quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Distância entre casa e empresa é desafio para trabalhadores em SP

Na Grande SP, falta emprego nas 'cidades dormitórios'. Em Carapicuíba, apenas 10% dos trabalhadores têm carteira assinada.

Na região metropolitana de São Paulo, mais de 1 milhão de moradores trabalham por conta própria, fazendo bicos. O governo do estado também é responsável por definir uma política de emprego que, por exemplo, melhore a vida de milhões de pessoas que passam horas no transporte público a caminho do trabalho.

A Universidade de São Paulo (USP), a maior universidade pública do país, ganhou, em 2004, um campus na Zona Leste da capital. Mas quem se forma nessa unidade tem dificuldades para encontrar emprego.

O campus em Ermelino Matarazzo oferece dez cursos de graduação e um de pós-graduação. São cursos tão inovadores que nem o mercado reconhece ainda. Por exemplo, o de obstetrícia. A profissão já é conhecida -- o médico ginecologista e obstetra faz parto. Só que o aluno que concluiu os quatro anos do curso de obstetrícia na USP não é médico nem enfermeiro.

Grande São Paulo tem 1,5 milhão de trabalhadores autônomos "A obstetriz tem capacidade para acompanhar a gestante de baixo risco durante o pré-natal. Ela também faz o parto normal sozinha ou acompanhada por outras profissionais, como o médico obstetra ou uma enfermeira obstetra. E ela acompanha também a mulher no pós-parto. Não temos capacidade para atuar na cesariana e no centro obstétrico", diz a obstetriz Claudia de Azevedo Aguiar.

A obstetriz Mariana Viginotti afirma que tem dificuldades de encontrar emprego. "Mandei currículo para muitos hospitais particulares, várias maternidades, e até alguns hospitais públicos, mas não tive nenhum retorno", comenta.

Escolas técnicas

O estado tem 186 escolas técnicas e 49 faculdades de tecnologia, que oferecem, gratuitamente, cursos profissionalizantes. Mais de 220 mil alunos estudam nesses locais.

Um dos postos de apoio ao trabalhador do governo estadual, no Centro da cidade, recebe 800 pessoas todos os dias. As vagas mais difíceis de serem preenchidas são as que exigem qualificação profissional e também ensino superior. São vagas do segmento executivo e técnico.

Leonardo França de Andrade está quase terminando a faculdade de gestão em marketing. Além disso, tem dois cursos técnicos: administração e manutenção de computador. Há oito meses, tenta conseguir emprego em alguma dessas áreas. "Me chamaram até para emprego de manobrista, não tem nada a ver", conta. "Falta de interesse meu não é. Estou procurando bastante e não estou conseguindo localizar nada na minha área."

Fabiano Oliveira Araújo já trabalhou como fiscal de prevenção, fiscal de loja e em escolta armada. Para o patrão, o defeito dele é morar longe do Centro, na Penha, Zona Leste da capital. Para ir trabalhar, ele usa duas conduções. Ele afirma que, perto de casa, não consegue colocação profissional. "Estou indignado com essa situação. Preciso pagar meu aluguel, a coisa não está fácil para ninguém."

Cidades dormitórios

Das 39 cidades da região metropolitana, 16 são consideradas cidades dormitórios: sem emprego, os moradores só chegam em casa para dormir, porque arranjam trabalho na capital, por exemplo.

"É difícil sair de casa cedo. A gente passa a maior parte do nosso dia, da nossa vida, dentro de ônibus, de trem, de metrô. Seria muito melhor ter vaga de emprego para trabalhar perto de casa", fala a vendedora Natália dos Santos Lima.

Em 2002, o número de desempregados na região metropolitana, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), chegou a 13% da população economicamente ativa. Neste ano, o índice caiu bastante: chegou a 8% da população economicamente ativa.

Sem carteira

Hoje, mais de 1,5 milhão de moradores da Grande São Paulo trabalham sem carteira assinada.

Em Carapicuíba, apenas 10% dos trabalhadores têm emprego fixo, com carteira assinada. E a cidade tem mais de 390 mil habitantes. O salário médio é um dos menores da Grande São Paulo: cerca de R$ 900.

A técnica em contabilidade Maria Madalena dos Santos trabalha como doceira. Ela trabalhou por 20 anos como assistente financeira, até ser mandada embora. Agora, vai de loja em loja vendendo seus quitutes e chega a faturar R$ 1.200 por mês. É um exemplo de alguém que não desiste nunca. "Quando roubaram meu carro, chorei, fiquei três meses assim. E foi muito gratificante porque consegui meu carro muito melhor. Pago com o meu trabalho", conta. Agora, ela quer realizar o sonho de abrir uma loja.

Fonte: G1

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