sábado, 9 de abril de 2011

Nova Friburgo vai demorar a se recuperar - Por Paula Valviesse

Quase três meses após a tragédia que assolou a região serrana, os trabalhos de recuperação em Nova Friburgo ainda são lentos. Apesar do centro da cidade já estar praticamente limpo, ainda há muito que ser feito no município. A equipe da Defesa Civil trabalha fazendo vistorias, demarcações e demolições, mas os recursos são insuficientes, o que leva o coordenador da Defesa Civil do município, Coronel Roberto Robadey, a concluir que o problema demorará a ser resolvido. Serão necessárias 244 obras para estabilizar a situação, em um valor estimado de R$ 790 milhões, praticamente três vezes o orçamento anual da cidade.

Baseada no mapeamento das encostas feito pela Empresa de Obras Públicas do Rio de Janeiro (Emop), que mostra 400 áreas de risco no município, a Defesa Civil tem avaliado a situação dos locais e já constatou 104 lugares onde será necessário remover edificações, além de outras onde é preciso obras de contenção para dar segurança à população. O número surpreende, tendo em vista que antes da tragédia o total de áreas de risco em Nova Friburgo era de apenas 35.

Através de fotos aéreas, foram mapeados 778 imóveis que precisam ser demolidos, mas derrubar essas construções requer que sejam seguidos tramites burocráticos que atrasam o andamento do serviço. Para que isso seja feito a Defesa Civil tem revisado os locais com vistorias de campo para constatar a necessidade da demolição e, conforme acordo feito com o Ministério Público, só pode prosseguir após o prazo estabelecido para que o proprietário seja notificado e retire seus pertences, o que faz com que a ausência de um responsável pelo imóvel quando as visitas são feitas prolongue esse prazo.

A estimativa do coordenador da Defesa Civil é de que esse número aumente, podendo chegar a 1.200 edificações a serem demolidas. Sendo assim, com uma equipe de vinte engenheiros, o órgão deve levar mais um mês, segundo Robadey, para concluir as vistorias, além do tempo gasto com uma segunda avaliação, que geralmente é solicitada pelo dono do imóvel. “Tem muita gente que não se conforma que a casa tem que ser demolida, pedem uma segunda opinião, e a gente tem que convencer porque as vezes a casa está em uma cuia de deslizamento e o dono não vê. Uma encosta pode chegar a três vezes a altura dela em um deslizamento” – ressalta o Coronel.

Com essa demora muitos moradores colocam as vidas em perigo retornando às casas localizadas em áreas de risco, o que é agravado com o não recebimento do aluguel social por algumas famílias que ainda não conseguiram se cadastrar e, também, pela falta de imóveis para locação na cidade. “Tem havido volta das pessoas para casas interditadas e nós estamos cientes disso. Estamos tentando atender dentro de nossas limitações e da burocracia, que é importante, mas atrasa o trabalho” – diz Robadey.

Enquanto isso as demarcações continuam, já tendo sido demolidos cerca de 200 construções. Segundo Robadey, a Defesa Civil segue dois parâmetros: interdita os imóveis onde é necessária obra para estabilizar o terreno e que depois disso as pessoas poderão retornar, e marca para demolição situações em que as obras não compensam ou não resolvem o problema. Como algumas áreas não é possível o uso de máquinas para retirada dos imóveis, o trabalho é feito de forma manual, que além de trabalhoso é mais caro e demorado.

O entulho também atrapalha. Nova Friburgo teve 84% de prejuízos em encostas, sendo que dos três mil deslizamentos apenas em 430 é necessário algum tipo de intervenção. Com isso, de acordo com a avaliação da Defesa Civil, foram gerados cerca de 80 milhões de metros cúbicos de entulho, que ainda não tem destino certo. “Eu não gosto de comparar com terremoto, mas no Chile ano passado foram gerados 20 milhões de metros cúbicos de entulho, que estão sendo removidos até hoje” – ressalta Robadey.

Para o coordenador, a quantidade de áreas atingidas no município é muito grande, são muitos problemas que dependem de um investimento alto, o que faz com que a reconstrução da cidade seja lenta e demorada. “Eu acho fundamental a gente conscientizar a população de que o problema vai demorar a ser resolvido. Quem disser que no verão que vem não vai ter problema estará mentindo, vamos ter problemas, mas precisamos saber quais são e planejar o que vamos fazer. São muitas áreas, muitos problemas, que dependem de muito dinheiro e de uma estrutura que o próprio país não tem para fazer todas essas obras ao mesmo tempo” – afirma.

O orçamento de Nova Friburgo para Defesa Civil é de R$ 358 milhões para o ano todo, o que inclui despesas com pessoal, materiais e maquinários. Conforme o levantamento são necessários aproximadamente R$ 790 milhões para que sejam realizadas as 244 obras indicadas pela Emop e Defesa Civil. Segundo Robadey, esse parecer foi apresentado ao governo do estado e a União na tentativa de se conseguir recursos para o município.

A expectativa é de que sejam feitas ao menos as obras priorizadas no relatório. O pedido de recursos levou em consideração critérios de custo, dando prioridades as obras mais caras, porque são as que o município terá mais dificuldade em executar. Os valores variam entre R$170 mil e 44 milhões. “Com esse levantamento feito nós estamos buscando recursos, agora é um trabalho político e é importante a participação da população para cobrar. Foram dez horas de chuva intensa e que não vão ser refeitas em dez meses” – conclui Robadey.

Fonte: Nova Imprensa

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