e fideliza alguns clientes. “Muitos têm preferência por um quarto específico. Há uma família argentina que vem todo ano desde 1997. Na primeira vez, as filhas tinham seis anos de idade, e hoje já estão com 19. É ótimo ver esse crescimento”.

* O repórter viajou a convite da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) e do Ministério do Turismo

Fonte: Pequenas Empresas Grandes Negócios

Um comentário:

  1. Que inteligente maneira de lucrar com só quatro quartos!
    Viajei o ano passado e achei uma excelente e confortável hospedagem Buenos Aires para passar minhas férias.

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