quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Américo Garbuio Junior: Diretor de DHO da Schincariol

Maiara Tortorette

Diretor de Desenvolvimento Humano e Organizacional (DHO) da maior indústria brasileira de bebidas, Américo Garbuio Junior conta como passou da faculdade de Ciências Contábeis para Recursos Humanos e quais foram as principais mudanças que realizou na Schincariol desde a sua chegada até os dias de hoje.

Em entrevista ao Carreira & Sucesso, Américo fala sobre os desafios de gerenciar uma empresa com mais de 10.000 colaboradores, a importância de investir no desenvolvimento dos profissionais e os planos para os próximos anos.

Conte-nos sobre sua formação.

Minha primeira graduação foi em Ciências Contábeis, quando tinha aproximadamente 19 anos. Nesta época, eu tinha uma grande vontade de mexer com números, já que sempre havia sido um bom aluno de matemática e imaginava que minha carreira seria voltada para esta área. No entanto, a partir do momento que eu comecei a trabalhar nas empresas ainda dentro do curso, percebi que não era efetivamente o que eu iria seguir.

Em seguida, tive a oportunidade de ingressar na área de pessoal e decidi que o que eu realmente queria era trabalhar com pessoas. A partir daí, fiz duas pós-graduações e um MBA, dois destes cursos voltados a gestão de negócios para que eu pudesse ter uma visão mais geral de como funciona uma organização, e o terceiro, na UFSCAR, que foi específico para a área de RH.

Conte-nos sobre sua trajetória profissional.

Iniciei minha trajetória em uma organização chamada Conservas Alimentícias Hero S.A., em São Carlos. Lá foi onde adquiri toda minha experiência inicial em RH. Ali eu consegui uma base durante oito anos e como era uma empresa de médio porte, dava boas oportunidades e por isso consegui compartilhar as duas coisas, o meu desenvolvimento como executivo daquela empresa e também o estudo para poder me capacitar. A organização faliu em 1996, mas quando eu saí, já estava com nível gerencial, sendo o primeiro homem de recursos humanos.

Após acompanhar todo o processo de falência da Conservas, experiência que foi extremamente rica para mim, trabalhei durante um tempo em uma cooperativa, assessorando as questões de RH, e em poucos meses entrei na Schincariol, onde trabalho há 12 anos.

Como foi sua chegada a Schincariol?

Quando cheguei na Schin em maio de 1998, já entrei como gerente e a empresa estava passando por um momento de reestruturação da área de Recursos Humanos. A empresa ainda não tinha uma área totalmente estruturada, um setor de desenvolvimento de pessoas, programa de remuneração bem planejado. Então, foi um momento de construir junto.

Naquela época a Schin tinha duas unidades (Itu e Alagoinhas), 2.000 colaboradores e na área de RH havia apenas dez pessoas. Hoje, só na área de RH, nós temos quase 250 pessoas, são 14 unidades e cerca de 10.000 colaboradores. A organização expandiu muito e eu tive a oportunidade de participar de toda essa etapa de crescimento.

O que mudou no RH da empresa desde sua chegada?

A primeira mudança foi trazer organização para a área de RH adequando-a ao mercado e à necessidade que o grupo tinha naquele momento. A empresa estava com planos de expandir e crias novas fábricas, então a gente tinha que efetivamente investir no desenvolvimento de pessoas e esta foi uma grande etapa.

Outro momento importante foi no final de 2001, quando a empresa tomou a decisão de construir o seu centro de distribuição próprio, sendo que até então tinha toda a distribuição feita aos pontos de venda terceirizada. Isso fez com que tivéssemos que contratar 3500 pessoas em menos de um ano. Foi uma experiência muito rica porque a Schin saiu de uma ação basicamente fabril e passou a ter uma ação no mercado, onde prevalece o serviço, contato com cliente direto, contato com o fornecedor. E foi nesse mesmo momento que a gente conseguiu evoluir mais na questão de treinamento, capacitação e desenvolvimento de liderança.

Em 2003, houve o falecimento do então presidente, dias antes do lançamento da nova Schin, campanha “Experimenta!”. Esta campanha trouxe um outro patamar para a organização que cresceu muito. A participação de mercado aumentou expressivamente, e isso fez com que nós do RH tivéssemos que acelerar significativamente o processo de mudança, de capacitação de pessoas, de seleção.

Já em 2007, pela primeira vez o grupo apresentou um presidente que não era da família, era um executivo do mercado. Esse momento foi marcante, pois a Schin passou a adotar outras práticas e contratar diversos novos executivos de mercado, o que trouxe uma nova demanda e um novo aspecto cultural à organização.

E a última mudança que posso citar foi quando eu assumi a diretoria, em abril de 2009. Com isso, desenvolvemos ainda mais projetos e programas para colocar o grupo como uma empresa reconhecida, que tem desenvolvido práticas no RH compatíveis com boas práticas do mercado.

A Schincariol é atualmente a maior indústria brasileira de bebidas. Qual o desafio do RH nesta questão?

Nós temos várias frentes e hoje existe um grupo de 10 mil colaboradores que estão em fábricas, distribuição própria e também na base corporativa. O maior desafio que a gente enfrenta atualmente é poder conciliar programas e capacitação que possam atender esses três negócios, pois são públicos com expectativas e características diferentes.

