segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Vaga é Sua: jornalistas de Treinamento da Folha dão dicas para impulsionar carreira

Izabela Vasconcelos

Qual é o perfil do jornalista ideal? O nome da minha faculdade é importante? Vale a pena fazer especialização? Essas são as principais perguntas que o programa de Treinamento da Folha de S. Paulo recebe de universitários e recém-formados. Apesar disso, muitos deles pecam logo no começo, com o currículo, o que motivou as jornalistas Ana Estela Souza Pinto, editora de "Treinamento" da Folha, e Cristina Moreno de Castro, colaboradora do blog "Novo em Folha" e do "Treinamento da Folha", a escreverem o livro “A Vaga É Sua”, lançado em agosto deste ano pela Publifolha.

Currículo é seu cartão de visita

“O dia em que eu tive a ideia de fazer o livro foi quando um menino me mandou um currículo para uma vaga de repórter do jornal. Lá no alto do currículo dele estava ‘objetivo: ser assessor de imprensa’. Quando eu vi aquele currículo eu pensei que seria legal fazer um livro com dicas sobre todas as dúvidas que a gente recebe no blog, porque as pessoas cometem erros muito básicos (...) Então foram as duas coisas, foram as dúvidas dos leitores do blog, mas o gatilho mesmo, o estopim da história foi esse currículo que era muito errado”, relembra Ana Estela.

Para a jornalista, é impressionante como os jornalistas deixam de se preocupar com as informações do currículo. “É incrível, isso é uma coisa tão simples de fazer, essa questão da ordem das informações do currículo, e faz toda a diferença. O editor está com uma seleção, ele está olhando dezenas, centenas de currículos e se ele está querendo um repórter, e ele só vê assessoria, assessoria, ele não chega no final do currículo. Por isso que a ordem é super importante”, afirma.

Cristina contou a experiência de uma amiga, que havia trabalhado em assessoria e queria atuar em Redação. Ela perdeu uma vaga na Folha, mas com algumas dicas, melhorou seu currículo e conseguiu emprego em uma revista. O problema era o mesmo, a jornalista não destacava seus pontos fortes para a vaga de repórter.

“Fui ver o currículo dela e estava só listando a experiência dela em assessoria. Mas ela tinha feito uma formação complementar em Direito, que é um diferencial útil para o jornalismo. Ela também trabalhou numa revista segmentada por um tempo, fez frilas ocasionais, então a gente jogou tudo isso pra cima no currículo dela, deu destaque e colocou como outras experiências a assessoria. Eu falava pra ela destacar isso nas entrevistas. E ela conseguiu ir para uma revista. É uma questão de saber destacar seus pontos fortes relacionados à vaga”, explica.

Blog é um diferencial?

Manter um blog pode ser uma forma de exercitar técnicas de redação e se destacar em alguma área específica. Mas quanto isso pesa em uma entrevista?

“Vai depender bastante da vaga e do blog. Quando eu selecionei a Cris pra vaga de treinamento, o fato que ela tinha um blog pra falar principalmente de política foi uma coisa que eu levei em conta, porque ela é uma menina nova, mas é interessada no assunto, que é um assunto mais complicado, que é política. E ela não só é interessada, mas ela tinha tido a iniciativa de criar um espaço pra escrever, pra discutir. Então isso pra mim mostrava algumas características interessantes em alguém que quer ser jornalista, que é o interesse e não só o interesse passivo, mas o interesse ativo que leva você a produzir alguma coisa”, avalia Ana Estela.

Para Cristina, o blog era uma forma de exercitar o Jornalismo. “É bom como experiência para a pessoa também. Eu trabalhava num banco e não tinha muito tempo pra fazer estágio, até cheguei a fazer durante oito meses as duas coisas ao mesmo tempo, mas não deu pra ficar o período da faculdade inteira fazendo. Então durante a faculdade, desde o primeiro período até logo depois que eu entrei na Folha, eu mantive o blog. Era uma forma de praticar, de escrever e estar sempre me informando”.

Língua estrangeira

Apesar de o inglês ser uma língua primordial para os jornalistas, uma pesquisa do Comunique-se, feita em 2007, mostrou que 88% dos jornalistas dominavam apenas o português. Os outros 12% estavam divididos em 5% que falam inglês, 2% espanhol, 1% francês e 1% outros idiomas. Apenas 3% dos jornalistas que responderam o questionário falavam mais de duas línguas estrangeiras. Uma nova edição da pesquisa deve ser feita nos próximos meses.

“Se você está selecionando alguém pra trabalhar na editoria de internacional, obviamente que é imprescindível você dominar o inglês e de preferência outro idioma. Mas se é pra uma vaga de repórter de polícia, provavelmente se você tiver um inglês intermediário, básico, o editor vai pedir que estude mais, porque hoje é impossível trabalhar sem o inglês, mas não vai ser um fator impeditivo. São muitos quesitos que você avalia de uma forma subjetiva, não é objetivamente. Por exemplo, se a pessoa não domina o inglês, mas ela é muito boa em outras coisas, essas coisas qualificações pesam também”, explica Ana Estela.

Cristina lembra que no processo de Seleção da Folha também participam candidatos que ainda não possuem o inglês fluente. “Pra vaga de trainee tinha pelo menos 10 que não dominavam o inglês, mas tinham outras qualidades muito boas”, ressalta.

Mudança de área

A mudança de assessoria para Redação é a mais difícil, mas é possível desde que o jornalista saiba destacar seus pontos fortes. “Quanto mais tempo a pessoa estiver trabalhado em assessoria e for deixando de ter experiência em redação, mas difícil é. Não é impossível".

Ana Estela lembra que o assessor deve saber que o estilo de texto na Redação muda muito, já que é mais crítico. "Ontem mesmo eu estava conversando com um repórter que estava cobrindo férias na editoria Cotidiano, que trabalhava numa assessoria de imprensa de uma Secretaria de Governo do Estado de SP. Na entrevista a gente questionou sobre isso, dizendo que ele teria que fazer reportagens críticas, inclusive a respeito da área que trabalhava. Porque essa é a principal preocupação, se a pessoa é capaz de fazer um jornalismo crítico, independente”, diz.

No caso contrário, de um profissional de Redação ir para assessoria, a jornalista acredita que o caminho é mais fácil. “As assessorias valorizam essa experiência”, conclui.

Fonte: Comunique-se

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