terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O laboratório da roupa íntima

Empresas do ramo investem em inovação e inspiram outros segmentos da moda

Por Rafael Farias Teixeira

Ela está por trás – e por baixo – de grandes inovações no mundo da moda. Apesar de utilizar pouca quantidade de tecido em suas criações, a moda íntima é atualmente um dos setores que mais estimulam a inventividade no desenvolvimento de novos tecidos ou tecnologias. “Por ter um contato maior com o corpo humano, a moda íntima necessita de um grande investimento em inovação. Há um cuidado maior com essas peças”, afirma Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). “Essas mudanças acabam migrando para outros segmentos da moda e se tornando mais difundidas.”

São mais de 6 mil empresas no setor de moda íntima, que produz mais de 865 milhões de peças por ano, com um faturamento de R$ 5,45 bilhões em 2010, segundo a Abit. Parte dessas empresas expôs as suas inovações na Fenim, a Feira Nacional da Indústria da Moda, que teve sua edição inverno no fim de janeiro, em Gramado (RS). Os estandes de moda íntima, montados em uma ala específica, contabilizaram 65 dos cerca de 600 expositores da feira.

A reportagem do site da Pequenas Empresas & Grandes Negócios ouviu empresas desse setor durante a Fenim para saber como e quanto elas investem em pesquisa – e quais devem ser as novidades que irão fazer sucesso no mercado e inspirar outros segmentos da moda.

Do lado feminino

A primeira parada é o estande da Hope. A marca possui 54 lojas e espera chegar a 110 unidades até o final de 2011. A produção é de em média 1,1 milhão de peças por mês.

A empresa tem como meta lançar pelo menos duas novidades ao ano, em tecnologia ou tecido. Para isso, investe 10% do seu faturamento em um departamento específico de desenvolvimento, com 12 pessoas. “Há dois grandes segmentos que pensam em inovações em tecnologia e modelagem acima de qualquer coisa: o de esportes e o de roupa íntima”, afirma Carlos Eduardo Padula, diretor comercial da Hope. “Eles trabalham muito próximos dos seus fornecedores, das tecelagens, para entregar sempre algo a mais do que apenas o visual.”

Para Padula, a nanotecnologia é um dos grandes potenciais nesse mercado. Atualmente, as marcas vêm investindo em partículas com os mais diversos aromas, que podem ser utilizados nas peças íntimas. Outra aposta são substâncias como hidratantes, fórmulas anticelulite e antitranspirantes, que já encontraram seu caminho para outros segmentos da moda.

Calcinhas da linha nude com temática de fim de anoO empresário acrescenta que essas trocas estão se tornando cada vez mais multilaterais, já que o próprio segmento de moda íntima utiliza tecidos e técnicas de outros mercados. “A lingerie buscou a viscolycra em outras roupas para as suas criações”, explica.

Uma das mais recentes criações da marca é chamada de nude, uma linha de peças sem costura e produzida a laser, com a promessa de aderir à pele e não sair do lugar. A empresa também começou a investir em peças que possam ser usadas à mostra. “As mulheres têm começado a usar a lingerie como roupa comum”, afirma a consultora e produtora de moda Madeleine Muller.
 
Transformar peças normalmente escondidas em roupas do dia a dia também é uma proposta da paranaense Recco Lingerie. Com um departamento com 18 pessoas, a empresa buscou tecidos e modelagens que possam transformar as roupas que o público feminino utiliza em casa em algo facilmente adaptável para seu cotidiano. “Nós estamos produzindo, por exemplo, um tecido parecido com o cashmere, mas feito de celulose de madeira”, afirma Antônio Recco, fundador da marca. “O material será usado em pijamas que também podem ser usados fora de casa.”


Para manter-se atualizada, a empresa instituiu três viagens anuais de pesquisas internacionais, além de investir 3% do seu faturamento em inovação. Atualmente, a Recco produz em torno de 135 mil peças por mês, com um total de 600 funcionários.

Do lado masculino

Cuecas com cheiros de chocolate e menta da UpmanJá no lado masculino da moda íntima, as inovações parecem não ser tão extensas – além dos super-heróis, ninguém usa cuecas à mostra –, mas as empresas mostram que estão dispostas a investir em novidades. A marca de underwear Upman lançou na feira sua linha de cuecas com aromas especiais de chocolate e menta. Também mostrou uma peça feita de fibra de proteína de leite.

Essa criação, que levou dois anos para ser desenvolvida, tem um tecido mais leve, que se adapta ao corpo. “Investimento em conforto, fibras alternativas e sistemas para evitar transpiração sempre são pontos cruciais da nossa marca”, afirma Sidimar Remussi, um dos sócios da Upman, que investe em torno de 5% de seu faturamento em inovação. Para Luciana Frezza, diretora de criação da empresa, o mercado de moda íntima é um ambiente para novidades por não estar tão saturado quanto os outros.

A marca de cuecas Mash, por sua vez, concentra seus investimentos em novas estampas e estilos para o público masculino. “Nesse mercado, sempre há os três modelos básicos: slip, sungão e boxer. Não há como sair muito do padrão”, afirma Jaime Hara, um dos sócios da empresa. “O que varia muito é a utilização de elástico, que pode ser externo ou interno, e o trabalho feito no tecido.”

Hara instituiu viagens periódicas para se atualizar em tendências estrangeiras – mas adapta as linhas ao gosto brasileiro. A Mash produz em torno de 1 milhão de unidades por mês e teve um crescimento de 60% em faturamento entre 2009 e 2010.
 
Fonte: PEGN

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