A gente segmenta uma vertente de capacitação, trabalha com a linha operacional, não só de fábricas, mas também de força de vendas, e desenvolve estas pessoas para que possam fazer muito bem seu trabalho do ponto de vista de competência funcional. Já na linha de liderança a gente tem focado no alinhamento dos valores da organização e também nas competências essenciais ao grupo. Então são duas vertentes distintas, mas que possuem uma plataforma comum.

Como diretor de DHO da organização, quais programas implantados na empresa podemos destacar?

Existem alguns resultados que são mensuráveis, outros compõe toda uma questão de clima organizacional, que não é tão visível, mas que também é fundamental.

Atualmente, a gente trabalha no desenvolvimento da liderança, então todos os líderes que têm pelo menos um liderado passam por um programa permanente de desenvolvimento. Também realizamos um programa atrelado à questão da liderança, que é a medição e avaliação de potencial e desempenho. Olhando na linha de educação, nós temos uma área específica que é a “Academia Schin”. Eu a retrato como a área de gestão do conhecimento, já que é responsável por nossa futura universidade corporativa. Esta área direciona todas as políticas e todo o desenvolvimento de treinamentos e capacitação.

Toda essa composição faz com a gente tenha um alinhamento da estratégia e da cultura da organização. Para nós, é importante ter a entrega, o resultado, mas também é fundamental cuidar do como, ou seja, como isso é entregue.

A Schincariol ganhou diversos prêmios no ano de 2009, entre eles “Melhor empresa do Brasil no segmento Bebidas e Fumo”, da revista ISTO É Dinheiro. A que se deve tais conquistas? Qual o principal diferencial que a empresa apresenta?

A Schincariol é uma empresa nacional que tem um grande desafio em um mercado extremamente competitivo. Então, o fato de poder chegar hoje a ter uma posição de destaque neste mercado é reflexo de competência, de uma administração eficaz, resultados obtidos quanto à participação de mercado e também à preocupação que a empresa tem com meio ambiente, responsabilidade social, além da sua atuação com relação à gestão de pessoas.

Acredito que não seja apenas um ponto que possa se destacado. Na verdade, estas conquistas se devem a todo esse conjunto. Sem contar que temos uma enorme preocupação com o clima da empresa, que é incrível, e os valores no sentido de família e de uma empresa saudável que oferece constante oportunidade de crescimento.

É notável a preocupação da empresa com as questões socioambientais.Como o RH atua neste sentido? Quais os projetos desenvolvidos?

A gente atua em algumas comunidades apoiando programas de coleta seletiva e também participamos de um projeto de destaque em parceria com o SOS Mata Atlântica. Nós temos aqui um centro de experimentos onde preservamos uma arte da mata e também disponibilizamos mudas de plantas que são originárias da Mata Atlântica como base de reflorestamento.

Além disso, iniciamos um trabalho de educação ambiental este ano em que planejamos atender aproximadamente 5 mil crianças pra que elas possam conhecer um pouco da história da mata e olhar, na prática, como é esse ambiente com que muitos não têm contato para entender a importância de cuidar do meio ambiente.

Qual o principal desafio do RH nos dias de hoje?

O grande desafio das organizações dentro do mercado hoje e no futuro, olhando o Brasil nos próximos anos, que tem uma expectativa de crescimento muito grande, é a preocupação quanto à qualificação das pessoas. Devido aos ventos que acontecerão e ao constante crescimento da economia, com certeza um grande desafio é e será a dificuldade de contratar profissionais que sejam realmente qualificados e preparados.

Existe algum sonho que ainda não realizou?

Estou sempre em busca de superação e de conquistas diferentes. Acho que algumas etapas que eu tinha que superar em minha carreira eu já consegui. No entanto, tenho 42 anos e imagino viver pelo menos mais uns 60, então espero ter muita carreira pela frente.

O que me faz sempre buscar e querer me desenvolver é o amor pela minha profissão. Ainda me vejo por muitos anos sendo diretor de RH, dando continuidade à carreira de executivo. No entanto, daqui a 10 ou 15 anos, também desejo me dedicar um pouco para a sociedade.

Tenho uma vontade muito grande de dar aula, apenas de receber alguns convites e já ter ministrado em pós-graduação, hoje em dia é um pouco difícil por conta da correria do dia-a-dia. Realizar trabalho voluntário também é um sonho, pois com certeza seria algo que me completaria como profissional, cidadão e pessoa.

Recado para os profissionais de RH.

Temos muito conteúdo e diversas ferramentas que podemos utilizar positivamente dentro das organizações para desenvolver e capacitar pessoas. É extremamente importante estarmos efetivamente focados no negócio, na empresa que representamos. Espero que um dia a área de RH não seja mais olhada como uma área de apoio, legalista, ou uma área que está ali apenas para promover T&D. Meu desejo é que nós próximos anos esta área se consolide como uma verdadeira parceira de negócios.

Atualmente, a tecnologia é comum a todos, basta ter recurso financeiro. Então, o grande diferencial para conseguir sucesso em uma organização é a forma como você trata e lida com as pessoas. Sendo assim, se a gente investir enquanto profissionais de RH nesta missão e visão, com certeza iremos contribuir muito mais para as empresas e para os colaboradores do que já contribuímos nos dias de hoje.

Fonte: Jornal Carreira & Sucesso

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente livremente, mas sem abusar do critério da livre escolha de palavras. Assuntos pessoais poderão ser excluídos. Mantenha-se analítico e detenha-se ao aspecto profissional do assunto em pauta.