terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quer perpetuar seu negócio? Pense em sair dele

Simular a saída do empreendedor pode ser um caminho para melhorar a gestão e entender o real valor da empresa

Por Carlos Miranda*

Pode parecer estranha essa afirmação, mas a melhor forma de organizar, consolidar, crescer e perpetuar o seu negócio é pensar desde já na sua estratégia de saída.

É claro que o dia a dia do negócio e todos os aspectos que impactam o crescimento da empresa são muito importantes. No entanto, simular a saída do empreendedor é um exercício extremamente saudável.

O que estou chamando de estratégia de saída é, de fato, imaginar-se fora do negócio, desde as etapas que antecedem esse movimento até a saída definitiva, isso tudo considerando o crescimento sustentado da organização.

As três etapas que considero fundamentais para pensar e simular esse processo são:

1. Receber um investidor estratégico ou financeiro;

2. Desenvolver governança e gestão para crescer o negócio com um sócio e viabilizar a saída do mesmo;

3. Criar uma estrutura de governança que atenda às necessidades do mercado de capitais.

Alguns empreendedores devem estar lendo essas recomendações e pensando que isso tudo pode demorar anos para acontecer, ou talvez que nunca ocorra com a sua empresa, ou até que são muito pequenos para pensar nisso.

Como já tenho dito em inúmeros artigos e palestras, o empreendedor que quer ter sucesso tem que pensar grande. Pense em qualquer empresário de sucesso e veja o tamanho que seus negócios já tiveram. Muitos já foram muito menores. Alem disso, como já disse, esse é um exercício de comportamento que, tenho certeza, fará a sua empresa se tornar cada vez melhor.

A primeira proposta, de simular receber um sócio, pode agregar alguns resultados. Um deles é relacionado ao valor do negócio. Saber isso é fundamental para entrar em qualquer negociação. Uma avaliação profissional de quanto vale a sua empresa o ajudará a nunca ser pego de surpresa caso uma boa oportunidade apareça. Também criará no empreendedor e em sua equipe o conceito de valor econômico agregado, ou seja, para cada atividade, todos saberão se estão gerando ou destruindo riqueza para a empresa.

Outro resultado ligado à simulação de receber um sócio é melhorar os controles internos e o gerenciamento de risco. Qualquer novo investidor gostaria de ter controles eficazes e eficientes que permitissem a ele acompanhar e analisar o desempenho da empresa. Além disso, gostariam de ter identificado todos os riscos que o negócio representa e as ações mitigadoras desses riscos.

Trabalhar nessas frentes transformará sua vida como empreendedor, pois, a partir desse exercício e de ações que atendam a essas necessidades, o empreendedor poderá gerenciar o seu negócio a distância e dificilmente terá surpresas desagradáveis, pois sabe exatamente cada risco associado ao seu negócio e o que deverá fazer para reduzi-los ao máximo.

Relacionados à segunda etapa, alguns aspectos importantes começam a se desenhar, tais como identificação de profissionais mais experientes para continuar o crescimento da empresa, repensar o papel do empreendedor dentro da organização e sucessão e criação de uma empresa extremamente focada em geração de valor.

O benefício imediato percebido nessa etapa será a profissionalização da organização. O empreendedor poderá concentrar-se em atividades que o levaram até aquele estágio (e tirar algumas férias por ano), identificar pessoas que serão seus sucessores e continuar o exercício de geradores e destruidores de receita.

Em relação à terceira etapa, o empresário deverá se concentrar e usar toda a sua liderança para levar a sua organização ao melhor nível de transparência e governança, de tal forma a estar preparado até para abrir capital. O principal benefício aqui é o empreendedor saber e desde já simular que quanto mais a empresa crescer, menos ele será o dono do negócio. Por outro lado, mais ele e sua família serão alguns dos melhores beneficiados com esse processo.

Isso tudo pode parecer um sonho muito distante. Mas pensar nesses pontos desde já proporcionará ao empreendedor desenhar o seu plano de voo, saber claramente aonde quer chegar, quais serão as principais dificuldades e benefícios e, principalmente, se está disposto a seguir essa jornada.

Ainda que nenhuma dessas simulações ocorra dentro da organização ou que demorem muito para acontecer, o negócio que fizer essas simulações terá foco em criação de valor, transparência, crescimento, governança, gestão. E, principalmente, essa empresa não dependerá sempre do empreendedor e poderá se perpetuar por várias gerações de colaboradores, investidores e empreendedores.

*Carlos Miranda é presidente e fundador do fundo de Private Equity BR Opportunities, mestre em administração de empresas pelo IBMEC RJ e co-autor do livro “Empresas Familiares Brasilieiras”, organizado pelo Prof. Ives Gandra Martins

Fonte: PEGN

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