segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Trabalhadores de frigoríficos decidem parar produção nacional


Cerca de meio milhão de trabalhadores reivindicam aumento do piso salarial e adoção de Norma Regulamentadora para segurança e saúde dos trabalhadores.

Os trabalhadores das indústrias de alimentação aprovaram, durante realização do 5º Congresso Nacional da categoria, realizado em Luziânia (GO), greve nacional para o setor de frigoríficos a ser realizada ainda este ano. Serão 500 mil trabalhadores de frigoríficos, de todos os estados, paralisando toda a produção nacional, que soma apenas no setor bovino faturamento aproximado de R$ 70 bilhões em 2010, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafi). Caso as negociações não avancem, a expectativa é que toda a categoria da alimentação, que envolve trabalhadores nas indústrias de bebidas, biscoitos, doces e usinas de cana de açúcar, também possam aderir à greve, somando mais de 2 milhões de trabalhadores.

A mobilização nos Estados iniciou hoje (22/09) com manifestação pacífica de 200 entidades sindicais em frente à sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília (DF). Apesar de dirigentes da CNI terem recebidos os trabalhadores e aberto as negociações em relação aos pontos de reinvindicações da categoria, como criação de um parâmetro nacional do piso salarial e melhoria das condições de trabalho, o setor permanece mobilizado e em articulação para a paralisação nacional, ainda sem data definida, mas com ações até o final do ano, época de maior produção de carnes, devido as festividades de final de ano. A expectativa é que a partir do próximo dia 3, trabalhadores e empregadores possam chegar a algum acordo inicial.

O presidente da CNTA, Artur Bueno, afirma que a mobilização dos representantes sindicais foi fundamental para a abertura de diálogo com a CNI. "Esperamos que a CNI possa realmente estar aberta à discussão e viabilizar os principais pontos como a questão da jornada de trabalho, o piso salarial e a segurança no trabalho. Se houver esses avanços para nós será muito importante. Mas nossa categoria está preparada, se não houver os avanços necessários, iremos para uma greve geral", diz.

Para o presidente do Conselho de Relações do Trabalho e Desenvolvimento Social da CNI, Alexandre Furlan, não é possível uma decisão em um primeiro momento. Ele afirma ser preciso uma discussão mais aprofundada entre empregadores e trabalhadores, devidos às especificidades de cada segmento. Mas Furlan alerta que a prioridade da pauta será segurança e saúde do trabalhador.

A greve foi aprovada por unanimidade durante o 5º Congresso Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins, realizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA). Mais de 200 entidades sindicais foram representadas no evento. Nas próximas semanas, serão delimitadas as demais ações da categoria da alimentação como um todo na busca de soluções para as principais problemáticas vividas pelos trabalhadores da categoria em todo o Brasil, como a baixa remuneração no setor, grande índice de acidentes de trabalho e péssimas condições de trabalho.

Greve nacional

A greve atingirá principalmente os estados de maior produção, refletindo no abastecimento de carnes e demais produtos alimentícios em todo o país. “Foi determinada a necessidade de uma ação de grande porte a fim de acabarmos com as péssimas condições de trabalho que o setor da alimentação vem sofrendo, sobretudo nos frigoríficos, um dos setores mais ameaçados pela falta de estrutura, segurança e saúde do trabalhador”, diz Artur Bueno.

Uma comissão formada por representantes de nove estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso, Paraná, Ceará, Goiás e Pernambuco – foi eleita durante o 5º Congresso para iniciar a mobilização nas regiões de maior produção de alimentos para uma possível greve nacional. A categoria ainda iniciou um movimento no poder Legislativo, Judiciário e Executivo para dar encaminhamento às reinvindicações. “Entramos em uma nova fase de ações onde as articulações para que nossas propostas sejam viabilizadas, tanto no Executivo quanto no Legislativo e Judiciário, serão um dos principais focos de ação”, afirma Artur Bueno.

O senador Paulo Paim (PT/RS), que esteve presente na abertura do 5º Congresso, na última terça-feira (20/9), afirmou que a luta dentro do Congresso Nacional deve ser intensificada uma vez que a morosidade e vetos para as propostas dos trabalhadores podem continuar configurando uma grande barreira para mudanças significativas. “Eu não acredito em nada nesse país sem a mobilização. Temos que pressionar para sermos ouvidos. Enquanto apenas os empresários fizerem pressão, eles vão continuar ganhando”, afirmou. “Enquanto as sandálias desses trabalhadores não ecoarem nos corredores do Congresso, nada acontecerá”, disse o senador, em referência às manifestações populares em defesa dos direitos do trabalhador.

O deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT/SP), também esteve presente no evento e elogiou a proposta da categoria. “A alimentação é hoje uma das maiores economias deste país e influencia também a economia mundial, uma vez que o Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos. Se os trabalhadores não forem valorizados imediatamente, toda a sociedade sofrerá com a má gestão de alguns empresários que continuam a visar o lucro”, afirmou.

Principais pontos de reivindicação

Para Artur Bueno, presidente da CNTA, a adoção de um piso salarial justo e a valorização do trabalhador poderão reduzir a alta rotatividade de mão-de-obra e aumentar a qualidade dos produtos a partir de condições mais dignas de trabalho. “Nossas reivindicações são para garantir condições mínimas de trabalho e contemplar toda a classe trabalhadora, além da categoria da alimentação. Queremos unificar a nossa luta e garantir piso salarial justo, redução da jornada de trabalho e saúde para o trabalhador”, afirma.

A quantidade de acidentes de trabalho, provocados pela exposição dos trabalhadores de frigoríficos às baixas temperaturas, ruídos e umidade, além dos movimentos repetitivos que geram graves doenças ocupacionais, também é fator de preocupação para a entidade. “Queremos a manutenção obrigatória de um médico do trabalho dentro das empresas, mas que não tenha vínculo com a indústria. Muitas vezes o médico fica subordinado e acaba remediando, indiscriminadamente, os trabalhadores com analgésicos para camuflar a dor, que agrava um problema de saúde. Tudo em prol do lucro”, diz.

Outra proposta da entidade é a necessidade de pausas de 10 minutos para cada 50 minutos de trabalho, para quem trabalha com sobrecarga muscular e frio excessivo, além de intervalos para refeição. A redução da jornada de trabalho de 7h20 diárias para 6 horas também faz parte da reinvindicação da categoria e está no Projeto de Lei que regulamentará a profissão do setor frigorífico, ainda em tramitação na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), no Senado Federal.

Fonte: Primeira Edição

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente livremente, mas sem abusar do critério da livre escolha de palavras. Assuntos pessoais poderão ser excluídos. Mantenha-se analítico e detenha-se ao aspecto profissional do assunto em pauta.