terça-feira, 12 de abril de 2011

Alimentação sem glúten é opção de negócio

Segmento segue tendência de alta do mercado de alimentos saudáveis, que movimenta cerca de R$ 15 bilhões ao ano

Fernando Cymbaluk

Embalado pelo crescimento do mercado da alimentação saudável, o comércio e a produção de alimentos sem glúten estão se tornando opção de negócio. Um exemplo da atenção que o nicho está adquirindo é a realização da segunda edição do Glúten Free São Paulo, evento direcionado a nutricionistas, profissionais da saúde e público em geral, que conta com a participação de mais de 15 empresas que atuam no setor. Neste ano, na primeira etapa do evento (realizada no dia 02 de abril), houve um crescimento de 250% no número de inscritos em relação à primeira edição. Cerca de 300 participantes circulavam pelos boxes das empresas expositoras, degustando produtos produzidos sem glúten - uma proteína presente em diversos cereais e que não pode ser ingerida pelos portadores da doença celíaca.

Um estudo publicado na revista Science Translation indica que cerca de 1% da população ocidental tem intolerância ao glúten. No Brasil, segundo a Associação de Celíacos do Brasil (Acelbra), há um portador da doença celíaca para cada 600 habitantes. O número de celíacos, porém, pode ser bem maior, já que as pesquisas apontam apenas os já diagnosticados. O empreendedor que se dispuser a atender esse público poderá encontrar um mercado com bons números de crescimento. Segundo a organização do Glúten Free Brasil, o segmento cresceu 35% em 2010.

As iniciativas no mercado de alimentos sem glúten seguem uma tendência de alta apresentada pela área de alimentação saudável em geral. O instituto Nielsen aponta em pesquisa que o setor foi um dos vetores para o crescimento econômico apresentado pelo país nos últimos anos. Uma pesquisa da consultoria Euromonitor indica que a venda de produtos saudáveis, como alimentos e bebidas diet, light, sem glúten, sem lactose, naturais e orgânicos, cresceu 82% de 2004 a 2009, atingindo patamar de R$ 15 bilhões ao ano. Segundo o estudo, a perspectiva de crescimento até 2014 é de 40%.

Indústria nacional

No Brasil, uma das principais empresas produtoras de alimentos sem glúten é a Mundo Verde. Segundo o diretor de expansão da rede, Marcos Leite, há cada vez mais fornecedores de produtos voltados para a alimentação saudável. "Essa área tem muito fôlego, inovação constante, e vive momento de expansão acelerada". O executivo cita como exemplo do aumento do mix de produtos saudáveis nas lojas especializadas novidades como a quinua, um grão com alto valor protéico, e a ração humana, um composto rico em fibra. Com cerca de 170 lojas espalhadas por 22 estados brasileiros – todas elas franquias – a Mundo Verde oferece em suas unidades de 3 a 7 mil itens, e conta com um catálogo de mais de 10 mil produtos cadastrados.

Para Leite, o maior consumo de alimentos saudáveis está ligado à maior informação do consumidor. "Quanto mais informado, mais ele consome." O empresário diz que, muitas vezes, o consumidor sabe que um produto faz bem, mas não tem informação sobre porque seus benefícios ou a maneira de consumi-lo. "Ele sabe dos benefícios da linhaça, mas não sabe como se consome".

Um dos focos do investimento da empresa é em informação do consumidor. Segundo Leite, em 2011 serão investido R$ 5 milhões em marketing e comunicação. A empresa conta com iniciativas como o Alô Nutricionista, um call center no qual o consumidor pode tirar dúvidas sobre nutrição, e a Universidade Mundo Verde, com cursos na internet voltado para funcionários e franqueados da rede. Além disso, cinco nutricionistas trabalham na produção de conteúdo sobre alimentação saudável e bem-estar.

Nascida em Petrópolis em 1987, a Mundo Verde foi adquirida em 2009 pelo Axxon Group. Hoje apresentando números como faturamento de R$ 181 milhões e crescimento de 21% em 2010, a empresa surgiu com o propósito de levar uma alimentação mais saudável para a população. "Quando os fundadores da marca falavam isso, eram considerados loucos. Hoje nós mantemos essa essência", diz Leite. Além de produtos alimentícios, a rede comercializa CD's e livros do universo do bem-estar. Se no passado a dificuldade era convencer as pessoas sobre a importância da alimentação saudável, hoje o desafio parece ser ampliar cada vez mais o setor. "Com base na informação, um mercado que durante muito tempo foi de nicho se transformará num mercado de massa", acredita Leite.

Nova no mercado

Outra empresa com presença garantida no Segundo Glúten Free é a Grani Amici, fábrica de pães e bolos sem glútem localizada em Jundiái (SP). Apesar de recém-criada, com apenas sete meses de vida, seus produtos estão presentes em 100 lojas na cidade de São Paulo, além da presença em outras cidades do estado. Nos próximos meses, os pães e bolos da Grani Amici deverão chegar também ao comércio do Rio de Janeiro. A marca dedica-se exclusivamente à produção de alimentos sem glúten e sem lactose – uma dobradinha geralmente procurada pelos portadores da doença celíaca, que costumam desenvolver também a intolerância à lactose. Em parceria com uma distribuidora, a empresa fornece seus produtos para lojas que vendem produtos naturais e voltados para a alimentação saudável.

Proprietária da Grani Amici, a engenheira de alimentos Graziela Luchini, resolveu abrir um negócio voltado para a alimentação sem glúten depois de verificar uma carência no mercado de produtos desse tipo. Anos atrás, ela foi orientada por uma nutricionista a fazer uma dieta sem glúten. "Comecei a perceber que tudo que havia era muito artesanal", diz Graziela. Após quatro anos de estudo sobre produto e mercado, em outubro de 2010, ela abriu a sua empresa. "Apesar de feita em pequena escala, a produção segue os parâmetros de segurança e qualidade da indústria de alimentos". Segundo a empresária, outro diferencial da Grani Amici é a venda de produtos em temperatura ambiente, em vez de congelado, utilizando uma tecnologia que conserva o alimento na embalagem. Atualmente, a Grani Amici produz por volta de 13 mil pães e 8 mil bolos e possui capacidade para aumentar esse volume.

Fonte: PEGN

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