sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Tendências e oportunidades para 2012


Três personalidades do mundo dos negócios apontam as perspectivas para o próximo ano

Da Redação

O CAPITAL E O EMPREENDEDOR: MAIS AMIGOS DO QUE NUNCA

Sérgio Risola

Diretor executivo do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec)

O ano de 2011 termina com saldo positivo, pois foi um bom momento para os empreendedores. É a hora certa de investir no Brasil, como apontou em novembro a revista americana de economia Barron’s, do grupo Dow Jones. É fato: o universo dos empreendedores é a bola da vez e o Brasil precisa estar preparado para os investimentos que estão vindo por aí.

Isso significa ter as instituições adequadas, com gestores capacitados para receber e orientar startups, o plano de negócio bem feito e o pitch afiado para conquistar o investidor. Os desafios são muitos para 2012, mas é possível elencar alguns aspectos fundamentais para que as startups cresçam e o país melhore sua posição no indicador global de inovação.

As incubadoras devem se enxergar como a ponte entre o empreendedor e o investidor. É nelas que o empreendedor aprende a formatar sua ideia, que a torna viável e vendável, para que, quando pronta, seja atrativa para o investimento.

Para as incubadoras brasileiras, 2012 começa com o desafio da implantação do Modelo Cerne, uma certificação semelhante à norma ISO 9000 adotada nas empresas. Algumas incubadoras serão denominadas pelo Sebrae como âncoras e terão recursos para preparar as demais. Haverá auditorias internas e uma externa, realizada pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). Teremos quatro classes para as incubadoras. O Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), com alguns ajustes em seus processos, estaria preparado para ser uma incubadora Classe 3 do Cerne. O próximo ano, portanto, será focado na melhoria de processos para a implantação do modelo, ou, como já passamos a denominar entre nós, a profissionalização das incubadoras.


A aproximação do capital, que começou muito bem neste ano, tende a se fortalecer em 2012. Com incubadoras mais preparadas e padronizadas, a ponte estará mais firme para ajudar o investimento nas empresas nascentes. Empresas mais preparadas na busca pelo capital facilitam a compreensão do modelo de negócio pelo investidor.

As incubadoras estão subsidiando as empresas com as informações necessárias sobre o mundo do capital. O que o empreendedor precisa para emplacar seu projeto é estudar, entender como funcionam os mecanismos de investimento e, principalmente, abrir sua agenda para eventos ligados a investidores anjos, venture capital, private equity e outros. É preciso prestar atenção, porque o fluxo de capital nunca foi tão intenso para o Brasil. Esses ativos estão em discussão e o Brasil é o país do momento para o investimento em inovação e em startups. Buscando sempre entender o que o investidor procura, nós, gestores de habitats de inovação, tentamos mostrar as providências que já estão ocorrendo nas incubadoras com os nossos empresários e, dessa maneira, tentamos evitar ao máximo os desencontros que frustram ambas as partes.

É fundamental, por fim, olhar o momento do mercado brasileiro frente aos grandes eventos esportivos e perceber as inúmeras oportunidades que estão sendo criadas com os bilhões de reais que já começam a circular na economia. O próximo passo é detectar os nichos de mercado mais promissores para as cidades, como mobilidade urbana, e aproximar nossas empresas das oportunidades certeiras. É importante lembrar que não existem limites. E tudo parte da necessidade de o empresário entender como preparar o terreno para fazer uma ideia virar negócio. No caso do Cietec, a nova aposta se chama São Paulo Ideias Novas (Spin), a incubadora de idéias que se inicia em janeiro de 2012. É uma parceria inédita entre os setores público e privado. Envolve a Prefeitura de São Paulo, o Cietec e as empresas juniores de instituições de ensino como USP, Insper, Mackenzie, PUC, FGV, Faap e ESPM.

A Spin visa a incubar ideias que surgem nas universidade e que, em muitos casos, acabam se perdendo no meio do caminho por falta de apoio ou excesso de burocracia. Ela será instalada em uma área de 350 metros quadrados no Cietec, destinada a cerca de 100 jovens e suas ideias inovadoras. Eles passarão por um processo seletivo e, uma vez dentro do Cietec, terão os mesmos benefícios das empresas incubadas, podendo, no decorrer do ano letivo, se capacitar, fazer networking, aprender a gerir sua ideia, transformá-la em um plano de negócio e, a partir daí, torná-la uma possível empresa qualificada a entrar diretamente na incubadora, após a graduação na universidade. O objetivo é criar um grande celeiro de oportunidades a serem pinçadas diretamente para a incubadora, para que nenhuma boa ideia seja desperdiçada.

O INVESTIMENTO ANJO RUMO ÀS NUVENS NO BRASIL


Cassio Spina

Fundador da Anjos do Brasil

Na decolagem de um avião, o momento mais importante é quando atinge a “velocidade de rolagem”, com sustentação suficiente para levantar vôo: o comandante pode puxar o manche para embicar e descolar do chão. Este é o estágio atual do investimento anjo no Brasil, resultado de um conjunto de fatores e oportunidades que vem acontecendo recentemente.

De um lado, temos novas gerações iniciando sua atividade empreendedora e, desta vez, em sua maioria motivadas pela realização de um projeto. São os empreendedores de “oportunidade”, em vez de movidos pela falta de trabalho, os chamados por “necessidade”, conforme o Global Entrepreneurship Monitor (GEM). Como evidência prática, lembro que, quando me formei, quase todos os meus colegas decidiam se empregar no mercado financeiro. Hoje, tenho conhecido vários novos empreendedores que, mesmo bem colocados profissionalmente neste mesmo segmento, resolveram sair para realizar seus planos de negócios.

Do outro, temos uma geração de empresários e executivos bem sucedidos, que acumularam, além de recursos financeiros suficientes para investir em novos negócios, experiência e conhecimento para aplicar nos mesmos. Isto significa que já está tudo resolvido? Muito pelo contrário. Da mesma forma que o avião – que após a decolagem precisa manter seus motores em potência máxima e rumar para o seu destino com concentração e dedicação integral da equipe, numa fase crítica em que qualquer falha pode significar uma queda –, o investimento anjo necessita de atenção. Precisamos manter o foco tanto na efetivação dos negócios quanto na orientação e no apoio para novos investidores anjos e empreendedores.

Entre os fatos marcantes de 2011, destaca-se a vinda de diversos fundos de investimento internacionais, muitos deles do Vale do Silício, buscando oportunidades para investir em empresas nascentes, as chamadas startups, bem como em fase de crescimento, conhecidas como growth. Este movimento é muito relevante, tanto pelo reconhecimento do potencial dos empreendedores brasileiros como pela possibilidade de terem acesso a capital, experiência e conhecimento para internacionalização de seus negócios. Também é uma oportunidade relevante para os investidores brasileiros, pois os estrangeiros necessitam de parceiros locais.

Por todos os fatos apresentados e com o objetivo de acelerar o crescimento do investimento anjo para apoiar o empreendedorismo de inovação, criamos em julho de 2011 a Anjos do Brasil. O propósito é disseminar conhecimento e experiência entre potenciais investidores anjo e também entre os empreendedores, para que ambos estejam mais preparados para efetivar o desenvolvimento de negócios conjuntamente. Tivemos uma grata surpresa ao receber grande apoio de entidades e parceiros como a Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (ABVCAP), o Comitê de Jovens Empreendedores da Fiesp, a Endeavor, o Centro de Estudos em Private Equity (Gvcepe) da Fundação Getulio Vargas, o Instituto Educacional BM&Fbovespa e muitos outros, bem como grande interesse, demanda e participação de empreendedores e investidores anjo.

Acreditamos que em 2012, apesar da crise nos países desenvolvidos, o empreendedorismo com o investimento anjo deverá crescer significativamente no Brasil. Para tanto, pretendemos efetivar ações como cursos de capacitação para empreendedores e investidores, eventos para troca de experiência e compartilhamento de conhecimento, parcerias com fundos de investimento e a criação de núcleos regionais da Anjos do Brasil em locais que ainda não contam com redes de investidores anjos, como Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e outros.

Temos muitos desafios para a realização do potencial empreendedor brasileiro com apoio do investimento anjo. Acreditamos que, com a união de todos em torno do interesse comum do crescimento do empreendedorismo de inovação, poderemos atingir patamares de desenvolvimento antes inimagináveis.

OS BONS DESAFIOS DE UM BRASIL MAIOR


Francilene Procópio Garcia

Professora da Universidade Federal de Campina Grande, diretora geral da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba, secretária executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação da Paraíba e presidente eleita da Anprotec

O Brasil vem se preparando para lidar com as oportunidades e os desafios de uma economia num nível de estabilização sustentável, reconhecida com a elevação do país à categoria de grau de investimento. É visível a melhoria da competitividade nos territórios brasileiros que se movimentam com a parceria de incubadoras de empresas, aceleradoras de negócios, parques ou pólos científicos e tecnológicos. Estes mecanismos, originados ao longo dos últimos 25 anos, caracterizam um dos caminhos para concretizar o apoio à inovação, viabilizando benefícios que contribuem para o desenvolvimento social, econômico, científico e tecnológico.

As iniciativas de parques tecnológicos e incubadoras de empresas apontam resultados inspiradores e desafiadores, conforme relatos apresentados no XIX Workshop da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), realizado em outubro de 2011, em Porto Alegre. Um dos temas foi a sustentabilidade de parques e incubadoras. Em cada canto do Brasil, a exemplo do que ocorreu nas economias mais avançadas, esses ambientes em prol da inovação são organizados em torno de arranjos institucionais e se valem das leis de inovação (federal, estadual e municipal) e afins, de incentivos fiscais, dos instrumentos de apoio e fomento a empresas e centros de PD&I, e da chegada do capital empreendedor. Uma boa aposta no futuro.

Cada um desses ambientes vem avançando na promoção de uma interação maior entre instituições governamentais, centros geradores de conhecimento e o setor produtivo. A aprendizagem e os resultados já alcançados reforçam a importância de se fomentar as condições oportunas ao estímulo da atividade empreendedora e inovadora, de forma a influenciar uma nova geração de serviços, produtos e processos produtivos mais competitivos que chegam ao mercado. O maior desafio continua sendo a adequação dos modelos de gestão para a obtenção de uma operação mais sustentável, em sintonia com o mercado e melhor articulada nas diversas partes do território brasileiro. Rever e aprimorar as políticas públicas e os seus impactos em cada região faz parte da aposta no futuro.

O Brasil está num momento especial. O crescimento da economia alarga as possibilidades e aproxima o investidor privado, o que reforça a necessidade de maior capacitação da gestão, inclusive nos ambientes das incubadoras e dos parques tecnológicos. Explicitar os impactos das ações, nas suas múltiplas dimensões, é um bom desafio. É crescente o número de centros de PD&I de empresas nacionais e transnacionais que se instalam nos parques tecnológicos. No do Rio de Janeiro, por exemplo, é expressivo o conjunto de corporações da cadeia de petróleo, gás natural e energia. Por isso, também é um bom desafio para o Brasil continuar a investir na atração e fixação de novos centros de PD&I e, especialmente, em uma maior articulação com investidores privados, contemplando projetos nas várias regiões do país. Reduzir as desigualdades regionais é outro desafio na caminhada em direção a um Brasil Maior.

Em sintonia com prioridades regionais, nacionais, internacionais e com políticas públicas abrangentes, tais como a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), cabe continuar avançando de forma empreendedora e inovadora em áreas estratégicas, a exemplo dos segmentos de tecnologia limpa, nanotecnologia, biotecnologia, TIC (em especial, em ações com impacto nas áreas de segurança, saúde e educação), energia e agronegócio, entre outras.

A lista de desafios inclui incentivar a maior cooperação entre os ambientes de inovação e as empresas. Precisamos aprimorar a capacidade de articular, integrar e negociar projetos estratégicos, entre parques e incubadoras, racionalizando e fortalecendo as capacidades dos vários territórios no fomento ao empreendedorismo inovador no país. A mensuração de resultados precisa ser aprimorada, de forma a apontar as múltiplas dimensões envolvidas (política, cultural, inclusão social, ambiental, organização e gestão do espaço físico e de recursos) e viabilizar a pactuação de alternativas para eliminação da miséria e a obtenção de melhores condições de crescimento num formato melhor e mais envolvente – nos espaços da inovação.

Fonte: PEGN

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